Iniciativa visa oferecer um Ensino Médio de qualidade aos adolescentes rio-pardenses
O projeto ‘Rodha’, que foi inaugurado no ano de 2018, tem como objetivo custear o ensino de melhores alunos indicados pelas escolas públicas, para cursarem o Ensino Médio em escolas particulares da cidade, para que consigam prestar vestibular possuindo o conhecimento necessário para ingressar nas melhores universidades do Brasil.
Idealizado pelo médico Rafael Souza, e o empresário Mário Salvador, conta com doações de pessoas da cidade e também com o apoio dos empresários Rafael Policiano e Moisés Teixeira na gestão cotidiana.
O processo de escolha para decidir quais alunos serão beneficiados pelo Rodha, é feito por meio de uma prova, que é aplicada com algumas questões de múltipla escolha e uma redação. Os alunos indicados para participar do processo seletivo, cursam o 9º ano do Ensino Fundamental em escolas públicas da cidade.
A primeira aluna, que fez parte do projeto piloto, foi Giovana Aparecida Gravinez Alfredo, de 16 anos, ex aluna da escola Stella Maris, conhecida como CAIC.
“Ela foi indicada como uma aluna com potencial para estudar em escola particular. Foi nosso projeto piloto, e deu muito certo. A Giovana saiu do Ensino Fundamental, e foi estudar o Ensino Médio no colégio Santa Inês. O objetivo é que ela possa estar preparada, que ela tenha um ensino de qualidade para prestar vestibular, que ela esteja competitiva com outros alunos de escolas particulares”, explica Rafael Policiano, membro do projeto.
“Obviamente ela teve dificuldades de adaptação, tinha uma dificuldade pra aprender porque estava em um nível muito abaixo dos alunos da escola particular, mas oferecemos ajuda, um professor complementar, demos estrutura psicológica, conversamos muito com ela, a escola Santa Inês abraçou muito o projeto, ela estudou durante o ano todo na nova escola, e se saiu bem. Ela está indo para o segundo ano do Ensino Médio, e continuaremos custeando os estudos dela”, destaca.
“Como o projeto deu muito certo com ela, decidimos ampliar. Fizemos uma seleção onde oito escolas da cidade, escolheram alunos do 9º ano que tinham as melhores notas, para prestar uma prova que foi aplicada por pessoas que não conheciam os alunos, para ser uma coisa isenta. Os três melhores alunos dessa prova, vão estudar em escolas particulares. Eles serão divididos entre as escolas parceiras do projeto: Santa Inês, COC, Lúmen e Unigrau”, explica Rafael.
Oportunidade
“Fizemos uma reunião com os pais desses alunos, e em um momento, uma mãe nos perguntou porque estávamos fazendo isso, e quem éramos nós. Ela disse que quando a esmola é demais, o santo desconfia. Na verdade o que queremos passar com esse projeto, é exatamente a ideia do nome ‘Rodha’: reunindo oportunidades, envolvendo habilidades. Queremos dar a esses adolescentes a mesma oportunidade que tivemos, de ter um estudo de qualidade, que eles tenham condições de passar nas melhores universidades, e que se tornem profissionais capazes de em algum momento no futuro, financiar o projeto. Essa é a única coisa que pedimos em troca, que quando eles forem empresários, médicos, doutores, que eles ajudem novas pessoas, para que essa roda de oportunidades continue”, comenta Mário Salvador.
“Sabemos que existe um déficit de aprendizado na escola pública, então estamos dando para os alunos a oportunidade de estudar em escolas particulares, custeados pelo Rodha, para que no fim do terceiro colégio, sejam capazes de passar em um vestibular como qualquer aluno que estudou em escola particular a vida toda”, acrescenta.
Custos
“O Rodha paga a mensalidade, material, uniforme, professor particular se for preciso, apoio psicológico, durante todo o ano letivo. Os três anos do Ensino Médio são custeados pelo projeto”, diz Mário.
Segundo os representantes, as escolas particulares oferecem um desconto na mensalidade dos alunos que participam do Rodha, o que facilita o custo para manter os adolescentes.
Um futuro melhor
“As pessoas por trás do projeto não tem nenhuma intenção política, não queremos nem estar à frente do Rodha. Queremos que ele seja o foco. Queremos que as pessoas saibam sobre as oportunidades que ele oferece. Já ouvimos de uma mãe que ela ia sair de São José com o filho de 15 anos, porque aqui ele não teria acesso a uma boa educação como ele necessitava, e o projeto deu esse acesso a ele. As pessoas enxergam isso como uma entrada para um futuro melhor para seus filhos, e nós também”, diz Moisés Teixeira.
Colaboração
“Contamos com a ajuda de diversos doadores da cidade. Empresários, advogados, pessoas que querem um futuro melhor para a cidade. Mas ainda precisamos de recursos para custear os gastos durante os três anos de Ensino Médio. É preciso ampliar o conhecimento sobre esse projeto para que as pessoas possam ajudar. Toda doação é bem-vinda. Criamos uma ONG, vamos ter que prestar contas e bancar quatro alunos com mensalidade, material, entre outras coisas, então precisamos de colaboração”, prossegue Moisés.
