No domingo (24), foi celebrado o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. A Organização Americana de Saúde (OPAS) traçou metas para a erradicação da doença nas Américas e, de acordo com um relatório produzido pela própria, ainda há muito a ser feito para chegar nela.
Apesar dos grandes avanços da medicina, falta muito para erradicar o mal por completo no Brasil, no continente e no mundo. Confira abaixo, para sua consideração e possível publicação, o artigo sobre o assunto escrito por Milton Monteiro, enfermeiro do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) no HSANP, centro hospitalar na Zona Norte de São Paulo.
A mera menção da tuberculose por si só já traz calafrios aos mais velhos. A doença já causou preocupações públicas ao redor do mundo, como na França no início do século XX: por volta de 1918, uma em cada seis mortes no país era causada pelo transtorno. Causada por uma bactéria, a Myctobacterium tuberculosis, ela é caracterizada por tosses agudas, cansaços excessivos, falta de ar, febre baixa, fraqueza, sudorese noturna e, em casos mais graves, até colapso do pulmão e acúmulo de pus na pleura.
Transmitida de forma direta, de pessoa a pessoa, por vias pulmonárias, a tuberculose é de fato uma doença agressiva, sorrateira e perigosa. Ainda assim, é verdade que não há mais causas para o mesmo alarme do início do século passado. Avanços na medicina e pesquisa nos proporcionaram o milagre dos antibióticos, que hoje bastam para combater a tuberculose.
Porém, ainda falta muito para erradicar a tuberculose de uma vez por todas das Américas. Um relatório da Organização Americana da Saúde (OPAS), por exemplo, mostrou que, desde 2015, as mortes em razão do transtorno diminuíram, em média, 2,5% ao ano, enquanto os novos casos caíram 1,6%. Os números podem parecer positivos, entretanto, um exame mais profundo aponta exatamente o contrário.
De acordo com a própria OPAS, era necessário que estes números estivessem na casa dos 12% e 8%, respectivamente, para que o continente atingisse as metas intermediárias para 2020 e continuasse em declínio até 2030. O relatório ainda observa que mais de 50 mil pessoas em todas as Américas, quase metade delas com menos de 15 anos de idade, não foram tratadas ou sequer sabem que têm a doença. E mais: em 2018, essa lacuna de diagnóstico aumentou, em comparação com 2016, em 3 mil casos.
Mais notícias ruins: o teste de diagnóstico rápido, uma nova ferramenta que poderia ajudar a reduzir a diferença nos casos não-diagnosticados, foi usado em apenas 13% dos casos confirmados, um pouco acima dos 9% em 2016. A meta de cura também está abaixo do esperado: 75% dos casos são vencidos, enquanto a meta até 2030 é de 90%. Por fim, há também a séria ameaça da tuberculose multirresistente, que afeta cerca de 11 mil pessoas nas Américas. A taxa de cura para este tipo da doença é de apenas 56%.
A melhor forma de remediar continua sendo a prevenção. Por isso, é importantíssimo que pais imunizem as crianças recém-nascidas com a vacina BCG o quanto antes. As únicas exceções são para casos extremos, de crianças que já nascem soropositivas. Além disso, é importante evitar a todo custo o contato com pessoas contaminadas ou sequer utilizar objetos contaminados. Com a prevenção correta, podemos juntos alcançar as metas de erradicação da tuberculose.
*Milton Monteiro é enfermeiro do HSANP, centro hospitalar na Zona Norte de São Paulo, e atua no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH).