Estudos sobre o imunizante está na fase 3, com eficácia que já ultrapassa 79%
A dengue é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das 10 maiores ameaças à saúde pública global, causando cerca de 400 milhões de infecções no mundo, todos os anos, devido à grande distribuição territorial do mosquito Aedes aegypti, que abrange regiões tropicais e subtropicais. Com a existência de quatro sorotipos e o revezamento periódico entre eles, a probabilidade de reinfecções e ocorrência de casos graves da doença aumenta.
No continente americano, o Brasil é o país com maiores índices de casos. Segundo dados do Ministério da Saúde, só nos primeiros oito meses de 2022, o país registrou mais de 1,3 milhão de diagnósticos clínicos de dengue, o que representa um aumento de 189 vezes dos casos registrados em todo o ano de 2021.
Apesar da maioria das infecções ser assintomática ou se manifestar de forma leve, cerca de meio milhão de pessoas ao redor do globo podem apresentar sintomas graves e precisar de hospitalização. Os sinais mais característicos da dengue são febre alta, manchas vermelhas, dor ao redor dos olhos, dores musculares e nas articulações. Nos casos graves, a chamada dengue hemorrágica, podem ocorrer sangramentos intensos, queda súbita da pressão e até morte.
Vacina para o SUS
Na busca por solução ao problema, desde 2009 o Instituto Butantan, em São Paulo, vem trabalhando pelo desenvolvimento de uma vacina, eficaz contra os quatro tipos de vírus da dengue. O estudo avançou e, em 2016, começaram a fase 3 dos testes.
Até aqui, 16.235 voluntários participaram do estudo. O público é formado por pessoas nas três faixas etárias (2-6, 7-17 e 18-59 anos). Do total de 10.259 que receberam a vacina, somente três (menos de 0,1%) apresentaram eventos adversos graves relacionados ao imunizante.
Com base nesses dados, o Butantan considera que a vacina, chamada de “i.e. Butantan-DV”, apresentou 79,6% de eficácia geral para prevenir a doença. Os resultados referem-se às análises realizadas entre fevereiro de 2016 e julho de 2021, por 16 centros de pesquisa em diferentes regiões do Brasil.
“Este dado representa um importante marco para a comunidade científica brasileira no combate à dengue, que é um problema de saúde pública global. Há uma grande expectativa que esta vacina se torne uma medida de prevenção para casos de dengue, sintomática e grave, impactando positivamente a população”, destaca a diretora médica do Butantan, Fernanda Boulos.
A expectativa do Butantan é disponibilizar o imunizante para o Sistema Único de Saúde (SUS), após a conclusão do ensaio clínico, prevista para 2024, quando os resultados finais serão submetidos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para avaliação.