Alerta é do especialista Everton Scaramelo, que cita previsão feita em congresso de obesidade
No último Congresso Brasileiro de Obesidade Infantil, realizado em 2014, os trabalhos apresentados mostraram que em 2025, se nada for feito, as crianças brasileiras serão as mais obesas do mundo. E mais: se não houver intervenções de responsabilidade dos setores público, privado e da sociedade, já em 2020 o Brasil terá 60 milhões de crianças obesas.
O médico endocrinologista Everton Ricieri Scaramelo, que também é especialista em metabologia (estudo das moléstias do metabolismo), comentou ao jornal que essas projeções e as pesquisas mais recentes acerca da obesidade infantil trazem resultados preocupantes. “Mostram que nossas crianças estão comendo muito mal e errado, realizando pouca atividade física. E isso tudo, claro, porque o exemplo principal vem dos adultos, que também estão obesos”.
Segundo ele, as principais causas de obesidade infantil são biológicas, hereditárias, psicológicas e ambientais. A causa ambiental, para o médico, é a mais importante porque envolve 95% dos casos concretos, sendo decorrente principalmente de uma alimentação inadequada e pouca atividade física. Menos de 5% dos casos são ocasionados por doenças endocrinológicas, enquanto a hereditariedade (genética) só se manifesta se o ambiente for favorável a que isso ocorra.
Crença antiga
Everton refuta considerações ou crenças antigas acerca de crianças gordinhas, que eram tidas como saudáveis por terem maior volume corpóreo do que as mais magras. “Essas crianças gordinhas são futuras crianças obesas em todos os sentidos, hipertensas, diabéticas”, alertou, citando dados da Organização Panamericana de Saúde e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Os inquéritos populacionais têm registrado um alarmante aumento na incidência de obesidade infantil no Brasil, nas últimas três décadas. Só no período de 1975 a 1997 a prevalência de obesidade infantil aumentou de 3% para 15%, um crescimento de cerca de 240% em apenas 17 anos”.
O especialista contou que existe uma relação direta entre a obesidade infantil e as doenças cardiovasculares, além de aumento de casos de hipertensão, diabetes, colesterol, triglicérides, aterosclerose (doença dos vasos sanguíneos), problemas ortopédicos e psicossociais. “Uma criança obesa, com certeza, será um adulto doente, tanto física como mentalmente e isso a levará a ter uma diminuição da expectativa de vida e também da qualidade de vida”.
A dificuldade de relacionamento com outras pessoas é uma das características das crianças obesas, prosseguiu o médico. “No geral, elas são mais quietas e mais solitárias. Quando se tornam adultas, costumam reduzir as visitas a lugares onde há aglomeração de pessoas, pelo simples fato de serem obesas.”
Como resolver
A solução a esses problemas, de acordo com o médico, envolve alguns fatores, muitos dos quais válidos também para os adultos. O primeiro deles é a necessidade de estimular a criança obesa a ter o hábito de realizar, com prazer, atividades físicas diárias. O segundo fator é corrigir alguns erros alimentares, mas sem restringir o acesso a certos alimentos importantes ao crescimento das crianças. “O ideal é a gente diminuir alguns alimentos e dar uma oferta maior de outros, como verduras, legumes, fibras. Mas a criança tem que ver isso dentro de casa, ver o adulto comer, para que também adquira o mesmo hábito.”
Das atividades físicas indicadas por Everton para a redução da obesidade, ele não exclui sequer um simples jogo de peteca. Em crianças, no entanto, ele recomenda as aeróbicas, que não incluem pegar peso. Bicicleta, squash, tênis, natação, vôlei, futebol, são as atividades que ele indica e salienta que devem se tornar rotineiras, diárias e por pelo menos 60 minutos.
Avaliação e exame
Uma avaliação antropométrica (índice de massa corporal), feita por especialista, é a forma adequada de uma família descobrir se o filho ou filha está obesa. Pega-se o peso da pessoa, divide pela altura e divide outra vez pela altura. Se o valor encontrado for superior a 29,9%, a pessoa avaliada está em obesidade. Há, porém, vários graus de obesidade. A obesidade de grau 1 vai de 29,9% a 34,9%; de 35% a 39,9%, obesidade de grau 2; e acima de 40%, obesidade de grau 3, que é mórbida.
Há um exame feito em consultórios de especialistas, incluindo o do próprio Éverton, que consiste na bioimpedância corporal. O paciente fica deitado e, mediante um aparelho eletrônico, o médico avalia o percentual de gordura no corpo, percentual de músculos, o peso ideal e a taxa metabólica basal (o quanto ele precisa comer para não engordar).
Fonte: Gazeta do Rio Pardo