Incentivo
“O fato de termos colocado três alunos esse ano nas escolas particulares, será um incentivador para os outros que estão no 6º,7º,8º ano, para que se preparem cada vez mais para estarem aptos a prestar a prova e quem sabe conseguir vaga nos próximos anos. Porque o projeto não vai parar, queremos que ele seja ampliado para ajudar mais adolescentes”, encerra Rafael Souza.
Alunos
Giovana Aparecida Gravinez Alfredo, 16 anos, está indo para o segundo ano do Ensino Médio no colégio Santa Inês.
“Fiz o primeiro ano na Santa Inês graças ao projeto Rodha, junto com minha antiga escola, que me escolheu para ser a pioneira do projeto, e eu sou muito grata a eles por isso, porque foi uma oportunidade única na minha vida. Jamais esperaria por isso. Desde pequenininha eu falava que queria ir embora da cidade, para poder fazer uma faculdade federal, sempre foi meu sonho. Com a ajuda do projeto, esse sonho está bem mais próximo”, conta.
“Eles querem realmente que briguemos lado a lado. A escola que estou é excelente e tenho certeza que vou conseguir passar em uma Universidade Federal e continuar meu sonho. Fiquei muito feliz pela minha antiga escola ter me escolhido, porque estudei lá desde pequenininha, desde o primeiro ano do Ensino Fundamental I, até o 9º ano. Sou praticamente filha do CAIC. Eu gostava de estudar lá, sempre fui muito esforçada, tinha notas boas, procurava crescer. Nunca tive reprovações. Eu sabia o que eu queria e estava indo em direção ao meu sonho”, continua Giovana.
“Até antes de saber do Rodha eu ia prestar Vestibulinho para a Etec, mas aí surgiu a ideia do projeto, e era exatamente o que eu queria e precisava. Foi mágico, desde o primeiro momento que cheguei na escola, conversei com a irmã Aparecida, ela me recebeu muito bem. No primeiro dia de aula ela me levou até os alunos, que foram super acolhedores, todos foram muito bons comigo”, agradece.
“No primeiro trimestre a adaptação foi muito difícil. Na minha opinião foi quando eu mais sofri. Era uma realidade totalmente diferente da que eu tinha. Na antiga escola eu prestava atenção na aula, e não precisava estudar muito para ir bem. Mas na Santa Inês é diferente. É muita coisa, não é apenas prestar atenção na aula. Já haviam me avisado que eu precisaria ter uma rotina de estudos”, informa.
“Eu não sabia muito bem como deveria estudar, então foi bem difícil a adaptação. No começo eu não conseguia atingir a média 7. Mas aí minha amiga, a Flora, me chamava para ir na casa dela estudar, com isso consegui recuperar, e daí pra frente foi um sucesso. Mesmo assim tenho dificuldade com a área de exatas, mas vou continuar evoluindo”, promete.
“Ter sido escolhida para ser a pioneira foi uma responsabilidade muito grande que eu coloquei sobre mim. Toda a evolução do Rodha dependia de mim. Graças a Deus deu tudo certo, consegui passar de ano, mas agora em 2020 vou buscar ser melhor do que eu fui”, ressalta.
“Uma das coisas boas, são as atividades extracurriculares que eles oferecem, como o curso de inglês que eu faço. Eu sou apaixonada pelo idioma, gosto muito. Infelizmente na escola pública inglês é uma matéria que temos de maneira muito enxuta. Quando entrei no colégio Santa Inês eles já eram bem mais avançados no inglês, então fiquei perdida. O curso me ajuda muito com isso. Não sei o que seria da minha vida hoje sem o projeto”, declara.
“Sempre gostei da área da saúde, e pretendo fazer algo relacionado a isso. Medicina, nutrição, ainda preciso me decidir, mas será um desses cursos. Pretendo prestar vestibular para a Unicamp, que é meu sonho estudar lá, prestar para USP, mas também tenho vontade de ir para a UFRGS, do Rio Grande do Sul”, conclui.
Lígia Garcia Ribeiro de Arruda, coordenadora pedagógica do Ensino Médio contou para o jornal como foi receber Giovana.
