Gazeta Do Rio Pardo

Nova cebola para a ‘janela de mercado’

Nova cebola para a ‘janela de mercado’

Variedades testadas na Fundação de Pesquisa superaram até chuvas intensas de janeiro

 

Algumas novas variedades de cebola cultivadas pela Fundação de Pesquisa de São José do Rio Pardo foram colhidas com sucesso em maio. Elas também foram escolhidas e acompanhadas pela unidade de pesquisa do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) naquela cidade, mas plantadas em São José. Tiago Factor, engenheiro agrônomo e pesquisador científico da unidade mocoquense, lembrou que muitos cebolicultores vêm desistindo do cultivo ao longo dos anos por desânimo com o preço final do produto.

“Acho que chegou a hora da gente reduzir o nosso risco com a cultura da cebola, implantando-a nesta janela de mercado que historicamente é atendido pela Argentina e, mais recentemente, pelos outros estados brasileiros, concorrentes do estado de São Paulo”, ponderou. “Esse trabalho testa várias variedades de cebola, tanto híbridas como outras, para verificar as de mais potencial para esta época”.

O pesquisador acredita que somente desta forma, com a redução dos riscos e aumento da rentabilidade, é que haverá a continuidade da cultura da cebola nesta região. “Senão, invariavelmente ela será substituída por outras culturas em São José do Rio Pardo e região, porque a gente já vem aí, nos últimos anos, enfrentando esses preços ruins em virtude, principalmente, do excesso de oferta”.

Tiago explicou que esses experimentos com novas variedades na Fundação de Pesquisa de São José são fruto de uma parceria entre o IAC de Mococa, a empresa Apta e a própria Fundação, com apoio da Prefeitura rio-pardense. “Já faz sete ou oito anos que a gente vem fazendo este trabalho e agora que estamos começando a colher os frutos desta parceria, chegando a alguns resultados importantes”.

Variedades boas

De todos os experimentos feitos até agora, três ou quatro variedades de cebola, incluindo uma híbrida, se mostraram adequadas para o plantio e colheita precoces. “Este ano, inclusive, foi um desafio grande porque plantamos cebolas no início de dezembro de 2017 e elas pegaram toda essa chuvarada (mais de 600 milímetros). Achamos que não íamos produzir nada porque a cebola sofre com o excesso de chuvas mais do que com o calor. Porém, três ou quatro genótipos se sobressaíram e então hoje a gente pode dizer que é possível, sim, produzir cebola nesta época que, historicamente, é complicada. Mas é um sonho de todo mundo”, continuou Tiago.

Esses resultados deverão se apresentados aos produtores de cebola de São José e região mediante reuniões a serem agendadas. Antes, porém, os experimentos colhidos em maio deste ano serão avaliados quanto a produtividade e somados à produção dos anos anteriores. Depois, seja com reuniões, seja com folhetos, a intenção é divulgar o que se conseguiu e dar aos cebolicultores a opção de escolha.

Dificuldade

A dificuldade a ser enfrentada pelos produtores, na opinião de Tiago, será encontrar as sementes adequadas para este plantio precoce e fazer uma programação antecipada para 2019. “Como, porém, já são variedades comerciais e não algo que a gente tem que registrar, não levaria muito tempo para se utilizar do resultado, especialmente em relação às variedades OP, que são mais encontradas no Vale do São Francisco, no Nordeste. E há também os híbridos e esses são mais fáceis de serem encontrados aqui mesmo na região”.

Os interessados podem procurar o próprio Tiago ou Rodrigo na Casa da Agricultura, para mais informações sobre tais variedades.

Tiago Factor e cebolas colhidas do experimento: variedades são indicadas ao plantio precoce

 

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Pesquisa teve início para  ajudar os cebolicultores

Rodrigo Vieira de Morais, zootecnista da Casa da Agricultura e presidente da Fundação de Pesquisa de São José do Rio Pardo, reforçou o que Tiago Factor afirmou: que a pesquisa sobre cebola foi feita para ajudar os produtores rio-pardenses e da região a diminuírem seus prejuízos financeiros decorrentes da concorrência de cebolicultores de outras regiões do país.

“Acompanhando a janela de mercado vimos que a cebola de verão, plantada no verão mas colhida entre abril, maio e junho, tem um mercado muito bom para o produtor de São José do Rio Pardo. No Brasil já existem variedades de cebola adaptadas a regiões de clima quente. Nesta parceria com a Apta (IAC), o Tiago conseguiu contato com pesquisadores de outras regiões, da Embrapa e outros órgãos, e começou a colher material para ser trabalhado na Fundação de Pesquisa para ver a possibilidade de plantio mais cedo”, comentou.

Essas cebolas são então plantadas em dezembro, as mudas saem no mês de janeiro, havendo um mês de ganho de tempo. Ainda em janeiro as mudas são plantadas na terra, para começarem a ser colhidas no final de abril. Nos últimos três anos foram feitos experimentos com 20 variedades de cebola em São José do Rio Pardo, para ver as que se adaptavam ao município. Cinco espécies foram selecionadas e consideradas aptas ao clima e solo da região.

“Importante lembrar que este plantio de janeiro é de alto risco porque, se chover muito até fevereiro, o produtor pode perder toda a lavoura. O risco é muito grande e a gente vai fazer mais estudos com esse material que foi selecionado. Acho que com mais dois ou três anos de trabalho já haverá uma condição boa para recomendar aos produtores de cebola de São José do Rio Pardo”, concluiu.

 

Rodrigo (à esquerda) com Tiago Factor (do meio): pesquisa averiguou 20 variedades de cebola