Gazeta Do Rio Pardo

Rio-pardense faz sucesso na área de estética animal

Ariel é Groomer Influencer, e possui uma clínica dedicada a estética animal

De servente de pedreiro a groomer influencer, Ariel Henrique possui mais de 92 mil seguidores

Por Júlia Sartori

De uma família humilde e ex-morador do bairro Vale do Redentor IV, o rio-pardense Ariel Henrique Pereira da Silva, de 36 anos, mudou sua vida da água para o vinho após reconhecer seu talento e batalhar para conquistar seu espaço. Atualmente ele é admirado por mais de 92 mil pessoas que o seguem em sua rede social e que valorizam seu trabalho.

Ariel é Groomer (em tradução literal, “tosador”) Influencer, e possui uma clínica dedicada a estética animal na cidade de Rincão. Além de possuir seu próprio negócio, o profissional promove cursos de banho e tosa em diversas cidades da região.

Apesar do sucesso que Ariel se tornou, já que é reconhecido em muitas cidades do país por seu trabalho e dedicação, sua trajetória para chegar onde está não foi nada fácil. Ele concedeu uma entrevista à Gazeta do Rio Pardo essa semana, e contou sobre sua história.

Infância difícil

Os pais de Ariel se casaram jovens, e se divorciaram quando ele e sua irmã ainda eram crianças. “Nossa vida sempre foi difícil, pegamos o Vale do Redentor 4 bem no começo, quando ainda estavam construindo. Tivemos uma vida difícil, a ponto de faltar alimentos. Quando eu tinha sete anos, tinha que tomar conta da minha irmã porque meus pais se separaram. Minha mãe trabalhava na Nestlé no turno da noite, ela morava no bairro Santo Antônio, nossa guarda ficou com meu pai, que era caminhoneiro, então nós éramos cuidados pelo vizinhos. Foi assim por mais ou menos 9 anos”, lembrou.

Apesar da infância difícil, ele e sua irmã aproveitavam as oportunidades que eram oferecidas na época. “Naquele tempo tivemos a Casinha 100, que nem existe mais, era um apoio que eles davam para as crianças antes de ir para a escola, onde tinha lanche e aulas de reforço. Mas íamos mais pela comida, porque éramos crianças, não tínhamos muito alimento em casa, nem perspectivas. Então nós frequentávamos porque estávamos com fome. Nós saíamos da Casinha 100 e íamos para a escola. Me lembro que descíamos na antiga estação de trem, a Fepasa, e lá ofereciam leite de soja, e nós pegávamos também”, contou.

“Mesmo com todas as dificuldades, a infância foi legal, pois fazíamos coisas de criança”, acrescentou.

Primeiro emprego

Com 13 anos Ariel arrumou seu primeiro emprego, pois tinha a consciência que foi dada a ele a responsabilidade de cuidar de sua irmã mais nova. “Eu sabia que eu tinha que fazer alguma coisa pela situação que passávamos em casa. Nessa época minha irmã ainda era menor, minha mãe estava trabalhando de empregada doméstica. Como eu era menor de idade, comecei a colher café e laranja na roça. Lembro que meu último trabalho foi ser servente de pedreiro”, disse.

O profissional atende em sua clínica própria, em Rincão

“Com 15 anos eu estava trabalhando como servente para um amigo, que estava construindo uma parede para o senhor Manuel Mafepi, pai do Matheus Mafepi. Escutei uma conversa dele com a senhora Regina, falando que o menino que estava trabalhando com eles ia sair, e que precisavam de outra pessoa. Eu perguntei a ele, se não podia deixar eu tentar fazer o serviço. Para mim passar de servente de pedreiro para tosador, era uma glória.  Uma oportunidade para mudar a realidade”, comentou.

Foi nesta ocasião, que o jovem começou seu primeiro emprego como banhista e tosador.  “A esposa dele, dona Regina, começou a me ensinar no “Kantinho do Kriador”, que ficava no bairro Santa Tereza. Eu sempre gostei de cachorro, mas nunca imaginei que isso viraria um trabalho, que faria com que eu ficasse conhecido. Entre idas e vindas, fiquei lá por 8 anos”.

Esforço e dedicação

“Meu pai sempre me falava que não tinha condições de me dar uma faculdade ou um carro zero, mas dizia sempre que eu conseguiria isso através de estudo. A única coisa que as pessoas não podem arrancar de você é o conhecimento. Então durante minha vida toda, eu levei isso, sempre achei muito importante aprender. Hoje em dia eu tenho 8 formações técnicas em diversas áreas, falo inglês e espanhol. Sempre priorizei os estudos. Leio, faço cursinhos, aprender é extremamente importante para mim”, contou.

Ariel se formou em técnico de enfermagem pela Fundação Educacional, e resolveu que mudaria sua vida. “Não queria ficar só em São José, eu precisava ter uma visibilidade maior. Quando saí de São José, me mudei para Aguaí, cidade onde meu pai nasceu. Tentei arrumar emprego como técnico em enfermagem, mas não consegui. Aí comecei a trabalhar em um banho e tosa lá. Fiquei trabalhando lá por um ano”, relembrou.