“Desde o princípio, quando a Giovana ficou sabendo que viria para cá, ela ficou super ansiosa, veio conhecer a escola, nós apresentamos, e como ela é uma menina muito doce, extrovertida, nos demos bem logo de cara. Aqui no colégio Santa Inês, não visamos apenas o pedagógico, mas também a parte humana. A acolhemos muito bem, e logo de início ela já se enturmou, fez amizades. Ela não teve dificuldade nenhuma em relação ao entrar em uma turma nova. Achei que ela se deu super bem nessa parte do entrosamento. Nunca iriamos julgá-la por ser de escola pública, recebemos vários alunos que vieram de escolas públicas, nos demos muito bem”, recorda. “Dois responsáveis do Rodha vieram procurar a escola, conversaram com a diretora para saber se o colégio abraçaria a causa, porque não é somente pagar a escola, conseguimos um desconto para eles na mensalidade. A Irmã Aparecida orientou os representantes do projeto para que escolhessem um aluno que realmente tivesse vontade de estudar, e que a família estivesse engajada, porque eles também teriam que abraçar a causa. Particularmente eu gosto muito de todas as ações sociais, o Brasil tem muita desigualdade e se nós não fizermos a diferença, nada vai mudar. Eu acredito muito nesse projeto, eu vejo a Giovana, a capacidade dela, e que talvez ela não tivesse condições de estudar em uma escola particular pelas condições financeiras. Ela tem capacidade, muita vontade, então ela merece essa oportunidade. Gosto muito do projeto, acho que ele tem que expandir cada vez mais, espero que tenha muito sucesso. Torço para que mais empresários de São José ajudem. Sabemos que aqui na cidade muitas pessoas tem um potencial financeiro, e é muito justo poder dividir e compartilhar o que se tem com os outros”, diz Lígia.
Ana Paula Gravinez Alfredo, mãe de Giovana deu seu depoimento.
“O dia que ficamos sabendo que ela havia sido contemplada com a bolsa, ficamos muito felizes. Nem conseguimos acreditar. Era uma benção muito grande em nossa vida. Desde quando ela tinha uns 6 aninhos, já falava que queria fazer faculdade. Ela sempre foi muito inteligente, dedicada, e participativa na escola. Quando recebemos a notícia, vimos que era a grande oportunidade da vida dela. Ficou muito ansiosa antes de entrar na escola nova, mas depois ela começou a se adaptar logo de início. Ela é muito comunicativa, e isso a ajudou bastante. No começo ela teve um pouco de dificuldade, mas conseguiu se adaptar a isso. O colégio foi muito acolhedor com ela, a ajudaram muito com suas dificuldades. Nossa expectativa para o futuro, é que ela consiga entrar na faculdade que tanto deseja, e realizar o sonho dela de trabalhar na área da saúde. Que no futuro ela seja uma excelente profissional, e consiga retribuir tudo o que o Rodha fez por ela”.
João Gabriel de Faria, de 14 anos, conseguiu ingressar por meio do projeto na escola Unigrau. Sua mãe, Esmerinda de Fátima Malaquias, deu um depoimento ao jornal.
“Quando o João ficou sabendo que foi escolhido pela escola João Gabriel Ribeiro, pra fazer a prova, ficou contente, mas ainda não sabia do teor de tudo isso. Ele ficou apreensivo. Eles fizeram a prova dia 9 de dezembro, e ele foi fazer com um pouco de incerteza, porque não sabia do que se tratava. O resultado da prova ainda não tinha saído, então ele foi fazer a prova da Etec no dia 15, e antes dele sair, olhou no celular e viu a mensagem de aprovação. Mesmo assim ele fez a prova da Etec, voltou pra casa e ficou aguardando o pessoal do projeto entrar em contato com ele. Recebi a ligação do Dr. Rafael marcando uma reunião para falar sobre o Rodha. Até então não sabíamos nada do que ia acontecer. Só sabíamos que ele tinha sido aprovado”, relembra.
“No decorrer da reunião que tivemos com os membros do projeto, ficamos meio que anestesiados com tudo o que eles nos falaram. Ficava me perguntando se era verdade tudo isso. Graças a Deus é verdade, é um projeto confiável, uma ONG com pessoas muito prestativas. Eles nos explicaram tudo, como funciona o projeto, e o que esperam dos alunos. Ficamos muito felizes. Ele foi escolhido para estudar no Unigrau”, diz Esmerinda.
“Eu como mãe fiquei imensamente feliz e grata a Deus pelos criadores da ONG, porque o João Gabriel foi alfabetizado em escola pública, a escola Dr. João Gabriel Ribeiro foi o segundo lar do meu filho. Ele se alfabetizou na Loreto, mas depois já foi para a escola Dr. João Gabriel Ribeiro e ficou lá até o 9º ano”.
“Ele sempre gostou muito da escola, sempre fez o possível para estar ali, nunca quis sair de lá. Mesmo quando tivemos que morar em lugares distantes da escola, ele falava que mesmo que fosse pra ele ir a pé, ele gostaria de continuar no João Gabriel Ribeiro. Agradeço muito ao empenho da escola, porque foi como uma segunda mãe pra ele”, conta a mãe.
“Quanto ao futuro dele, é questão de empenho. Ele precisa se dedicar, plantar a sementinha para ser colhida no futuro. Ele está tendo a oportunidade de ter uma escola de qualidade, que foi escolhida para ele, então ele precisa se empenhar por isso. Só dependerá dele. Agradeço a todos os membros da escola Dr. João Gabriel Ribeiro, e espero poder ir em breve agradecer todos pessoalmente pela indicação do meu filho”, celebra.
Por Júlia Sartori