A procura é grande, mas há escassez de veículos para pronta entrega nas concessionárias
Segundo dados da Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores -, a alta dos combustíveis tem refletido diretamente no mercado de veículos pelo país. Assim, no mês de março – quando se deu o último levantamento, as vendas de motos superaram as de automóveis no Brasil. De acordo com os números, as vendas cresceram 46,7% em março sobre fevereiro e expressivos 33,7% nos primeiros três meses deste ano.
Em São José do Rio Pardo, as Concessionárias Honda e Yamaha confirmam o aumento na procura pelas motos, mas o mercado das 0km passa por uma dificuldade momentânea. Faltam produtos à pronta entrega. O motivo? A Covid-19.
Assim como aconteceu com os carros, também há falta de componentes e peças para a montagem das motos, o que gera fila de espera pela entrega. Como não há estoque, os modelos mais básicos podem demorar de 30 a 60 dias ou mais para chegarem aos compradores. Já os modelos de maior cilindrada, podem demorar até 6 meses.
Efeitos da pandemia
Na Motocor Honda, Juliana Zanetti explica que a escassez das motos 0km se deve aos graves momentos vividos pela cidade de Manaus durante as ondas da Covid-19. Na capital Amazonense, o descontrole da pandemia fez milhares de vítimas fatais, a cidade enfrentou a falta de oxigênio e as fábricas fecharam por longo período.
Na retomada, o volume de trabalhadores na fábrica de motos foi reduzido e o atendimento da demanda foi limitado. Além disso, a marca enfrenta a falta de peças e componentes eletrônicos, assim como aconteceu com a indústria automobilística em todo o mundo. E outro agravante é a falta de contêineres para o transporte, o que também é um dos efeitos da pandemia na economia global.
Superadas essas dificuldades, segundo Juliana, a concessionária tem focado na venda dos consórcios, modalidade que cresceu bastante, mesmo durante a pandemia. Por outro lado, se diz preocupada com o mercado, ainda incerto neste início da retomada econômica.
Entre os modelos mais buscados pelos consumidores ela diz que estão as streets de baixa cilindrada, como scooters, CG e também os modelos NXR, mas nem sempre há pronta entrega e a fila de espera pode chegar a 60 dias.
“Sem essa disponibilidade imediata, aquelas vendas de impulso acabam prejudicadas. O comprador vem na loja para ver e levar a moto. Se não tem, quando chega a gente retoma o contato e muitas vezes o cliente já investiu o dinheiro em outra aquisição”, comenta Juliana.
Aumento do combustível
Na Vime Motos Yamaha a situação não difere muito. No ano passado, conforme diz o gerente, Aisbert Andreguetto, houve um aumento de aproximadamente 30% nas vendas, em comparação a 2020.
“Este ano a demanda também está alta, mas não temos produto o suficiente para atender a essa procura”, afirma, observando que “um dos principais motivos dos clientes procurarem por motos, é o aumento no preço do combustível”.
A marca também registra a falta de insumos e peças para a produção das motos, o que resulta na pouca oferta de veículos disponíveis. “Por este motivo estamos com uma fila de espera. Estamos enfrentando falta de insumos na produção de peças que são utilizadas nas motos. Principalmente componentes eletrônicos que estão em falta no mercado”, ressalta, explicando que o prazo para entrega também ultrapassa os 30 dias.
“O prazo varia de modelo para modelo. De 30 dias a 6 meses de espera. Segundo a fábrica, a partir do segundo semestre desse ano, a produção vai se normalizar. Mesmo que os produtos apareçam hoje, demoram alguns meses para normalizar a situação, já que depende da fabricação”, completa.
Na concessionária, as motos mais buscadas pelos consumidores são as de 250 cilindradas, para as quais há fila de espera.
Motos usadas
Se por um lado a alta dos combustíveis tem feito motoristas migrarem para as duas rodas, a combinação de escassez nas concessionárias de motos zero km, com a dificuldade de entrega e os proprietários enxergando oportunidades de ganharem um extra – puxou para cima o preço das motos usadas.
Com a inflação nos valores da tabela FIPE – Fundação Instituto de Pesquisa Econômica, a expectativa de venda das usadas esbarrou em outra realidade e o segmento estacionou. O motivo: nesse período de economia em sobressaltos, os juros bancários aumentaram muito e os consumidores já endividados ou com pouca renda não têm conseguindo atender aos critérios para financiamentos.
Na Stocco Motos, uma das principais lojas do setor em São José do Rio Pardo, Vanderlei Donizeti Stocco explica que a pandemia limitou a renda e quem se comprometeu não consegue financiamentos.
“Crédito existe, mas algumas pessoas não estão em condições de buscar porque comprometeram a renda”, analisa Stocco.
Ele comenta que os financiamentos mais procurados pelos compradores são os de 36 e 48 meses de parcelas. “E tem ainda a compra no cartão de crédito, que gira em torno de 25 a 30%”, afirma, observando que pelo menos 20% dos negócios fechados são à vista.
Conforme diz, a procura pelas motos de baixa cilindrada aumentou bastante. “As mais procuradas são as de 125, 150 e 160. Acima disso a procura é menor, mas a explicação é porque motos de maior cilindrada consome mais e o comprador quer economizar no combustível”, destaca.
“E nem sempre é possível atender porque tem faltado moto. Mas a gente sai procurando em outras cidades até conseguir aquela que o comprador precisa”, conta.
Com 35 anos negociando motos e 28 de loja, Vanderlei Stocco considera que o momento é de retomada gradativa e que as dificuldades de momento serão superadas em médio prazo. “Nós ficamos dois anos parados. Nesse período o combustível aumentou, as pessoas querem economizar e a procura pelas motos cresceu. Por isso a elevação dos preços. Mas isso vai se normalizar daqui a pouco”, diz, observando que o mercado já passou por momentos semelhantes.