Posteriormente, ele passou por Casa Branca, Itobi e São João da Boa Vista, sempre trabalhando com estética animal, apesar de tentar empregos diferentes. “Eu tentava trabalhar com outras coisas, mas quando eu fazia uma tosa, já pediam para eu começar no dia seguinte. Demorou um pouco para eu entender que a estética animal, era o que Deus estava preparando para mim. Ele estava me mostrando que para qualquer lugar que eu fosse, a estética animal era um diferencial. Até eu entender isso, demorou”, disse.

O profissional atende 30 cães por dia

O jovem passou por sete cidades, até chegar em Descalvado, onde tudo mudou. “Fui para lá e fiquei na casa de uma tia minha, trabalhei em um frigorífero, mas depois que sai da casa de minha tia, conheci meu marido, em Descalvado. Sou casado há 15 anos, e ele se mudou para uma cidade chamada Rincão, que é onde estou morando atualmente”.

Em Rincão, Ariel trabalhou em um supermercado durante um ano, já que não encontrava oportunidade de emprego na área de estética animal por lá. “Depois saí do mercado, e quis fazer algo que eu gostasse e fizesse bem feito. Arrumei emprego em um banho e tosa de Araraquara, e também com ajuda da família do meu marido construí minha primeira salinha de banho e tosa. Mas no começo foi muito difícil, eu não tinha cliente. No primeiro ano com meu banho e tosa, eu fazia cachorro de vizinhos e parentes. No segundo ano, passou de um cachorro por semana, para 30 cães atendidos em um único dia”, relatou.

O profissional sempre teve facilidade para se comunicar, e resolveu produzir vídeos para publicar em suas redes sociais, na tentativa de atrair clientes para seu negócio.  “Comecei a postar o meu trabalho de Rincão no Instagram. No início eu tinha 600 seguidores, agora meu número atual, após 13 anos, é quase 93 mil”.

“Eu tive uma visibilidade grande fazendo o que eu fiz, e alcancei pessoas importantes. Hoje em dia eu sou conhecido no ramo, dou aulas de banho e tosa”, completou.

Diferencial

Ariel é considerado groomer, o que na linguagem do ramo, significa que possui vasta experiência, enquanto o termo tosador é utilizado para quem ainda está no início da profissão.

“Quando eu trabalhava no Kantinho do Kriador, dávamos banho em coelhos, porquinhos da índia, chinchila, cabrito. Não apenas em cães e gatos. Acho que esse foi um dos diferenciais”, afirmou.

O profissional destacou que no início a dificuldade de tocar o próprio negócio era grande. “No começo não é todo mundo que vai acreditar em você. O diferencial é ser alegre, acreditar sempre que vai dar certo, mesmo que você esteja afundado. A determinação é capaz de levar as pessoas longe. Por mais que eu morasse no Vale do Redentor, fosse homossexual, sabendo que a vida ia ser difícil para mim, nada disso me desanimou. Pra quem não tinha nada, sem uma perspectiva de futuro, estar onde eu estou hoje mostra todo um mérito, um empenho. Eu acho que fiz a diferença”.

Ariel recebeu um convite para fazer um curso de especialização em tosa na Nova Zelândia

Atualmente Ariel faz cerca de 30 atendimentos ao dia, são cerca de mil cães por mês. Além de sua clínica, intitulada de “1,2,3 Tosar Outra Vez” ele ministra aulas em toda a região de Ribeirão Preto, São Carlos, Araraquara, Américo Brasiliense, Santa Lúcia, Matão e outras cidades.

“Além dos animais, atendo cerca de 2 mil pessoas mensalmente, ajudo outros profissionais e ministro aulas”, destacou.

Ariel recebeu um convite para fazer um curso de especialização em tosa na Nova Zelândia, previsto para o próximo ano.

Sua clínica têm parceria com a Quality Pet Hair, uma empresa que fabrica cosméticos para animais de estimação. “Essa empresa observou meu trabalho e me propôs uma parceria. Hoje em dia ela me paga para ministrar seus cursos, recebo para usar os produtos dela na clínica e também sou produtor de conteúdo da marca”, completou.

“Sou muito grato ao senhor Manuel Mafepi pela oportunidade que ele me deu naquele tempo. Tenho muito carinho, e graças a Deus e a ele construí meu império e sou muito feliz por isso. O que me deixa mais feliz é acordar e saber que trabalhei tanto para oferecer um trabalho com a minha identidade. É muito gratificante saber que não vou fazer algo automático. Todo dia é uma criação. Precisamos entender o que fica bem para aquele cachorro. É como se fosse um corte de cabelo humano, como profissionais precisamos entender o que vai ficar bem para cada um”, explicou.

“O empenho e a vontade movem montanhas, só depende de cada um saber onde vai chegar. Nós nunca saberemos se as coisas vão dar certo se não fizermos”, encerrou.

Os trabalhos de Ariel são publicados em seu Instagram @arielhenrique001