Infectologista fala sobre como variante afeta eficácia das vacinas
Na última quarta-feira, o Brasil registrou 401 mortes por Covid-19 em 24 horas, com o total de óbitos chegando a 604.303 desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes nos últimos 7 dias ficou em 380, número abaixo da marca de 400 pelo nono dia seguido. O país vivencia um dos momentos mais brandos da pandemia desde o seu início. Além do avanço da vacinação, nos últimos dias foram anunciados novos tratamentos para a fase inicial da doença, conquista importante não apenas para as autoridades de saúde, mas principalmente para a população.
O infectologista Marcelo Galotti explicou durante uma entrevista que concedeu a Rádio Difusora, sobre os novos medicamentos que ajudam a evitar a forma grave da Covid-19, explicou como a variante Delta afeta a eficácia das vacinas e fez um balanço do cenário da pandemia no país.
“ Quando fazemos a análise individual dos estados, percebemos que há um aumento de casos em oito deles, oito estão estáveis e nos outros 11, é possível perceber um decréscimo nos números. Do ponto de vista prático, nunca foi visto uma situação tão confortável desde o início da pandemia. Até esse momento, é nítido que a epidemia está perdendo a força”, declarou.
Para Marcelo, existe uma ansiedade natural pela flexibilização das medidas restritivas, no entanto, o problema é que se ela não for coordenada, passará a ser uma catástrofe.
Efeito rebanho
O infectologista explicou que é preciso que 82% das pessoas estejam vacinadas para ter o efeito coletivo protetor, conhecido como efeito rebanho. Por enquanto, o Brasil tem apenas 51,2% da população totalmente vacinada.
Delta
Marcelo destacou as consequências da variante Delta. “Ao contrário das outras, ela não responde a apenas uma dose da vacina, precisa de duas doses. A Pfizer, que normalmente tem 95% de eficácia, com a Delta, tem 88%.A AstraZeneca perde de 10% a 15% de potência. Nós levamos nove meses para vacinar 50% da população, então temos 50% de brasileiros que estão à disposição da variante”, alertou.
O médico mencionou que a cidade de São Paulo vive a epidemia dos não vacinados, assim como ocorreu nos EUA. “Cerca de 90% dos pacientes internados hoje no Hospital Emílio Ribas, tanto na enfermaria quanto UTI, são pacientes não vacinados, entre eles, 95% estão internados por causa da variante Delta. É fundamental que agilize a vacinação”, observou.
Antecipação da vacina
O Governo do Estado de São Paulo anunciou nesta segunda-feira (18), a antecipação de 8 semanas para 21 dias no intervalo de aplicação da segunda dose da vacina contra COVID-19 da Pfizer em adultos (acima de 18 anos). Inicialmente, a recomendação do fabricante era seguir o intervalo de 21 dias, mas para conseguir vacinar o maior número de pessoas possível, o intervalo de 8 semanas havia sido adotado. Marcelo falou sobre o motivo da mudança.
“A Pfizer com duas doses, oferece uma cobertura de 95%, com uma, ela cobre 50% que é quase a mesma coisa que a CoronaVac com duas. A AstraZeneca cobre de 66% a 70%, e com a primeira dose cobre 35%. Houve trabalhos na própria Universidade de Oxford que mostrava que ampliando o intervalo não comprometia a qualidade da imunização. Então ao invés de darem duas vacinas para um público pequeno, preferiram vacinar mais pessoas para resolver o problema. Do ponto de vista epidemiológico, foi uma atitude relevante”, disse.
“Agora, como a Delta não responde a dose única, eles voltaram para o intervalo menor para conseguir acelerar as duas doses”, informou.
Novos medicamentos
Marcelo falou durante a entrevista sobre o surgimento de novos medicamentos contra a Covid, que segundo estudos, são eficazes e promissores. “O tratamento precoce atualmente começou a tomar forma. Temos o comprimido Mulnopiravir, que é um medicamento usado até o quinto dia da doença com pacientes com o exame PCR positivo. Ainda é bem precoce, ele chega a zero de mortalidade e 50% dos casos resolvem sem precisar de internação”.
“Desde o início as pessoas acreditavam no anticorpo. Era um tratamento preventivo importante na fase inicial. O primeiro deles foi o soro hiperimune. Uma pessoa tinha Covid, se recuperava, e era solicitado a ela que fizesse a doação do soro para um paciente que estivesse em estado grave. Operacionalmente isso era difícil, mas foi um tratamento usado. Também foram usados os anticorpos monoclonais, que são sintéticos e funcionam como os naturais. Mas são drogas muito caras, são aplicadas em pacientes internados. No entanto elas foram comprovadamente importantes”, relatou.
Soroterapia
O Hospital do Rim, na Vila Clementino, Zona Sul da cidade de São Paulo, vai começar nas próximas semanas a testar o soro anti-covid em pacientes transplantados. Produzido pelo Instituto Butantan, o soro não substitui a vacina, mas é uma possibilidade de tratamento eficaz para as pessoas acometidas pela doença.
“Doenças como a raiva, e em casos de picada de escorpião, temos os soros heterólogos, que vem dos animais. Nesse caso, contra a Covid, o vírus é inoculado no cavalo, ele faz anticorpos que são recolhidos e aplicados em um paciente. Esse trabalho foi aprovado e será feito em pacientes de alto risco. O tratamento será iniciado com 60 indivíduos com câncer e transplantados de órgãos sólidos, que são órgãos abdominais e torácicos. O paciente que vai receber o soro precisará ficar internado por apenas um dia, porque ele vai receber a medicação, que será usada nos cinco primeiros dias da doença. A finalidade desse soro é para que a pessoa não evolua para um quadro grave. Esse é um verdadeiro tratamento precoce”, encerrou.