Juliana Flausino, nova secretária de saúde, fala dos desafios do cargo e dos serviços municipais
Juliana Flausino, a nova secretária municipal da Saúde, concedeu uma entrevista ao ‘Jornal do Meio Dia’, na rádio Difusora FM, na terça-feira, dia 05. Ela falou inicialmente sobre sua formação e experiência na área da saúde, e aproveitou para atualizar os munícipes sobre informações relacionadas ao Covid-19 na cidade.
Formação
“Sou enfermeira, me formei há 20 anos pela USP de Ribeirão Preto. Antes de me formar já recebi o convite para trabalhar aqui em São José do Rio Pardo. Nasci e fui criada na cidade, sai só para estudar e depois que me formei já retornei para trabalhar na prefeitura. Comecei na vigilância epidemiológica, foi na época que começamos nos anos 2000 a Estratégia Saúde da Família aqui no município, e logo eles me contrataram para trabalhar no ESF do Vale. Fiquei lá por mais de 10 anos, depois passei um período no ESF do Cassucci. Fiz mestrado e comecei a entrar nesse mundo da gestão para adquirir um conhecimento mais avançado nessa área. Depois do mestrado retornei ao município como celetista, funcionária pública mesmo. Depois comecei como articuladora da Estratégia Saúde da Família. Até o momento eu era responsável pelas oito equipes de Saúde da Família que temos no município e pelas três equipes de atenção primária”, contou.
Desafios
“São vários desafios. É um momento tumultuado, estamos em plena pandemia, temos a questão da dengue, H1N1 e várias outras situações. O que mais me motivou foi eu já fazer parte da gestão da equipe que estava no comando da Márcia, então eu vi a oportunidade de dar continuidade em um trabalho que já estávamos fazendo, já tínhamos planejado e que estava caminhando bem. Minha expectativa é conseguir dar conta do recado que me foi colocado. Estou extremamente feliz, fiquei muito confortável com todas as manifestações de carinho que recebi, o pessoal me deu muito apoio. Estou muito feliz”, agradeceu.
“Estou com um sentimento de responsabilidade imenso e muito motivada, até para dar conta dessa expectativa que estão depositando sobre mim. Tenho uma longa jornada no município, estou, na medida do possível, fazendo de tudo para que a gente caminhe da melhor forma possível. A equipe vai estar se mantendo da forma como já vínhamos trabalhando e abracei a questão. Torço para que tudo dê certo”, disse Juliana. “A princípio não teremos mudanças na Secretaria da Saúde. Vamos manter o plano que já tínhamos organizado e que já estava sendo desenvolvido”, completou.
Testes
Juliana explicou como funcionam os testes para coronavírus e para quem são indicados. “Não temos capacidade a nível de Brasil nesse momento para testar todos. Estamos seguindo o protocolo do Ministério da Saúde onde esses testes são direcionados para os casos graves e para os profissionais de saúde. Essas pessoas que foram testadas, foram em condições que identificamos como graves. As pessoas que estão em isolamento domiciliar são casos suspeitos, mas nesse momento não se enquadrariam nos requisitos para serem testados. Então eles devem permanecer sem sair do domicílio por 14 dias, e fazemos esse monitoramento a domicílio. Depois que atinge os 14 dias, temos que esperar 72 horas para ver se não ocorre mais nenhuma manifestação. Se não tiver nenhuma manifestação que mantenha a suspeita, eles são liberados”.
Sob controle
“Estamos em um momento confortável em São José. Isso porque desde o início a população entendeu a necessidade de permanecer em casa, de seguir as orientações de cuidado que foram solicitadas. Além disso, aqui no município conseguimos nos organizar também para antecipar medidas. Tem cidades que ainda estão decretando o uso obrigatório das máscaras, já fizemos isso há um bom tempo. Fizemos a organização para um isolamento domiciliar, fechamento do comércio”.
“Essas medidas que foram tomadas preventivamente, que podem até ter parecido algo exagerado, foram essenciais para conseguir ter um controle da situação. Estamos conseguindo identificar esses casos suspeitos, internar quando são característicos de internação, manter em isolamento domiciliar e estamos conseguindo organizar nossa rede. Espero que esse quadro se mantenha para que possamos passar por tudo isso de uma maneira confortável. Mas para isso precisamos continuar tendo apoio da população”, declarou.
