Carlos Mosconi foi relator da saúde na Assembleia Constituinte e contribuiu com a criação do SUS
No dia 14 de julho o atual secretário municipal da saúde de Poços de Caldas, Carlos Eduardo Venturelli Mosconi, concedeu entrevista para a rádio Difusora FM e Gazeta. Ele falou sobre a situação do turismo na cidade mineira mais visitada por moradores rio-pardenses e dos demais municípios paulistas desta região, antes da pandemia. Revelou que, no início de agosto, em data a ser confirmada (talvez dia 1º), a cidade reabrirá as portas para o turismo, mas de forma gradual.
O médico Carlos Eduardo Venturelli Mosconi é formado em medicina pela Universidade de Brasília, tendo feito residência médica por três anos em nefrologia e urologia na Universidade de São Paulo (USP). Como político, foi deputado federal e presidente da Comissão de Saúde da Câmara Federal. Mesmo sendo parlamentar por Minas Gerais, foi chamado pelo governador José Aparecido para ser secretário estadual de saúde do Distrito Federal, em 1985.
Na Assembleia Constituinte, Mosconi teve um papel importante como relator da saúde, contribuindo para a criação do SUS. Atuou como autor e/ou relator de leis como a dos Transplantes, da Saúde Mental e da Vigilância Sanitária. Ele também é o autor, em sua forma original, da Emenda Constitucional 29, que define mais recursos financeiros para a área da saúde pública brasileira.
Na entrevista concedida esta semana, Mosconi falou inicialmente sobre a influência da pandemia no comércio de Poços de Caldas.
Comércio e Turismo
“Logo no começo, no dia 17 de março, fechamos as atividades comerciais, turísticas, bares, restaurantes, e permaneceram fechadas por 40 dias em Poços. Depois reabrimos no dia 1º de maio, de forma restrita, bares, restaurantes e o comércio. Os hotéis permanecem sem atividade ainda, e as fronteiras também foram fechadas no mês de março e permanecem fechadas até agora. Nós já fizemos aqui mais de 5 mil testes. Temos mais de 300 casos positivos, a grande maioria assintomáticos, a maioria já se recuperou, e tivemos 8 óbitos na cidade. Temos hoje uma ocupação de 19,29% de leitos na UTI. Somos um polo regional de Minas Gerais, então nós atendemos os pacientes que vêm de fora, das cidades vizinhas, que ficam em tratamento em Poços”, explicou.
“Bares, hotéis e restaurantes estão nos propondo que no mês de agosto o turismo seja reaberto gradativamente. O turismo é o coração de Poços de Caldas. A cidade pulsa de acordo com o turismo. O comércio, restaurantes, bares e hotéis vivem em função dele. Foi um baque enorme para a cidade esse fechamento do turismo. Mas tínhamos que faze-lo porque quando começou o problema, começamos a observar que os primeiros casos positivos que tivemos em Poços, eram de poços-caldenses que vieram do exterior. Os demais, a maioria, tinham vindo de São Paulo. Nossa relação com São Paulo é total e absoluta, então decidimos fechar o turismo, para proteger a população da cidade. Agora chegamos no limite, precisamos reabrir ou vamos matar o turismo na cidade. É preciso que tenhamos consciência e sensibilidade”, afirmou o secretário.
Reabertura Gradativa
“Os parâmetros da saúde em Poços também nos autorizam a fazer essa reabertura gradativa. Pensamos em abrir com no máximo 40% do turismo no começo de agosto e dar sequência depois. Só vão entrar as pessoas com o comprovante de reserva do hotel, data de entrada e saída, tudo isso arrumadinho. Para que depois não tenhamos que voltar atrás e fechar, como outras cidades. Queremos fazer essa reabertura com segurança”, declarou.
Criação do SUS
Com um papel importante na criação do Sistema Único de Saúde, Mosconi ressaltou a importância da existência da constituinte.
“Acho que esse foi o voto mais importante da minha carreira política, ter sido relator do SUS. Eu era do PMDB, o nosso líder era o senador Mário Covas. Como eu já tinha ligação com a saúde, fui ser o relator. Queria lembrar que antes do SUS, o Brasil não tinha uma política de saúde, uma programação de saúde para atender sua população”. “As pessoas carentes no Brasil eram denominadas indigentes, porque não tinham sistema de saúde, não tinham direito à saúde, e não havia lei nenhuma que pudesse proteger nossa população mais carente. O SUS mudou esse panorama, foi uma grande vitória. As pessoas que hoje estudam nossa constituição consideram que um dos maiores avanços foi a criação do SUS. Saúde agora é um direito de todos, antigamente não. Além de ser um direito de todos, é um dever do Estado”, reforçou.
“O SUS hoje vem crescendo, apesar de no Brasil tudo ser difícil, as coisas no país são lentas, não mudam de uma hora para outra. Mas o SUS realmente mudou o perfil de saúde da população brasileira. Antes não tínhamos nem saúde preventiva, tínhamos uma mortalidade infantil no Brasil que passava de 80%, era uma tragédia nacional. Com o SUS, essa mortalidade ficou abaixo de 20%, São Paulo e Poços estão abaixo de 10%, então mudou completamente o panorama de saúde do país”, destacou.
“A vida média das pessoas cresceu depois do advento do SUS, porque passamos a exercitar a saúde preventiva. Eu acho que o SUS precisa ser o orgulho da população brasileira, precisamos melhorar muito mais, depois que tivermos o fim dessa pandemia, vamos entender que o SUS precisa de mais recursos, avançar mais, e ter mais estrutura. Estamos observando isso tudo, e acho que os governantes vão ter a chance de fazer uma avaliação real da situação de saúde do país”, opinou.
Pandemia
“Não existe nenhum parâmetro seguro para dizer o que será daqui para frente. Mas no futuro teremos um fator que vai mudar essa questão, que é a vacina, ela será o marco de encerramento da pandemia. Até lá teremos que conviver com ela. Penso que vamos conviver com essa pandemia, talvez em parâmetros mais baixos, a mortalidade vai diminuir, a incidência vai diminuir, porque o vírus vai se espalhando e as pessoas vão adquirir resistência. O índice de positividade é grande, mas esse índice significa que a total maioria é assintomática, a pessoa adquire o vírus, passa a ter o anticorpo, que é o fator de defesa. Essas coisas vão acontecendo naturalmente, então nós vamos conviver com a pandemia, temos que saber conviver com ela. Essa questão da higienização, não podemos nos separar mais dela, veio para ficar. Enquanto não acabar tudo isso, não podemos abrir mão da máscara também”, encerrou.

Carlos Mosconi, atual secretário municipal da saúde de Poços de Caldas, deu entrevista à Difusora e Gazeta