Dr. Noronha, delegado seccional, comentou que assalto a banco de Mococa será investigado pela Polícia Federal
Na quarta-feira, 21 de abril, foi comemorado o Dia Nacional da Polícia Civil. O Brasil tem menos policiais do que o recomendado por organizações internacionais. O país tem 413.012 policiais civis e militares espalhados por 26 Estados e Distrito Federal – média de 1 para cada 410 habitantes. Para comentar sobre a rotina da profissão e abordar assuntos relacionados a polícia civil da região, o jornal entrevistou Benedito Antônio Noronha Júnior, delegado seccional de Casa Branca, que trabalha na polícia civil há 34 anos, e prestou serviços em São José do Rio Pardo durante 22 anos de sua carreira. Dr. Benedito atende a região como delegado há aproximadamente 28 anos.
Rotina e mudanças no cenário
“É uma satisfação muito grande, tenho um amor por essa polícia, vivo isso no dia a dia. É muito tempo, uma vida dedicada a instituição policial. Nenhum dia na polícia é igual ao outro. Todo dia temos um novo desafio, sempre tem um diferencial”, comentou.
“Quando tivemos o primeiro sequestro em São José do Rio Pardo, para nós foi algo diferente, não víamos esse tipo de situação antes por aqui. Tivemos que aprender a trabalhar com isso. Tínhamos uma cadeia na época na cidade, ela foi fechada e os presos foram transferidos para as penitenciárias, percebemos que a volta desses presos, trouxe para São José e região novas tecnologias de crime, algo diferente do que estávamos acostumados a ver por aqui”, revelou.
Falta divulgação
Durante a entrevista, Dr. Benedito falou sobre o motivo da Polícia Civil não ter tantas mulheres trabalhando na equipe, principalmente na área de investigação.
“Acho que falta divulgação. Lembro que quando eu estava em São José do Rio Pardo, no começo, tínhamos dificuldade de conseguir pessoas nascidas no município, que moravam na cidade, para fazer concurso. As pessoas não queriam fazer o concurso, tinham outras metas, queriam trabalhar nas empresas da cidade, principalmente na Nestlé. Elas não tinham o pensamento de ser um funcionário público, de disputar um concurso. Eram pouquíssimas pessoas residentes em Rio Pardo. Muitas não queriam fazer o concurso porque diziam que o custo de vida era alto, que precisariam mudar para outra cidade, tínhamos essa dificuldade. Com o passar do tempo fomos falando sobre isso, trazendo para a comunidade, e passamos a ter muitas pessoas da cidade fazendo concurso, tanto para a Polícia Militar como Civil. Hoje temos um número maior, bem mais significativo, de pessoas que querem prestar concurso”, declarou.
“No caso das mulheres, falta uma divulgação, a profissão não é uma coisa masculina, precisamos de um ser humano capaz, não importa se é homem ou mulher. É preciso ter capacidade e gostar. Na polícia você precisa gostar muito do que faz, não se tem um horário fixo para trabalhar. Os investigadores sempre estão de prontidão, em alerta. É um trabalho que tem muita adrenalina, é apaixonante, quem entra dificilmente quer sair, porque é um serviço que apaixona. A Florence, investigadora chefe, está fazendo o papel dela, ela está mostrando que as mulheres cabem em qualquer lugar, são tão capazes quanto e muitas vezes até mais do que os homens. É um trabalho que precisa ser divulgado. Estamos muito satisfeitos com o trabalho dela, está tendo um reflexo muito bacana. Basta as mulheres quererem, estaremos divulgando os concursos para que tenham mais mulheres em nossas fileiras”, disse o delegado.
Assalto a banco em Mococa
Há algumas semanas bandidos fortemente armados invadiram o centro de Mococa e explodiram caixas eletrônicos dos bancos Mercantil, Santander e Caixa Econômica Federal, além de danificarem alguns outros estabelecimentos na região. Dr. Benedito falou sobre a ação.
