Gazeta Do Rio Pardo

Novembro azul: Diagnóstico precoce pode evitar o câncer de próstata

Dr. Vinicius Maldonado: não há possibilidade de rastreamento em relação à próstata

Médico diz que a doença afeta mais os idosos e dá dicas importantes para um diagnóstico

Dr. Vinicius Maldonado, médico clínico que trabalha na Saúde da Mulher, nos ESFs da cidade e também no Pronto Socorro, onde faz plantões, foi o entrevistado do Jornal do Meio Dia na terça-feira, 3 de novembro. Ele falou do Novembro Azul e sobre o câncer de próstata.

Vinicius começou lembrando que a próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino localizada abaixo da bexiga, sendo semelhante a uma ameixa ou castanha e tendo como função produzir o líquido espermático.

“O câncer de próstata é o que tem mais incidência nos homens. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, quase 30% dos cânceres em homens são de próstata, o que é um índice absurdo. É o segundo que mais mata o homem, perdendo apenas para o câncer do pulmão ou traqueia”, explicou.

Falando em fatores de risco, o médico disse que o principal deles é a idade. “Hoje a gente fala que o câncer de próstata é um câncer dos idosos, já que dois terços desses cânceres aparecem após os 65 anos. Além da idade, a história genética na família pesa bastante para o surgimento da doença, sendo que muitos homens com menos de 50 anos, mas com parentes que tiveram a doença, também poderão tê-la. Também muitos homens negros têm uma incidência mais elevada de câncer de próstata”, detalhou.

Sem rastreamento

Nenhum órgão da saúde recomenda no Brasil o rastreamento ao câncer de próstata, como o que é feito na mamografia em mulheres. Dr. Vinicius diz que os estudos comprovam que o rastreamento não diminui a taxa de mortalidade dos homens e, ao contrário, pode incorrer num “sobrediagnóstico”, um erro que leva à cirurgia, radioterapia e outros procedimentos contrários ao câncer, sem que a pessoa tenha de fato a doença.  

“Hoje o diagnóstico é feito só através da biópsia e, para chegar a esse momento da biópsia, é muito invasivo, sem contar que cria toda uma expectativa no homem. Imagine que você vai lá, não faz um rastreamento, mas faz o exame do toque e do PSA (exame de sangue), dá alterado e aí o homem fica naquela expectativa, ansioso e nervoso. Aí tem que se submeter a exames invasivos e, quando vê, não é nada. E pode acontecer isso. E foi isso que o rastreamento mostrou, ou seja, que não tem custo-benefício. Pacientes que rastreiam e que não rastreiam, não há diferença na quantidade de mortes no final”, justificou.

Diagnóstico precoce

Como não há rastreamento, é importante, segundo o médico, o diagnóstico precoce, uma estratégia conscientizadora dos homens sobre sinais e sintomas que o câncer de próstata gera neles.

“Qualquer homem que sentir alteração no padrão urinário, como ir ao banheiro muitas vezes para fazer xixi, e o xixi sai muito pouco, goteja, não sai em jato, é um sinal. Sangue urinário, disfunção erétil, que é quando a relação sexual está difícil ou provoca dor, são também sinais e sintomas de que pode haver alguma alteração. E hoje este é o melhor diagnóstico que a gente pode oferecer para conscientizar os homens sobre o câncer de próstata”, continuou.

O médico afirma que nem o toque retal, nem o PSA, isoladamente, proporcionam um diagnóstico confiável. “Eles fazem uma suspeita, porém ambos são necessários, um complementa o outro. O PSA, que é um antígeno prostático, é uma proteína que faz parte da produção do sêmen. Se o homem andar de bicicleta, ele aumenta o PSA. Se ele se masturbar, idem. Isso não significa, porém, que se o PSA estiver alterado a pessoa tenha a doença”, observou.

O que se recomenda, segundo Vinicius, é que a partir dos 50 anos o homem procure seu médico e inicie os testes preventivos. O Novembro Azul, segundo ele, vem diminuindo o preconceito masculino em relação ao exame do toque retal e conscientizando boa parcela dos homens sobre a importância disso.

Obesidade e tabagismo

Indagado sobre a influência da alimentação e vícios sobre o câncer de próstata, o médico disse que a obesidade e o tabagismo acabam propiciando um fator mais susceptível à geração de células cancerígenas em qualquer parte do corpo. “Como a obesidade faz um processo inflamatório em todo o nosso corpo, morre muita célula e nasce muita célula. E esse processo acaba gerando células cancerígenas. Apesar de não ter nenhuma literatura que confirme essa relação direta da obesidade com o câncer de próstata, sabe-se que ela desencadeia outros tipos de cânceres, assim como o tabagismo”.

O tratamento

O tratamento contra o câncer de próstata, segundo o médico, começa após exames de toque retal, PSA, ultrassonografia transretal para ver o formato correto da próstata e depois a biópsia prostática (através do ânus). Na biópsia o médico retira de 12 a 15 pedacinhos, que são levados a laboratório para que haja um diagnóstico e se constate o estadiamento (grau do câncer: baixo, médio ou alto risco). 

“Dependendo desse estadiamento, o tratamento é feito. Hoje nós temos três tipos de tratamentos básicos: a prostatectomia (raspagem da glândula), a radioterapia e o tratamento com hormônios, suprimindo os hormônios do homem que alimentam a próstata e a fazem crescer. A prostatectomia é um exame muito invasivo, muito complicado, tendo muito efeito colateral. Os homens acabam tendo disfunção erétil, problemas miccionais para ir ao banheiro. A melhor maneira de fazer essa cirurgia hoje é pela cirurgia robótica, só que ela ainda não é muito acessível pelo SUS”, prosseguiu.

A cura

A cura, segundo ele, pode vir tanto pela retirada da próstata ou pela radioterapia, razão pela qual o diagnóstico precoce é tão importante. “O mais importante, na minha opinião, é o homem estar consciente sobre os sinais e sintomas, que são o sangue na urina, disfunção erétil e mudança nos padrões urinários, principalmente quando a urina começa a ter dificuldade para sair e só pinga ao invés de sair em forma de jato. E normalmente é após os 50 anos que esses sintomas começam a surgir. Importante também que os homens eliminem esse preconceito do toque retal, que é totalmente rotineiro para nós, médicos, sendo rápido, indolor e totalmente ético de nossa parte. O médico clínico que atende no Posto de Saúde, nos ESFs, faz esse exame e o PSA na atenção primária. Havendo suspeita, ele encaminha para a atenção secundária, ou seja, para o médico urologista, para fazer ultrassom e biópsia e dar continuidade no tratamento”, concluiu.