Gazeta Do Rio Pardo

“Lei para crimes sem violência é muito branda”, diz o delegado Wanderley

Delegado Wanderley Martins ( Imagem do facebook)

No cargo há 16 anos, ele explicou sobre flagrante, estelionato e comentou sobre o trabalho da polícia civil na região

O delegado da Dig ( Delegacia de Investigações Gerais) e da Dise ( Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes), de Casa Branca, Wanderley Martins, foi o convidado do ‘Jornal do Meio Dia’, na terça-feira, dia 11 de agosto, para falar sobre assuntos gerais da polícia civil da região. Wanderley explicou sobre flagrante, falou sobre o trabalho da polícia, comentou sobre o homicídio que ocorreu no domingo, em São José do Rio Pardo, e abordou o crime de estelionato, entre outros assuntos. 

Wanderley é formado em direito pela Faculdade de Direito do Sul de Minas, em Pouso Alegre, e pós-graduado em direito processual pela PUC- Minas. Começou a carreira de delegado em Caraguatatuba, onde trabalhou por cinco anos. Atuou sete anos como delegado titular de Mococa, e atualmente, como já citado, está na Dig e Dise há dois anos, em Casa Branca. Ele completou 16 anos na profissão de delegado.

Polícia Civil

“Hoje nós estamos com a equipe reduzida, o que na verdade faz parte de um cenário estadual, temos um déficit de elemento humano na polícia civil, em todas as carreiras, inclusive na de delegado de polícia. Em duas delegacias especializadas teríamos que ter pelo menos quatro delegados. Dois titulares e dois assistentes. Estou lá sozinho. Mas somos vocacionados, gostamos muito do que fazemos. Estamos com quatro investigadores e dois escrivães em Casa Branca. São policiais experientes e bastante comprometidos com a população da nossa região e temos conseguido fazer um trabalho bacana”, contou.

“Nesses 16 anos sempre me dediquei à parte operacional da polícia civil. Claro que temos a parte burocrática administrativa, presido inquéritos policiais, toda aquela materialização formal, ou seja, aquele caderno investigativo, tenho que gerir tudo aquilo, fazer os relatórios. Eu acredito que talvez seja um diferencial para unir a equipe, meu grande trunfo é estar junto com a equipe em campo, porque é ali que as coisas acontecem, que damos apoio ao investigador, o escrivão, para poderem realizar um trabalho investigativo ainda melhor”, destacou.

“Eu cuido das relações públicas da nossa seccional, que foi uma escolha do Dr.Noronha. Sempre me dei muito bem com a imprensa, desde o início da minha carreira, fazia essa parte de comunicação social do litoral norte. Eu acredito que a imprensa tem um papel fundamental dentro de vários trabalhos, inclusive o policial”, completou.

Central de flagrantes

“Foi criada a central de flagrantes, que é sediada em Casa Branca. Ou seja, se ocorrer um flagrante em uma das oito cidades da nossa região, no período noturno ou final de semana, essa ocorrência é apresentada na Central de Flagrantes. Quando estou no meu plantão, qualquer ocorrência de flagrante, é encaminhada para Casa Branca, e no caso sou acionado”, explicou.

“O flagrante é algo muito variado. Existe uma tese em que ele pode ser feito em 24 horas. Mas não é isso, a lei fala que a nota de culpa deve ser expedida em até 24 horas, é um documento que você dá ciência para o preso que ele foi autuado em flagrante por determinado motivo, faz o resumo do fato. Mas existem casos, por exemplo, de perseguição policial, de investigações ininterruptas. Já tive caso de homicídio, que nós iniciamos a investigação em um dia, fomos perseguindo e colhendo provas, e às vezes após dois ou até três dias você chega até o autor e pode fazer o flagrante. Mas isso tem que ser provado para o juiz de direito que é quem vai analisar os fatos que você estava perseguindo aquele autor, e que quando você chegou até ele, você encontrou por exemplo, a arma do crime, que ele confessou, então existem algumas variáveis. O flagrante nem sempre é feito em 24 horas. Se a pessoa foge, e a polícia civil a encontra mesmo após as 24 horas, ela pode ser autuada em flagrante. Normalmente quando as pessoas fogem do flagrante, elas vão para locais distantes e a polícia tem uma dificuldade em encontra-las, aí dependendo do lapso temporal não dá mais para fazer o flagrante. Nesse caso, trabalhamos com a prisão temporária. O delegado junta elementos e provas, e encaminha para o juiz mostrando que existem fortes elementos de que determinada pessoa é autora do crime. Se for um crime grave, o juiz pode decretar, a pedido do delegado, a prisão temporária desse suspeito por dez ou 30 dias”, disse Wanderley.

Homicídio

“O homicídio que ocorreu em São José do Rio Pardo foi um crime gravíssimo, que causa uma comoção social, em uma cidade que tem índices criminais baixíssimos, e acaba chocando. É um crime que tem que ser muito bem investigado de todos os ângulos, todos os aspectos. Tenho certeza que o Dr.Cristiano com sua equipe, vão se dedicar bastante ao esclarecimento, porque envolvem várias pessoas, vários fatores, houve uma morte. Independente de como ocorreu ela precisa ser esclarecida, e tenho certeza que a equipe vai conseguir fazer isso para deixar o caso transparente. O trabalho de investigação é minucioso, mas quando bem executado ele traz resultados excelentes”, afirmou.

Redes sociais

Wanderley falou sobre comentários irresponsáveis em redes sociais, que muitas vezes são precipitados e afetam as famílias de pessoas envolvidas em alguma situação policial. “Nas redes sociais, infelizmente as pessoas acabam extrapolando. Isso tem ocorrido cada vez mais. As pessoas esquecem que as partes envolvidas daquela ocorrência têm famílias. É preciso ter muito cuidado com o que se comenta, mesmo porque as pessoas podem ser responsabilizadas por isso. Existem crimes contra a honra, denunciações caluniosas, calúnias, injúria, difamação, pode gerar processos cíveis de indenização de danos morais, então é preciso ter bastante cuidado com o que se escreve em rede social”, informou.

Estelionato

Ultimamente a região tem enfrentado alguns golpes, como clonagem de cartão, troca de envelopes em caixas eletrônicos, entre outros.

“Infelizmente o estelionato, assim como outros crimes que não envolvem violência, a lei é muito branda em relação a manutenção da prisão desse autor. O que resta a população de bem é tentar evitar cair no golpe. Raramente você consegue prender o estelionatário em flagrante, quando prende, ele geralmente paga a fiança, é liberado e vai voltar a cometer o crime. As pessoas precisam ficar alertas e tomar muito cuidado, principalmente em relação a operações bancárias. Uso de caixa eletrônico, problemas relacionados a cartões. Eu sei que eles usam artifícios muito maliciosos e acabam enganando a pessoa, mas é preciso ter frieza e calma, e sempre bater nessa tecla, evitar auxílio de estranhos, por mais que sejam solícitos e de boa aparência, em estabelecimentos bancários e caixas eletrônicos. E jamais entregue seu cartão de crédito a uma pessoa que vai até sua casa recolher”, encerrou.