“Foi um crime muito bem articulado. O crime chamou a atenção pela forma que foi praticado, com um grande número de pessoas envolvidas. Foi realmente uma coisa que nos preocupou. Na semana passada, o delegado de Mococa fez um pedido judicial para um diligencia, e justiça entendeu que no caso em questão, o fato deverá ser apurado e prosseguir diretamente pela Justiça Federal. Automaticamente com o fato indo para a Justiça Federal, a investigação também será deslocada pela Polícia Federal, que já tem um inquérito em andamento. Porque como o delito aconteceu contra a Caixa Econômica Federal, segundo a legislação, ele é de competência da Justiça e Polícia Federal. Mas se a Polícia Civil obtiver informações que possam identificar a autoria, vamos atrás. Mas as medidas processuais e prisões eventuais serão analisadas pela Justiça Federal”, explicou.
Interiorização de grandes crimes
O delegado comentou sobre o crescimento de mega-assaltos nas cidades do interior paulista. “Sempre observamos esses tipos de crime com muita preocupação, são cidades pequenas, e sabemos que casos como esse, com essa magnitude, podem resultar em uma troca de tiros e acabar ferindo pessoas que estejam passando pela rua. Sempre vemos isso com muita preocupação”, afirmou.
“Nossa Delegacia Geral está sempre trabalhando no sentido de trazer para as delegacias do interior a melhor condição o possível de enfrentamento, com armamento de boa qualidade, pareado com quem quer que seja, mas acontece que quando não conseguimos antecipar o crime, como esses assaltos, acabamos ficando mais vulneráveis, ainda mais pelo número elevado de criminosos, que estão distribuídos em pontos estratégicos. A polícia tem que agir com cautela para que não aja uma exposição de vidas desnecessária”, comentou.
Menores a serviço do tráfico
Em São José do Rio Pardo, diariamente menores são flagrados vendendo drogas. Eles são abordados por policiais e encaminhados até a Delegacia local, mas após responderem pelo delito, geralmente são liberados e vão embora acompanhados dos pais. Dr. Benedito explicou a situação perante a lei.
“Sempre fica uma frustração por parte dos policiais de não ver o indivíduo detido. O policial que faz a detenção tem um esforço sobremaneira para fazer uma campana, para identificar o menor fazendo tráfico e localizar a droga. Mas temos que acatar a lei. A legislação fala que adolescentes surpreendidos em ato infracional, se esse ato não tiver sido cometido com violência a pessoa ou em grave ameaça, ele será ou poderá ser liberado aos pais ou responsáveis”, informou.
Segundo Dr. Benedito, quando a situação é mais grave e o adolescente é surpreendido com uma quantidade razoável de drogas, ele é encaminhado para a Fundação Casa. “Temos tido uma resposta pronta do Ministério Público e do Poder Judiciário, no sentido de pedir a custódia e ela ser determinada a esses adolescentes. A maioria dos jovens da região, que são pegos nessa situação, estão sendo encaminhados para a Fundação Casa. A DIG (Delegacia de Investigações Gerais) e a Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) têm feito um trabalho nesse sentido em São José do Rio Pardo”, revelou.
“Percebemos que os maiores de idade estão deixando os menores na linha de frente para vender drogas. Porque caso eles sejam detidos, podem sair pela porta da frente na Delegacia. Tenho conversado com os delegados e policiais, no sentido de trazerem o máximo possível de provas para dentro dos autos e manter esse adolescente custodiado”, pontuou.
Operações da polícia civil
As operações da polícia civil são coordenadas pela Seccional, através da Central de Inteligência que prepara as atividades de cada cidade, para evitar desfalques. “É feita uma convocação que é predeterminada pelo local já com todos os mandados de prisão, busca e apreensão, e isso é desencadeado pela Seccional, que coordena toda essa logística para que isso funcione e dê resultados”, declarou.
Déficit de profissionais
“O déficit de policiais civis é alto. Temos duas delegacias em São José do Rio Pardo, a da Mulher e do município. Elas funcionam agrupadas no mesmo prédio mas são duas delegacias distintas, a preocupação é grande, temos um déficit de 50%. Na região toda, temos um déficit de aproximadamente 30%”.
“Temos alguns policiais na academia de polícia, e esperamos que a região receba mais alguns nos próximos meses”, completou.