Crescimento da doença em pessoas jovens verificado nos últimos 10 anos apontou para o HPV
A médica e cirurgiã Sandra Daud: prevenção ainda é a atitude mais indicada
O mês de julho terminou e nele foi comemorado o “Julho Verde”, época em que órgãos de saúde de todo o país tentam conscientizar a população acerca dos cânceres de cabeça e pescoço. Na última década ocorreu um aumento significativo desses cânceres no mundo todo e isso também tem ocorrido em São José do Rio Pardo e região. As estatísticas indicam que em 71% dos casos diagnosticados no Brasil, a doença já está avançada, tendo crescido muito nos últimos anos por conta de sexo oral e contaminação pelo vírus HPV, principalmente em jovens.
A médica e cirurgiã Sandra Daud, uma das poucas especialistas nesse tipo de cirurgia na região (assim como o médico otorrinolaringologista Hamilton Torres), diz que as causas principais de cânceres em cabeça e pescoço continuam sendo o fumo e o álcool. No entanto, segundo explicou, o crescimento da doença em pessoas jovens verificado nos últimos 10 anos apontou para o HPV (sigla inglesa que significa Vírus do Papiloma Humano) como outra causa principal.
“O HPV é um vírus que é transmitido principalmente pela relação sexual, pelo sexo oral, com múltiplos parceiros”, lembrou a médica. Ela recorda que, até há pouco tempo, só se falava em HPV em colo de útero, causando câncer de útero nas mulheres, e em pênis nos homens, causando câncer de pênis. “Mas ele dá câncer também na cavidade oral, na laringe, pelo sexo oral também. E o HPV, quando pega na cavidade oral, causa um tumor extremamente agressivo”, alertou.
Sandra cita uma estimativa: em 2016 devem ter surgido 41 mil novos casos de câncer de boca no Brasil, fora outros cânceres situados na cabeça ou no pescoço (traqueia, língua, laringe, faringe). “É o segundo câncer mais comum em homens, enquanto nas mulheres vem crescendo muito o câncer de tireoide, que pulou do décimo lugar para quinto lugar na incidência dos mais comuns.”
A cirurgiã ressalta, entretanto, que o câncer de pele é atualmente o mais comum em todo o mundo, pelo excesso de exposição do rosto ao sol. Neste e nos demais casos da doença citados anteriormente, Sandra diz que o mais importante é o diagnóstico precoce, que sempre oferece uma chance muito maior de cura. “Se for diagnosticado tardiamente, o índice de cura cai drasticamente e as sequelas se tornam muito graves, reduzindo bastante a qualidade de vida do doente.”
Foco na prevenção
O foco dos especialistas no Julho Verde, segundo a médica, foi a prevenção. Ela dá então uma dica importante: qualquer ferida na boca que demore mais do que 15 dias para sarar deve motivar a pessoa a procurar um médico. Também qualquer rouquidão que também demore mais do que 15 dias deve ser avaliada por um médico, para exame na laringe. “Não espere a lesão se estender porque isso reduz a possibilidade de cura.”
Na região da cabeça, Sandra reitera que qualquer ferida que apareça nas cavidades e que demore a cicatrizar pode se tornar câncer. O surgimento de íngua no pescoço, definido como linfonodo pela medicina, semelhante a um pequeno caroço persistente por vários dias sem que a pessoa esteja com gripe ou virose, também deve ser averiguado por um especialista porque pode indicar um tumor.
“O tratamento cirúrgico acaba sendo a melhor opção quando a lesão é inicial, pela menor sequela que esse tratamento pode dar. Quando o tumor está mais avançado, infelizmente a gente já opta pelo tratamento com quimio e radioterapia por causa da sequela da cirurgia. Tanto a quimio quanto a radio deixam sequelas também, mas uma cirurgia numa região grande de língua é extremamente mutilante, acaba com a vida do paciente. Casos assim a gente prefere indicar a quimio e a radioterapia”, explicou.
Sandra comenta ainda que os cânceres de cabeça e pescoço só doem quando já estão avançados. Nas fases iniciais, quando ainda são apenas tumores, não apresentam dores e sim feridas, rouquidão ou íngua no pescoço. Por isso ela recomenda aos fumantes, aos que ingerem bebida alcoólica, aos que se expõem demais ao sol e aos que têm relação sexual desprotegida que procurem um médico.
Fonte: Gazeta do Rio Pardo