Gazeta Do Rio Pardo

Excessos nas redes sociais provocam danos

Excessos nas redes sociais provocam danos

Alerta é do psicólogo Ângelo Missura Neto, que alerta para a falta de comunicação

O psicólogo clínico Ângelo Missura Neto, que atua não apenas em seu consultório mas também nas áreas da saúde em São José do Rio Pardo e São Sebastião da Grama, concedeu entrevista a Luis Henrique (Lique), da rádio Difusora, sobre a influência atual das redes sociais nas famílias. Ele refutou, inicialmente, qualquer possibilidade da não utilização do celular na sociedade atual porque ele já faz parte do cotidiano de todos.

“O celular não é o vilão. O problema é o excesso e tudo o que é excesso pode virar doença. É como o sal: a falta dele torna a comida ruim, o excesso a torna insuportável”, alertou. “O conselho que dou aos pais é: muito diálogo. Pare, converse, não atenda o celular na hora do almoço. Aquela é a hora da convivência. Depois disso, que cada um vá para seu canto e veja as redes sociais”.

Ele explicou que, dentre as adicções (obsessão compulsiva para consumir qualquer tipo de droga que modifique o comportamento) atuais, a psicologia inclui a compulsão ao uso exagerado das redes sociais. “As pessoas podem perder o limite e o controle e passar a usar excessivamente esses meios das novas tecnologias”.

Ângelo lembra que a tecnologia é um mundo virtual que distancia as pessoas, ao contrário, por exemplo, dos lugares ou épocas em que as crianças brincavam muito mais nas ruas, pulavam corda, subiam em árvores e, consequentemente, conviviam muito mais entre si. E esse distanciamento, segundo ele, atingiu a todos, crianças, adolescentes e adultos.

“Hoje um dos maiores conflitos que temos nas empresas e na sociedade é a falta de comunicação. Nas redes sociais você comunica, você pode ser quem você quiser ser, do jeito que você quiser, ninguém tá te vendo ou julgando. Porém, na vida não é assim porque a gente precisa se relacionar. E aí há conflito no casamento, nas relações entre funcionários e empresas, entre pais e filhos, porque se torna algo viciante”.

Coisas boas e ruins

A natureza dessas novas tecnologias tem a ver com a imagem, que é muito impactante e vem antes da palavra. “A imagem, seja no facebook, no whatsapp ou no computador, cativa cada pessoa que a acessa por uma hora, no mínimo. Tem coisas muito boas, tem coisas muito bacanas, mas também tem coisas muito ruins e muita porcaria. A gente tem que aprender a filtrar e não ir para o excesso”.

O psicólogo afirma que hoje há um grande drama social nas famílias decorrente desse excesso, ou seja, os integrantes das famílias não falam mais entre si nem mesmo durante as refeições, preferindo os celulares. Isso, na visão dele, causa a perda da história familiar e individual e também a perda de tempo. Ângelo ressalva, no entanto, que não se pode ser contrário à tecnologia, até porque ela está em todo lugar, mas reitera que os excessos estão danificando as pessoas.

Ele fez um alerta aos pais: “Monitorem seus filhos, vejam com quem eles compartilham porque hoje há blogs e sites que os incentivam às drogas, ao suicídio, à anorexia, ao bullying. Há até uma série muito famosa da Netflix, As Treze Razões, onde literalmente uma menina descreve o próprio suicídio e os adolescentes ficaram expostos à essa série. Então precisamos saber que conteúdo eles estão vendo e precisamos por tempo e limite. Esse limite pode chegar ao ponto de esse celular ser recolhido pelos pais e os filhos saberem que há outras coisas a serem feitas, principalmente conversar, relatar como foi o dia”.

Somos lentos

Ângelo definiu o ser humano como “uma máquina antiga de 40 milhões de anos, que requer tempo para elaborar e digerir as coisas”, contrapondo-se à tecnologia atual, que exige tudo muito rápido. “A medicina nos diz que para o corpo digerir uma carne, demora 8 horas. Não somos rápidos, mas lentos. Para uma criança falar demora um ano e meio a dois anos. Para andar, também dois anos. Para escrever, de cinco a sete anos. Hoje o adolescente não lê mais, só vê imagens, que são rápidas demais. Ou, no máximo, lê uma frase de alguém e acha que já conhece a pessoa, mas não é assim que funciona. Como então ele criará alguma coisa se não tem leitura?”     

O resultado dessas práticas atuais, principalmente no meio dos jovens, é, segundo o psicólogo, que no futuro se tornarão profissionais rasos, superficiais, sem profundidade alguma sobre qualquer assunto porque negligenciaram a leitura. Sem contar que, cada vez mais, começam a se multiplicar os problemas de visão e insônia nesses jovens por ficarem expostos demais à luz do celular e do notebook, tornando-se uma geração muito agitada por não conseguirem dormir o suficiente. “Agitação, falta de atenção e problema de aprendizagem são as consequências disso tudo, ainda que o celular e o computador possam ser grandes aliados do conhecimento se forem bem utilizados”.

Separações

Mencionando uma pesquisa norte-americana, Ângelo relata que 66% das separações conjugais são decorrentes do facebook. “A carência de relacionamento conjugal no lar e a intolerância mútua levam as pessoas a procurar, via facebook, um relacionamento extraconjugal que compense essa falta. Se esse excesso nas redes sociais continuar neste ritmo, ficará insuportável aprender a conviver e a estar junto com alguém. Cito sempre uma frase do Martin Luther King, que foi assassinado há 50 anos: ‘Nós aprendemos a nadar como os peixes e a voar como os pássaros, mas ainda não aprendemos a difícil arte de conviver com os irmãos’ ”.

Ângelo Missura ouvindo adolescentes em evento escolar: jovens são atraídos por imagens, mas não por textos