Pandemia reduziu muito o número de pacientes nos consultórios de odontologia em todo o mundo
A cirurgiã dentista Andrea Caran Fernandes, em entrevista ao Jornal do Meio Dia (Difusora) da última quarta-feira, 24, afirmou que o longo histórico de proteção pessoal dos profissionais da área, aliado aos EPIs adotados durante a pandemia, aumentaram a segurança dos dentistas no trato com os pacientes. Em compensação, pelo medo provocado pela Covid-19, caiu muito o número de pacientes nos consultórios odontológicos em todo o mundo.
Citando um artigo que leu, dra. Andrea afirmou que, com o início da pandemia, os consultórios odontológicos ficaram fechados por três meses, até que os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) fossem introduzidos no atendimento aos pacientes. Só que esse longo período sem atendimento afetou os pacientes com problemas de canal, problemas gengivais e outros.
“Esses pacientes ficaram sem atendimento naquele período. Só que depois, quando os consultórios foram reabertos, as pessoas tiveram medo de ir lá. O que elas não entendem é que o atendimento ali é arriscado para o dentista, não para o paciente”, observou. “Quem está ali sem máscara é o paciente e quem absorve todo aquele vapor e a saliva é o dentista, e a gente tem que ficar lá, a poucos centímetros da boca, mexendo nela”.
Em seguida, a dentista fez uma pergunta que ela própria respondeu: “E por que os dentistas foram os que menos se contaminaram, se somos os mais expostos? Porque nós sempre trabalhamos com EPIs, com máscara, luvas, jalecos de proteção. Os médicos e fisioterapeutas não estavam acostumados com essa rotina de colocar uma máscara para um exame auditivo ou uma fisioterapia”, prosseguiu.
O fato, porém, é que a pandemia fez cair demais os atendimentos nos consultórios odontológicos. Com isso, segundo dra. Andrea, está ocorrendo muita perda dentária e, em boa parte dos pacientes, isso acaba se tornando irreversível.
Harmonização orofacial
Dra. Andrea trabalhou 31 anos na rede pública e se aposentou este ano por tempo de serviço. Especialista em odontopediatria e hortodontia, ela está agora concluindo uma especialização em harmonização orofacial. Esclarece que essa técnica, muito procurada atualmente por artistas, envolve também um tratamento terapêutico.
“Hoje, com a pandemia, as pessoas estão sofrendo muito de DTm (Disfunção Temporomandibular). Temos uma articulação no ouvido que faz a movimentação da mandíbula, da boca. Com a pandemia, as pessoas andam muito estressadas, ocorrendo muito bruxismo, muito apertamento de dentes, causando muitas dores faciais, especialmente na região da cabeça ao lado do ouvido. São dores de cabeça ao acordar e dor para comer”, explicou.
Ela diz que, para aliviar o problema, são usadas toxinas botulínicas para aliviar as crises de dores que tais pessoas sentem, mas com um complexo tratamento envolvendo isso.
Atendimento público
No atendimento público feito em São José, os procedimentos oferecidos são os de profilaxia (limpeza), restauração e extração dentária, canal, próteses, problemas gengivais, cirurgias de terceiros molares inclusos e, no caso específico de uma dentista, atendimento a pacientes especiais que necessitam de internação hospitalar. “A nossa rede de oferta de saúde bucal é muito boa”, assegurou.
A rede pública atual está agora com um atendimento no Domingos de Sylos, no Vale do Redentor (dois dentistas) e no Carlos Cassucci. Um quarto local de atendimento já deveria ter sido aberto (no bairro São José), mas com a pandemia isso foi adiado.
Odontologia brasileira
A dentista lembrou que, em alguns países do mundo, o profissional da área tem que fazer medicina e depois se especializar em odontologia. Em 1966 houve, no Brasil, a separação da medicina e da odontologia.
“A ortodontia num país de primeiro mundo, como a Itália, é caríssima porque o profissional tem que se formar em medicina, se especializar em odontologia e depois em ortodontia. Embora eles tenham as melhores tecnologia, os melhores materiais, eles não têm os melhores profissionais. É por isso que, por exemplo, em Portugal a grande maioria dos dentistas são brasileiros. Somos mais habilidosos em relação a eles porque temos, entre outras coisas, o ensino de habilidade manual desde os 18 anos da faculdade de odontologia. Nossos dentistas são os melhores do mundo e isso tem várias pesquisas que atestam. Inclusive, das 5 melhores faculdades do mundo, 3 delas são brasileiras”, garantiu.
Mau hálito
Falando de problemas bucais, dra. Andrea mencionou que o mau hálito em pessoas adultas é, em sua grande maioria, decorrente da má higienização da boca.
“Em cerca de 90 por cento dos casos o problema é esse, inclusive pela falta de escovação da língua, que muita gente não faz. A língua é áspera e retém resíduos de alimentos que podem causar esse problema se não for escovada diariamente, como os dentes”, explicou.
A profissional alertou para a questão dos enxaguantes bucais. Segundo ela, eles de fato podem combater as bactérias ruins, mas, ao mesmo tempo, danificam as bactérias boas também. “Isso pode desencadear um desequilíbrio de flora. Por isso, nada substitui a escova e o fio dental”, concluiu.