segunda-feira , 25 novembro 2024
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Tatiana Aparecida Tatoni

Elas são apaixonadas pelo fisiculturismo

Em busca de um corpo sarado elas passam horas na academia e enfrentam muitos sacrifícios

Se foi o tempo em que corpo sarado era regra, mas apesar disso, ainda é sonho para muitos. E em busca de realiza-lo, há quem dedica uma vida toda. São os adeptos e praticantes do fisiculturismo.

Para alcançar o objetivo é necessário sacrifício. Muito sacrifício. E não basta ir duas ou três vezes por semana à academia. É preciso muito mais. Quem conta um pouco sobre isso, são duas atletas fisiculturistas de São José do Rio Pardo.

No dia a dia, elas seguem uma alimentação equilibrada, sempre sob os olhares dos nutricionistas. Mas consomem quase de tudo – que é saudável, claro. Até uma pizza vez em quando pode, entretanto, a prioridade são as frutas, legumes, cereais, proteínas, tudo regularmente distribuído em seis refeições diárias. Agora, quando há competição pela frente, a vigilância alimentar é mais severa, para ganhar ou perder massa muscular, controlar o teor de gordura, manter os músculos devidamente definidos. É quando corpo e mente vão ao limite.

E, para quem ia perguntar se é tudo natural, a gente responde: Não! As meninas fazem uso dos chamados Recursos Ergogênicos, que vão desde as técnicas de treinamentos aos suportes nutricionais, farmacológicos ou psicológicos, para melhorar a performance.

Neste rol estão suplementos diversos, incluindo polivitamínicos, whey, creatina, fórmulas manipuladas, o que ajuda a turbinar ou manter as proporções corporais e, claro, a energia que elas precisam para seguir na rotina dos treinamentos.

Transformando o bullying em músculos

Já faz tempo que Juliana Zamai persegue a perfeição do corpo, mas somente há quatro anos entrou de cabeça na prática do fisiculturismo.  Ela conta que, quando adolescente, era magérrima. Do tipo que sofria bullying . À época, praticava judô e descobriu o gosto pela academia quando foi levada aos treinos para ganhar condicionamento físico, nas preparações para as competições. Desde então, não parou mais.

Juliana Zamai

Os anos passaram, o judô ficou para trás, o bullying  também, mas a academia nunca mais saiu da sua vida. Ela formou-se em Educação Física, e também como Técnica de Enfermagem – atividade profissional que exerce, na Santa Casa de São José, conciliando a rotina das jornadas noturnas com os treinos em academia durante o dia.

Juliana diz que levou aproximadamente uns 10 anos para conseguir obter resultados considerados satisfatórios. Nesse tempo, há 5 anos conta com a ajuda de nutricionistas, o que ajudou a melhorar o desempenho.

Ela passa de 2 a 3 horas na academia, de segunda a sexta-feira, além das atividades aeróbicas que completam a carga de exercícios, sete dias por semana. Haja água para hidratação. “Em média são 4 litros por dia, fora das competições. E quando em competição, chega a até 9 litros de água”, explica.

Essa rotina exige um bom investimento. E tal qual o mercado, quem investe quer retorno.

Pensando nisso, há 4 anos Juliana se dedica ao fisiculturismo competitivo. “Não é um esporte barato”, ela diz, destacando que além de academia, treinador, nutricionista e dietas, tem que passar por exames constantes e, quando compete, há outros custos.

Solteira, 41 anos de idade, ela considera que não há limitações para o esporte, mas é preciso seguir as rotinas e manter o foco.

As restrições alimentares (por vontade própria e por força do esporte), além dos treinos pesados nos preparativos para as competições, são os maiores desafios que mexem não apenas com o corpo, mas também com o psicológico. Entretanto, tudo é acompanhado pelo nutricionista Marcelo Feltran e pelo treinador, Rafael Martins.

“A gente sofre, mas dá o resultado esperado. É o nosso esporte. Treinar todo dia é difícil, a dieta é difícil. Deixar de comer o macarrão da mãe no domingo. Sem falar quando a mãe faz aquele bolo e você tem que comer frango. Graças a Deus ela entende e não fica triste”, diz a atleta.

