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Dr. Ray Alves dos Santos ( Imagem de arquivo)

Pandemia causou atraso em diagnósticos de câncer

E várias mortes, cuja causa foi atribuída à Covid, foram provocadas pelo câncer, assegura dr. Ray Alves dos Santos

Quase 10 milhões de pessoas morrem por ano no mundo por causa de diversos tipos de câncer. No Brasil, essa estatística já alcançou um patamar de mais de 280 mil óbitos anuais. O tumor de mama feminino ultrapassou o de pulmão e, em 2020, foi o mais incidente em 159 de 185 países, inclusive no Brasil, com mais de 2,26 milhões de casos novos, segundo o que foi divulgado em um relatório da Sociedade Norte-Americana de Câncer (ACS) e pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (Iarc).

No dia 4 de fevereiro, Dia Mundial do Câncer, o mastologista Ray Alves dos Santos falou sobre essa doença multifatorial, que atinge milhares de pessoas em todo o mundo. O médico falou especificamente do câncer de mama, sua especialidade.

Pandemia atrasa diagnóstico

Segundo Dr. Ray, o pedido para as pessoas ficarem em casa durante a pandemia, de certa maneira, acabou atrasando muito o diagnóstico do câncer. “Houve um retardo, o que já era ruim em termos de descobrir um câncer de forma geral, se tornou um pouco pior no Brasil e no mundo. Houve um atraso importante no número de biópsias e diagnósticos que foram deixados de ser feitos.  Às vezes até mesmo o próprio paciente encontra algo, mas fica retardando (a procura por atendimento), com medo daquilo”, declarou.

“Uma situação horrível com relação aos cânceres em geral, é que a pessoa que está em tratamento, ou que teve uma reincidência e precisa de uma quimioterapia ou algum outro tratamento rápido, se, por infelicidade, ela se contaminou com o coronavírus, e acabou falecendo, o diagnóstico de câncer é deixado de lado, e a causa da morte fica sendo mais uma estatística de Covid-19”, lamentou.

“Espero que esse problema diminua em breve com a vacina”, completou. A chance de cura para o câncer de mama é o diagnóstico precoce. Mas não adianta fazer precocemente, se só poderá ser tratado dali seis meses. Agora, sem respirador, sem poder operar e internar, piora a situação”.

Dr. Ray explicou que o número de biopsias eram elevadas em um período anterior a pandemia, e com a chegada dela, diminuiu bastante.

Caso raro

Durante a entrevista, o mastologista comentou sobre um caso que aconteceu na Inglaterra, em que um homem de 61 anos diagnosticado com linfoma de Hodgkin, tipo de câncer que se origina no sistema linfático, teve uma remissão da doença após contrair covid-19.

“Nesse caso, a doença regrediu depois que o indivíduo teve comprovado a Covid-19. Ele fez uma internação, mas não usou corticoides nem quimioterápicos, e mesmo assim a doença regrediu. A hipótese é que essa infecção tenha desencadeado uma resposta imunológica dos próprios leucócitos dele para combater o vírus, isso acabou destruindo os tumores”, informou.

De acordo com Ray, foi uma situação raríssima, que “está em estudo no mundo todo, e outras situações semelhantes de outras circunstâncias já surgiram e fizeram uma remissão do câncer com esse mesmo tipo de ação. Seria uma espécie de terapia celular induzida pelo vírus. Só que isso não é via de regra, temos que aguardar mais estudos”, disse.

Exames

O médico comentou sobre os exames e diagnóstico em mulheres abaixo dos 40 anos. “A primeira coisa para as mulheres que ainda não atingiram os 40 anos, é saber se elas se enquadram nos grupos de risco. O fato de ser mulher já é do grupo de risco de 100 a 200 vezes mais que o homem. A idade acima de 50 anos é de maior risco de desenvolver o câncer de mama, apesar da doença estar aparecendo cada vez mais em mulheres jovens”, alertou.

“Se tem histórico familiar, se a pessoa já precisou fazer alguma biópsia prévia nas mamas, se têm um diagnóstico anterior de câncer ginecológico, se a mulher nunca teve filhos, são todos esses fatores que fazem se encaixar no grupo de risco. O ideal é procurar um médico para ser examinada”, instruiu.

Dr. Ray explicou que existem alguns outros recursos para pacientes jovens. “Temos ultrassom, ressonância magnética, em pacientes que usam implantes mamários ou que tem dificuldade de diagnóstico, por exemplo. Basicamente a mulher jovem de 25 a 35 anos, a tendência é não indicar a mamografia, porque a mama é muito densa, difícil de enxergar, além da mamografia fornecer uma exposição de radiação ionizante precoce. Aí quando a mulher precisar sequenciar esse exame todo ano, ela já teria esgotado essas doses abusivas”, explicou.

Retirada das glândulas

O médico revelou que a adenomastectomia redutora de risco é uma das opções para a prevenção do câncer de mama, porém, a indicação é rara. “São retiradas as duas glândulas mamárias e são colocadas próteses de silicone. Mas isso não é tão fácil como as pessoas pensam. Algumas mulheres procuram os médicos, alegando que a mama está flácida, e que já irão aproveitar e fazer a cirurgia. Mas não é assim, essa cirurgia tem suas recomendações”, pontuou.

Segundo Dr. Ray, é preciso procurar um geneticista e fazer uma pesquisa genética para ter provas de que a pessoa possui uma chance alta de desenvolver a doença. “O teste precisa comprovar, a chance precisa ser grande. Até porque a mulher precisa ter a ciência de que a mama ficará gelada, com uma diferença de temperatura, sem sensibilidade nenhuma. A cirurgia nem sempre fica esteticamente boa, é algo difícil, porque só é deixada uma camadinha fina de pele, pode ter complicações, extrusão, necrose. É algo apenas para indicações precisas. As chances de ter o tumor diminuem, mas a cirurgia não garante que você nunca vá ter. Conheço pessoas que fizeram essa cirurgia e tiveram câncer na pele, ou na região axilar”, contou.

Mamografia


“A mamografia pode encontrar uma lesão precursora, de um câncer que poderá aparecer dali a três anos”

“A mamografia reduz a morte pelo câncer, mas se conseguirmos descobrir o tumor no início. Ela talvez não interfira tanto na morbidade, que é a quantidade de pessoas que vai adoecer. Não tem como dizer que determinado câncer não irá aparecer. Ela não faz milagres. Mas você pode encontrar em uma mamografia uma lesão precursora de um câncer que poderá aparecer dali a três anos, ela ajuda a encontrar uma microcalcificação que pode ser removida para não evoluir para a doença”, ressaltou. 

Cura do câncer

Para o mastologista, os cientistas estão se esforçando para conseguir a cura do câncer. “A cada dia surge uma droga nova, um novo tratamento e novas tecnologias para diagnósticos. Para quem tem a doença em uma fase mais adiantada, deve haver esperança, porque a toda hora sai uma medicação nova que consegue controlar esse câncer como se fosse um hipertenso ou um diabético, que toma o remédio todo dia, e consegue ter uma vida saudável com qualidade. Temos que acreditar e torcer”, encerrou.

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