Solenidade de Corpus Christi
‘Glorifica o Senhor, Jerusalém, celebra o teu Deus, ó Sião!’ (Sl 147/148)
Celebramos, na quinta-feira, dia 8 de junho, a Solenidade de Corpus Christi, ou seja, rendemos graças a Deus por Jesus Cristo se fazer alimento e vir a nós. Nesse dia, é festa da Igreja e celebramos a razão de ser da Igreja, pois sem Eucaristia não há Igreja. A Solenidade de Corpus Christi acontece 60 dias após a Quinta-Feira Santa, que é o dia que a Igreja celebra a instituição da Eucaristia. Ambas as festas estão intimamente ligadas.
A Solenidade de Corpus Christi é uma das três solenidades que ocorrem dentro do tempo comum: a primeira é a Santíssima Trindade, celebrada no domingo anterior, a segunda é Corpus Christi, e a terceira é a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que celebraremos na sexta-feira seguinte.
Normalmente, na Solenidade de Corpus Christi, as paróquias enfeitam as ruas no entorno da paróquia, ou a própria Igreja, com tapetes coloridos. Ao final da celebração, o ostensório com o Jesus Eucarístico passará sobre o tapete. Por isso, a Solenidade de Corpus Christi é uma festa para a Igreja, pois celebramos um Deus “vivo”, que morreu e ressuscitou por nós.
Jesus nos deixou como memorial o seu Corpo e Sangue e disse que todas as vezes que repartíssemos o pão e o vinho deveríamos fazer em memória d’Ele. O alimento que Ele nos dá, que é seu Corpo e Sangue, nos garante a vida eterna. É o único alimento que nos sacia de verdade e não sentiremos mais fome e nem sede. Como diz um cântico da Igreja: “A Eucaristia faz a Igreja” e a Igreja existe por causa dela. Rezemos, também, nessa missa para que não faltem sacerdotes que possam consagrar a Eucaristia todos os dias. Rezemos pelas vocações sacerdotais e religiosas e que todos os padres possam perseverar em seu chamado.
Devido à Solenidade de Corpus Christi, toda quinta-feira ao longo do ano é votiva ao Corpo e Sangue do Senhor, ou seja, ao longo da quinta-feira, as paróquias podem promover momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento, e, no tempo comum durante o ano, a missa é celebrada em memória votiva à Santíssima Eucaristia. Por isso, a Solenidade de Corpus Christi é sempre celebrada na quinta-feira, pois é o dia por excelência dedicado à Eucaristia e acontece 60 dias após a instituição da Eucaristia.
A primeira leitura dessa solenidade é do livro do Deuteronômio (Dt 8,2-3.14b-16a). O livro do Deuteronômio é, por excelência, o livro da lei. Moisés diz para o povo lembrar-se de que foi o Senhor que os libertou da terra do Egito e caminhou com eles durante todo o período do deserto até adentrarem a terra prometida. O Senhor ia à frente deles na arca e o povo podia recorrer ao Senhor nos momentos difíceis. O povo ainda deveria lembrar-se que o Senhor fez sair água da pedra e alimentou o povo com o maná, o pão que caiu do céu. Nos dias de hoje, esse maná é a Eucaristia. Quem come desse pão viverá eternamente, por isso, do mesmo modo que Moisés exorta o povo de Deus, sejamos gratos ao Senhor por tudo de bom que Ele nos concede.
O Salmo responsorial é o 147 (148), que diz em seu refrão: “Glorifica o Senhor, Jerusalém, celebra o teu Deus, ó Sião!” Do mesmo modo que o povo de Jerusalém, cada um de nós deve sempre glorificar ao Senhor, pois a sua misericórdia se estende de geração em geração. Devemos glorificar o Senhor por nos ter dado o presente da “Eucaristia”, que nos alimenta e nos garante a vida eterna.
A segunda leitura é da primeira carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 10,16-17). O cálice que é abençoado e o pão que é consagrado é a comunhão com o Corpo e Sangue do Senhor. Fazemos parte do corpo místico de Cristo, e ao comungarmos do Corpo e Sangue de Cristo somos convidados a partilhar o pão com os demais membros da comunidade. Cristo é a cabeça da Igreja e nós somos os membros, e ao comungarmos de seu Corpo e Sangue, entramos em plena comunhão com Ele.
Nessa Solenidade de Corpus Christi tem a sequência, após a segunda leitura, texto que ocorre nas grandes solenidades. A sequência é uma forma de agradecer a Deus tão grande dádiva e uma oportunidade de agradecer a Deus por termos a Eucaristia.
O Evangelho dessa solenidade é segundo João (Jo 6, 51 -58). Nesse capítulo sexto de João é o conhecido discurso sobre o pão da vida. Jesus afirma que Ele é pão vivo que desceu do céu, e quem comer do pão que Ele dá, viverá eternamente. Diferente do maná que o povo comeu no deserto, pois comeram e depois morreram. De fato, para entrar no reino dos céus é necessário comungar do Corpo e do Sangue de Jesus, e isso os judeus não eram capazes de compreender. Eles não entendiam que era necessário que Jesus passasse pelo suplício da cruz e selasse de uma vez por todas a aliança entre Deus e a Humanidade.
Jesus, ao realizar a última ceia, institui a Eucaristia, e todas as vezes que acontece a consagração na missa, fazemos memória desse gesto de Jesus. Após a última ceia, acontece a prisão e a condenação de Jesus, e posterior morte de Cruz. Jesus não fica morto na cruz, mas ressuscita para a vida eterna, do mesmo modo que cada um de nós ressuscitará um dia. Jesus realiza a última ceia para que a sua memória se perpetuasse e para que mais facilmente buscássemos a salvação por meio da comunhão com o seu Corpo e Sangue.
Para comungarmos do Corpo e Sangue de Jesus é necessário estarmos devidamente preparados, ou seja, com a nossa confissão sacramental em dia e com a nossa vida de fé em ordem, para não acontecer, como diz São Paulo, de estarmos comungando a nossa própria condenação, mas pelo contrário, a Eucaristia deve ser antes de tudo a nossa salvação.
Vivamos em plena comunhão de amor com os demais irmãos de comunidade, pois se comungamos do Corpo e Sangue do Senhor, devemos viver em comunhão com os demais membros da comunidade. Desejemos sempre comungar do Corpo e Sangue de Jesus aqui na terra, para sermos merecedores da salvação eterna. Amém.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