Superadas as dificuldades, Juliana afirma que se sente realizada. “Sempre quis saber como era a preparação de um atleta de alto rendimento, sempre quis subir num palco, exibir os músculos”, conta.

No ano passado, ela participou do Mister Santos – uma das principais competições da modalidade aqui no Brasil, e da etapa Musclecontest Internacional, em Poços de Caldas – que reúne os melhores fisiculturistas em diversas categorias.

Nas competições, tudo tem um custo razoável: inscrição, viagem, hospedagem, fotos, maquiagem, biquíni, sandálias: “Sim, salto alto”, diz ela, que completa: “Não pode perder a feminilidade”. Ainda sobre os investimentos, ela revela: “O custo do biquíni tem o valor de uma joia. Mas no final é gratificante”.

“É um esporte muito mental”

Aos 42 anos de idade, quem também segue no caminho do fisiculturismo é a professora de matemática, Tatiana Aparecida Tatoni. Casada com o também professor Luís Alexandre Chiconello, mãe do Tale, ela pratica atividade física desde os 20 anos.

“Só interrompi meus treinos com o nascimento de meu filho. Acabei ficando três anos sem treinar, só consegui retornar quando meu filho entrou na escola e, desde então, nunca mais parei”, conta.

Ela diz que assistia as competições pela televisão e isso despertou o interesse pela modalidade. “Fui a São Paulo assistir pela primeira vez uma competição de fisiculturismo, o Arnorld South America. Ver aquelas mulheres maravilhosas no palco, meus olhos brilharam e eu pensei: eu quero estar ali”.

Tatiana Aparecida Tatoni

Tatiana também treina cinco vezes na semana, além de fazer exercícios aeróbicos nos sete dias da semana, ou seja, não para nunca. “Meus treinos na academia são intensos, duram em média 2 horas, às vezes até mais”, comenta sobre a rotina coordenada pelo treinador, Bruno Silveira Alves.

A professora diz que o fisiculturismo a tornou uma pessoa mais determinada, autoconfiante, disciplinada, focada, resiliente. “E me ensinou também a ter mais autocontrole e muita força de vontade”. Tudo isso, segundo ela, ajuda a superar o desafio de conciliar a rotina de treinos com a vida familiar, a rotina de casa e do trabalho.

“O fisiculturismo é um esporte muito mental também, de autoconhecimento. Nosso psicológico precisa ser muito bem trabalhado para conseguirmos controlar nosso corpo, as restrições alimentares, treinos desgastantes, tudo isso, de modo a garantir nosso alto desempenho”, completa.

Segundo Tatiana, o esporte ainda é cercado de preconceitos. “O estilo de vida acaba atraindo olhares. Alguns de admiração, outros de julgamento”.

No ano passado, ela competiu no Musclecontest em Poços de Caldas, e obteve bons resultados, conquistando três troféus. “Um sentimento único, emocionante e inexplicável tudo que vivi ali”, disse analisando também os custos do esporte. “As inscrições nesses campeonatos são feitas em dólares e muitas vezes o atleta faz rifas ou vaquinhas pra ajudar a custear esses gastos que são altíssimos”, comenta.

Ela observa, por fim, que é preciso ter limites. “Quando o esporte se torna dependência, o excesso de exercício, aí se enquadra em uma categoria de vício, a qual pode acarretar problemas na vida dessa pessoa. Quando você faz um trabalho orientado para esse fim, é um esporte”.

Para quem pretende ingressar na modalidade, a professora Tatiana dá umas dicas: “Ter disciplina e dedicação é fundamental, pois o trabalho é longo e o processo é tão importante quanto a conquista. Ser firme e resiliente, pois você precisará reproduzir atos diários e por muito tempo até chegar no seu objetivo, ou seja, construir uma rotina para a sua vida”.

Tatiana diz que o fisiculturismo é para todos, mas reforça que não é fácil. “Você tem que estar preparado para uma dieta constante e alimentação regrada, acompanhadas por um nutricionista e treinos desenvolvidos por um treinador, pois treino e dieta são a base para a sua evolução”.

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