Aleitamento deve ser exclusivo até o sexto mês; bebê deve ter o alimento disponível a livre demanda
O oitavo mês do ano chegou, e junto com ele inicia-se a campanha “Agosto Dourado”, que simboliza a luta pelo incentivo à amamentação. A cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por ano, cerca de seis milhões de vidas são salvas por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva até o sexto mês de idade. Os índices de aleitamento materno estão aumentando no Brasil, de acordo com resultados preliminares do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) do Ministério da Saúde. Foram avaliadas 14.505 crianças menores de cinco anos entre fevereiro de 2019 e março de 2020. O resultado mostrou que 53% das crianças brasileiras continuam sendo amamentadas no primeiro ano de vida. Entre as menores de seis meses o índice de amamentação exclusiva é de 45,7%. Já nas menores de quatro meses, de 60%.
Para falar sobre os benefícios da amamentação e esclarecer as dúvidas mais comuns de mães de primeira viagem, a pediatra Letícia Barbosa concedeu uma entrevista para falar sobre a importância do tema.
De acordo com um estudo realizado por pesquisadores do Hospital Infantil de Los Angeles, na Califórnia (Estados Unidos), um carboidrato chamado 2’FL, presente no leite materno, consegue melhorar o neurodesenvolvimento dos bebês. A pediatra falou sobre as vantagens da amamentação. “Os benefícios que o aleitamento materno traz são inúmeros. Na parte nutricional ele é o alimento mais completo que existe. Ele tem todos os nutrientes, toda fonte de proteína, gordura e de energia completa e perfeita para tudo o que o neném precisa. Além disso, temos o vínculo entre mãe e filho melhorado. Quando a criança é amamentada no peito, após crescer, terá um melhor rendimento escolar, melhor desenvolvimento esportivo, melhor controle psicológico. Terá inúmeros benefícios. Quanto a mãe, ajuda na nutrição, no emagrecimento do peso ganhado durante a gestação e a criar o vínculo com o neném, que é uma novidade muito grande na família, principalmente quando é o primeiro bebê. Tem a imunidade também de muitas doenças que a mãe teve ao longo da vida, que é passada pelo leite”, revelou.
Segundo a médica, é muito importante que durante o pré-natal, além do acompanhamento com nutricionista, a mãe comece a partir do 3º trimestre frequentar um pediatra, para fazer a preparação dos seios.
Alimento exclusivo
Até o sexto mês, o bebê deve ser alimentado exclusivamente com o leite materno. “Ele não precisa de mais nada até essa idade. Não precisa de chá, de água, de nenhum complemento. Só o leite já é o suficiente para satisfazer todas as necessidades nutricionais do bebê”, explicou.
Ausência da amamentação e dificuldades
Após o nascimento da criança, algumas mães apresentam dificuldades que levam a deixar de amamentar. Letícia falou sobre o caso. “Acho que a grande maioria deixa de fazer isso por insegurança e falta de informação, por isso é tão importante ter um acompanhamento com pediatra e ginecologista durante esse período. A falta da amamentação com leite materno, pode ser prejudicial, porque além de deixar de ter todos os benefícios, isso acaba introduzindo outros alimentos precocemente ao bebê, que não vão fazer bem nesse momento da vida”, disse.
Algumas mulheres relatam não ter produção de leite, e segundo a pediatra, apesar do fato ser raro, pode acontecer. “Isso pode ocorrer em casos de desnutrição materna, em mães que estão passando por algum quadro de depressão ou psicose pós-parto. Podemos afirmar que 99,99% das mães são capazes de amamentar exclusivamente no seio. Elas produzem leite o suficiente”, contou.
O alimento indicado para substituir o leite materno nesses casos, é a forma láctea. “As fórmulas são compostas pelo leite de vaca na maioria das vezes, e existem algumas com o de soja, mas ele é modificado em laboratório para ficar o mais próximo possível do leite materno, ainda assim, não é igual. Mas são indicados quando a mãe não pode amamentar”, revelou.
A demora para produzir o leite após dar à luz, é uma das queixas relatadas pelas mulheres. “Acontece principalmente em casos do parto cesária. Quando é parto normal, o próprio corpo vai produzindo hormônios, percebendo que o neném vai nascer. Quando fazemos a cesária, às vezes o corpo ainda não percebeu, porque o neném nasceu de supetão. Então pode demorar até três dias para o leite descer. O que tem que ser feito nesse período é oferecer o seio mesmo que com pouco leite. A mãe precisa tomar bastante água, e na maioria dos casos não precisa nem complementar com fórmula, é só aguardar que esse leite vai vir”, afirmou.
“Para evitar dor durante a amamentação, é importante procurar o pediatra antes do bebê nascer para preparar a mama, corrigir a pega. A mãe deve procurar ajuda, não deve ficar passando dor em casa sozinha”, reforçou.
Dor durante a amamentação, rachadura nos seios, dificuldade na pega, são as principais queixas das mães. “O bebê já nasce sabendo sugar, mas ele precisa aprender a mamar no peito da mãe dele, e às vezes elas precisam de ajuda”, disse.
Água é fundamental para amamentar
A pediatra explicou que a ingestão de água auxilia diretamente na produção do leite materno. “A maioria dos alimentos que as pessoas citam de forma cultural, como cerveja preta, canjica, é muito mais mito. O que ajuda na produção de leite é a própria amamentação do bebê, porque quanto mais ele suga mais leite a mãe produz, e também a água”, revelou.
