Júlia Sartori
Angela começou o trabalho com apenas duas colmeias e atualmente cuida de 20, no Apiário Cafundó
São José do Rio Pardo é uma cidade rica no setor agrícola. Desde sua fundação, o município sempre foi berço para o plantio de vários produtos e já se destacou nacionalmente no setor. Uma categoria de extrema importância, que viveu tempos áureos e voltou a ganhar espaço na região, é a apicultura. Em comparação a outras atividades do setor agro, a apicultura auxilia na proteção de biomas pela ausência da necessidade de desmatamento. Sendo assim, pode ser exercida em áreas de preservação ou em conjunto com outros meios de cultivo vegetal e animal. Além disso, essa atividade contribui com a polinização, ajudando a preservar o meio ambiente e sua biodiversidade.
Angela Maria Fernandes Franco de Camargo, rio-pardense, 59 anos, é apicultora desde 2017 e cuida do próprio negócio, o Apiário Cafundó, localizado na Rodovia Germinal Feijó, zona rural da cidade. Ela falou à Gazeta essa semana para contar sobre seu amor pela apicultura.
O interesse pelas abelhas começou com a própria mãe, que cultivava colmeias. “O sonho de ser apicultora vem desde a minha mãe, que adorava as abelhas e tinha uma criação. Certo dia, um enxame de abelhas africanas atacou as colmeias dela e ela acabou colocando fogo em tudo”, relembrou.
Quando o ex-marido de Angela faleceu, ela e os filhos foram morar na fazenda da família, onde havia duas colmeias de abelha, pertencentes a um antigo funcionário do local. “Ninguém tinha mexido nelas. Veio então meu sobrinho, de Jacareí, junto com o sogro dele, que vende mel e sugeriu para colocarmos as colmeias em uma caixa. Eu tinha um pouco de receio, amo a natureza, mas tinha medo das picadas. Ele trouxe roupas próprias e nós colocamos os dois enxames nas caixas. Depois minha filha descobriu o curso de apicultura no Senar. Ela me matriculou e eu comecei a fazer. Faço esse curso desde 2017. Me encantei pela profissão, pelos cuidados que unem a natureza. Além de cuidar das abelhas, eu planto muitas flores e árvores”, contou.

Na propriedade são criadas abelhas da espécie Apis melífera, conhecida como abelha europeia. E também há algumas Meliponas (sem ferrão).
Angela se atualiza participando de cursos de apicultura anualmente. “Todo ano eu faço um módulo diferente do curso. Existem muitos abelheiros que vão lá no mato, só tiram o mel, vendem e às vezes matam as abelhas, colocam fogo. Os apicultores cuidam. Eu coloco nas caixinhas, tem o padrão certinho. Só retiro o mel das melgueiras. O que fica no ninho deixo para elas consumirem”, explicou.
Os filhos Aline e Ary ajudam Angela no Apiário, assim como o colaborador Djair, que a acompanha nos cursos. “Meu funcionário e meu filho me ajudam a coletar, as caixas são muito pesadas, nunca vou sozinha. Faço revisão a cada 15 dias, vou lá para olhar se está tudo em ordem”, diz, explicando que essa visita às colmeias ajuda na locomoção da rainha. “Às vezes quando os quadros estão muito velhinhos, o alvéolo diminui e ela não consegue fazer costura, por isso é importante repor sempre os quadros”, informou.
“O universo das abelhas é lindo. Muito interessante, me apaixonei”, disse.
Produção vem crescendo desde 2017
Atualmente, a profissional cuida de 20 colmeias em seu apiário. Ela informou que é possível aumentar os enxames, que dentro de um ninho, é possível fazer vários.
“As abelhas produzem mel duas vezes por ano. É possível tirar em agosto, setembro, até em novembro. Em abril é possível fazer mais uma colheita e no fim do ano elas dão um tempo. No inverno deixamos o mel só para elas consumirem”, revelou.
Na estação mais fria, os cuidados com as abelhas são indispensáveis. Angela explicou que coloca telhado nas caixas, protege os alvados e deixa apenas pequenos buracos para que as abelhas entrem e saiam e que o frio não as atinja. “Quando o frio chega, elas ficam quietinhas e juntinhas para se esquentarem, já no calor elas ficam batendo asas para diminuir a temperatura da caixa”, explicou.
A apicultora comentou que prepara o espaço para a chegada da estiagem, fazendo aceiros para que suas colmeias não peguem fogo, como aconteceu em várias cidades da região em 2020.
“Onde tenho o apiário, é uma nascente, tem estrada, então as abelhas aqui estão bem protegidas. Muitos apicultores tiveram problemas com agrotóxicos também, mas graças a Deus eu não tive. Meu apiário tem muita barreira verde, então o agrotóxico não chega aqui”, contou.
Diversificação do uso do mel e projeto de turismo
Angela retira 14 quilos de mel de cada melgueira. “Vendo o mel envasado, que eu mesma filtro na peneira. Não uso maquinário. É tudo artesanal. As máquinas são caras e ainda não consegui meu espaço para trabalhar, mas sonho com isso. É o que espero que aconteça daqui para frente. Estou desde 2017. Comecei com duas colmeias e agora já estou com 20. Quero crescer mais, vender para poder fazer essas melhorias”, planeja.
A apicultora comercializa mel envasado, favo e própolis. As vendas são destinadas a consumidores finais. Mas, além dos produtos naturalmente oriundos das abelhas, Angela resolveu investir em outros atrativos.
Ela aproveita a produção para fazer vários tipos de geleias. Para isso, utiliza ainda as frutas que planta na própria fazenda.
“O que eu tenho, eu vendo, às vezes fica até em falta. Vou fazer a revisão das melgueiras para eu tirar um pouco de mel e ter no inverno”.
O negócio, segundo ela, pode ser um propulsor para outro projeto na propriedade, de turismo baseado na apicultura, para que as pessoas conheçam seu apiário. No entanto, observa que é preciso investimento. “Tenho muitos projetos na cabeça, espero crescer e conseguir colocar todos em prática”.
Angela recebe pedidos pelo WhatsApp (19) 99306-5672.