Gazeta Do Rio Pardo

Mergulhadores Rio-pardenses resgatam pescadores

“Conforme chegamos perto, vimos que não havia nenhum barco e eles começaram a gritar desesperados”

No dia 2 de março, sábado, quatro mergulhadores rio-pardenses participaram de um resgate na região de Itanhaém, litoral paulista. Eles ajudaram a salvar quatro pescadores, Elenilson, Ivan, Manoel e Iranildo, que haviam saído em alto mar para pescar polvos no dia 27 de fevereiro, quando ocorreu o naufrágio e eles foram parar em uma ilha inabitada, Queimada Grande ( Ilha das Cobras), onde permaneceram até o dia do resgate.

Luciana Tempesta Maldonado Costa, instrutora de mergulho da escola Paradise Sub, junto com seu marido, Fábio Drago Costa, DM em formação na mesma empresa, Sabrina Fernandes Coelho, bancária e mergulhadora e Eduardo Gradin, mergulhador, foram os rio-pardenses responsáveis pelo resgate, junto com a equipe de Osasco, também da escola Paradise Sub, composta pelo instrutor Targino; e os mergulhadores turistas Rogério Barbosa, Viviane, Thiago e Júnior, este último, instrutor e operador do barco.

Resgate

“No sábado dia 2, decidimos ter um carnaval diferente e pular mergulhando. Saímos de Rio Pardo por volta das 0h30, de sexta para sábado. Fomos esse horário para não pegar tanto trânsito até Itanhaém, que é onde fica a (*)marina, local onde pegamos uma lancha pra ir até Queimada Grande, que fica aproximadamente à uns 35 km de distância. Essa ilha é uma área de preservação, e os mergulhos lá são muito interessantes. Foi a primeira vez que fizemos a saída para lá, era um destino novo para nós. Nos juntamos com um pessoal de São Paulo que é da nossa escola também, descemos para Itanhaém e por volta das 8h30 embarcamos para a navegação. Depois de uma hora chegamos na ilha, fomos a um ponto de Mergulho que não reunia condições de visibilidade, e nos deslocamos para o ponto “Saco da Lama”, onde realizamos o primeiro mergulho, que teve a duração de mais ou menos uma hora. Retornamos a superfície e nos alimentamos. Alguém no barco comentou que do lado oposto de onde estávamos, havia a possibilidade de vermos as ‘arraias chita’. Nesse lado o mar estava instável, não tinha mais nenhum tipo de embarcação, por conta dos temporais que tiveram dias antes. Esse não era um lado para qual alguém estivesse indo, mas fomos para tentar ver as arraias. Quando estávamos passando pelo ponto que eles disseram que estariam os animais, começamos a ouvir um barulho. Quando olhamos para a ilha, vimos que eram pessoas pedindo socorro “, conta Luciana.

De acordo com Fábio, não entenderam de início do que se tratava. “A primeira impressão que tivemos, com essas histórias que ouvimos nos noticiários, sobre ter pirataria com turistas, que os assaltantes acabam vindo em uma lancha mais rápida e roubando os tripulantes, ficamos desconfiados por isso”, diz ele.

“A ilha que eles estavam era inabitada, e é proibido desembarcar. Uma pela questão das cobras que vivem lá, tem cinco cobras por m², e outra pela preservação. Conforme fomos chegando perto, vimos que não havia nenhum barco em volta e eles começaram a gritar desesperados. Mesmo distantes, conversamos com eles” afirma Luciana.

“Nessa hora, estávamos vendo três homens, mas mal dava para enxergar, parecia que eles estavam da cor da pedra. Eles estavam bem na beiradinha, junto com as pedras”, declara Sabrina.

“Se tivéssemos passado um pouco mais rápido e desatentos, talvez teríamos passado reto”, completa Fábio.

“Mesmo porque nenhuma embarcação iria para aquele lado por causa do tempo. Nós que tentamos a sorte. Nós não podíamos encostar na ilha para resgatá-los porque se não, o nosso barco seria jogado para as pedras. Não tinha como nos aproximarmos muito. Todo procedimento de resgate, de jogar a boia, foi tentado, mas eles estavam tão desesperados, que já pularam na água e vieram nadando um atrás do outro”, prossegue a mergulhadora Luciana.

De acordo com ela, eles faziam turnos na ilha, por causa das cobras e para ver se apareceria alguém para ajuda-los. Enquanto um dormia, os outros três ficavam  prestando atenção. “Eles naufragaram dia 27 de fevereiro, por volta das 0h00. Eram seis, mas infelizmente os outros dois não conseguiram sair do barco e não foram encontrados. Eles disseram que tiveram até auxilio de garrafa Pet para boiar durante o naufrágio. Passaram a noite dentro do mar, nadando em direção ao vulto da ilha, até amanhecer e chegarem nela, que estava a uns 10km de distância”, relata ela.

Segundo Fábio Costa, os pescadores se alimentaram de cacto no primeiro dia. “Só que tinha uma bananeira lá, mas é um dos lugares que cobra mais gosta de ficar. Em um determinado momento eles viram que não dava mais para pegar o cacto, então um foi lá e conseguiu tirar uma penca de banana. Se arriscando a levar uma picada”, complementa.

“Eles agradeceram muito a Deus quando os achamos. Quando entraram no barco a Sabrina foi muito rápida, foi pegando lanchinho, deu água para eles, porque estavam bem desidratados e transtornados com a situação. Fizemos os procedimentos que nos cabiam fazer: os primeiros socorros, acionamos o Samu para já estarem esperando quando chegássemos na marina com o esquema todo preparado para recebê-los. Todos que estavam no barco ajudaram de alguma forma”, finaliza Luciana.

“Foi surreal! Faz uns dois dias que me dei conta da gravidade da situação. Acho que Deus fez de nós pecinhas, para podermos ajudar. Foi realmente coisa de Deus, porque não era para estarmos ali. Eles são os verdadeiros heróis, qualquer outra pessoa não teria sobrevivido”, comenta Sabrina.

Até o momento, os outros dois pescadores que também estavam no barco no momento do naufrágio não foram encontrados. Segundo os parceiros resgatados, eles não conseguiram sobreviver.

marina (*)  Pequeno centro portuário de recreação usado primariamente por iates privados e botes recreacionais

 

 

Equipe de mergulhadores junto com os pescadores resgatados, sentados na lancha.

 

Luciana e condutor do Samu, prestando auxilio a um dos pescadores.
Por Júlia Sartori