Segundo ela, nenhum alimento prejudica a produção do leite. No entanto, alguns passam por ele e acabam causando prejuízo ao bebê, principalmente bebidas alcoólicas.
“Tudo o que a mãe come, influencia inclusive no sabor do leite. Mas isso não está relacionado no caso do bebê ter mais cólica, ficar mais doente. O leite é reflexo da mãe, se ela se alimenta bem, com alimentos orgânicos, de boa qualidade, o leite automaticamente será melhor do que o de uma mãe que só come pizza e toma Coca-Cola, por exemplo”, disse a profissional.
Livre demanda
Para amamentar, não existem horários exatos. “A amamentação tem que ser a livre demanda, então ela não é marcada no relógio, ela deve ser dada conforme a necessidade do bebê. É preciso esvaziar primeiro uma mama para depois passar para a outra. Não precisa trocar a cada mamada. Mesmo porque o leite anterior, é mais rico em água, o posterior, do final, é mais gorduroso. Se a gente troca de seio, a criança acaba tomando só água e não sustenta. É até esvaziar, e aí sim vai para a outra mama”, orientou.
Leite empedrado
O leite empedrado, conhecido cientificamente por ingurgitamento mamário, geralmente ocorre quando há um esvaziamento incompleto das mamas. “Algumas mães produzem bastante leite e o bebê não consegue esvaziar completamente o seio. Para evitar esse empedramento, a sucção do bebê é a melhor forma de extrair o leite, e também é importante extraí-lo entre as mamadas para que a mama não fique muito cheia”, instruiu.
Retornando ao trabalho
“Infelizmente no Brasil a licença maternidade é de apenas quatro meses na maioria dos locais, então quando a mãe volta ao trabalho o neném ainda está mamando só no peito. Têm como ordenhar esse leite materno e armazenar para oferecer no copinho nos intervalos que a mãe não está em casa. Tem como a gente preparar essa mãe um pouquinho antes, principalmente na parte psicológica para continuar oferecendo o leite materno. Mas quando a jornada de trabalho é muito longa, acabamos complementando com alguma fórmula”, comentou Letícia.
O leite materno pode ficar congelado no freezer até 15 dias. Em geladeira comum, é recomendado o armazenamento de até 12 horas. Já em área ambiente, de uma a duas horas no máximo. “De preferência são usados potes de vidro, com tampas de rosca, pode ser esterilizado em casa. É só ferver o pote e deixar secar de boca para baixo. Depois de ordenhar é só colocar no potinho, tampar, colocar no freezer, na hora de descongelar é só deixar na porta da geladeira até quebrar os cristais e depois aquecer em banho-maria”, explicou.
HIV impede amamentação
No caso de doença materna, o HIV impede a amamentação. “É totalmente contra indicado, porque pode acontecer a passagem do vírus pelo leite. Aqui em São José do Rio Pardo eu não vejo uma incidência grande de mães com HIV. Quando eu trabalhava em Santos, lá tinha uma incidência bem mais alta. Felizmente aqui na região temos menos, mas pensando a nível brasileiro ainda temos muitos casos de mães com HIV”, destacou.
Cigarro e álcool
Que o álcool e o cigarro são extremamente prejudiciais a saúde, todos já sabem. Mas esses dois fatores podem afetar diretamente o bebê pela a amamentação. “O álcool e o cigarro interferem muito. O álcool interfere desde a gestação. Temos uma condição que se chama síndrome alcoólica fetal. Qualquer nível de ingestão de álcool durante a gestação, pode causar problemas graves no neném, e eles não são aparentes no nascimento da criança, isso percebemos na fase escolar, com atraso de desenvolvimento, risco aumentado de autismo. Já o cigarro age diretamente no neném, ele pode atrapalhar até o crescimento dentro da barriga. Na amamentação, o álcool passa em quantidades consideráveis pelo leite materno. O bebê fica embriagado, vai apresentar sintomas de alcoolismo e ter um risco aumentando de vício em álcool. E o cigarro mexe com toda a parte respiratória. O mesmo vale para o uso de drogas. Durante a gestação e amamentação, é importante morar em uma casa onde não tenham pessoas fumando, não apenas a mãe”, alertou.
Quando parar de amamentar?
“A questão sobre quando parar de amamentar, é algo muito pessoal entre a mãe e o neném. O preconizado pelo Ministério da Saúde, é que amamente exclusivamente até os seis meses, e continue amamentando até pelo menos dois anos de idade. As mães podem amamentar até quando acharem que devem, não tem idade limite”, informou.
Atendimento
As mães que tiverem dificuldade com o aleitamento, podem recorrer a pediatria pelo SUS, no Centro de Saúde. A unidade rio-pardense conta com enfermeiras capacitadas e pediatras disponíveis todos os dias de segunda a sexta-feira das 7h00 às 17h00.
A pediatra Leticia Barbosa atende no Centro de Saúde de São José do Rio Pardo, em Tapiratiba e na Saúde da Mulher de terça-feira de manhã. Além disso, a médica presta atendimento em seu consultório particular, localizado na Avenida Independência, 332, Centro. Para mais informações, o telefone de contato é (19)3681-4648.