Normalização
“Temos previsões otimistas de que as coisas possam começar a voltar ao normal em setembro. Até lá teremos que estar nos mantendo em stand-by, aguardando o que pode ser aguardado para não nos expormos ao risco. É uma doença muito nova. As manifestações que foram apresentadas na China, já não são as mesmas que estamos tendo aqui. O vírus está em mutação, estamos o tempo todo recebendo novidades sobre isso”, afirmou.
SUS
“Temos nossas peculiaridades. Contamos com um ponto muito forte que é o nosso sistema público de saúde. Temos condições de ofertar uma assistência de qualidade pública, temos condições de nos organizar e nos mobilizar para resolver tudo isso. Isso também tem colaborado com resultados positivos”, disse Juliana.
Reincidência
“Por conta da mutação do vírus, temos casos suspeitos de reincidência do vírus, mas ainda estão em estudo. Não podemos afirmar que a pessoa que pegou uma vez não vá pegar outra. O cuidado deve continuar”, informou a secretária.
Comércio
“Para o comércio reabrir dependemos de regulamentação e liberação estadual. Temos que obedecer os decretos estaduais. Estão fazendo uma especulação, o decreto estadual termina dia 11 e parece que saem novas orientações por região a partir de agora. As regiões que estiverem mais tranquilas, estão prevendo que possa ter uma flexibilização. Mas aqui em São José dependemos desse decreto estadual, porque houve municípios que se anteciparam e abriram o comércio, no mesmo dia veio o Ministério Público e mandou fechar. Por isso dependemos das orientações estaduais”.
“Mas estamos muito sensíveis com relação ao comércio, a necessidade das pessoas voltarem a trabalhar e a ter uma vida normal. Temos que pensar no lado da saúde e também na economia. Já nos reunimos com os comerciantes, a intenção é que se tenha um preparo assim que for possível essa liberação, onde todos entendam a necessidade do uso das máscaras, da higienização das mãos. Tudo o que for legal, estaremos seguindo e fazendo esse suporte para que seja feito com segurança”, declarou.
Atividades físicas
Juliana foi questionada sobre a reabertura das academiais e centros de esportes, já que segundo estudos, as atividades físicas ajudam a fortalecer o sistema imunológico e são de extrema importância para o bem estar do ser humano.
“A prática da atividade física é uma medida de saúde. Tem muitos que questionam se não será relacionado à parte de imunidade, fortalecimento do organismo. Nós entendemos que sim. Mas precisamos fazer com que essa prática seja desenvolvida com segurança. Nesse momento, não é o mais indicado. Desde que seja colocado dentro de serviços essenciais, estaremos nos organizando para fazer essa liberação da forma mais segura o possível”.
“A recomendação será a mesma do comércio. Higienização do ambiente, terão que ter profissionais voltados para a área de limpeza, preparados e capacitados, a rotina terá que ser intensificada, limpeza de banheiros, maquinários. Os professores e alunos terão que fazer o uso de máscaras, higienização. O número de pessoas dentro do local terá que ser o mais restrito o possível”, comentou.
“Me coloco no lugar de quem está aguardando isso, porque sou praticante de exercício físico desde que me conheço por gente. As pessoas sentem essa necessidade, até pela questão de bem estar, de saúde mental que precisamos nesse momento. Mas temos que pensar também na questão do adoecimento. Toda vez que saio de casa, corro o risco de colocar a mão em um lugar que esteja contaminado, de levar uma possível contaminação para outras pessoas, a gente tem que ter essa consciência coletiva”.
“Quando tudo for liberado, e tivermos autorização para isso estaremos fazendo com comemoração. Quanto as pessoas que não conseguem ficar sem, que precisam fazer pelo menos meia hora de caminhada por dia, devem procurar um local que não tenha muitas pessoas, usar máscara, lavar muito bem as mãos antes de sair, lavar quando for voltar, tirar o sapato quando for entrar em casa. Mas se a pessoa conseguir ficar em casa, deve ficar. O ideal é não sair”.
Pacientes de outros municípios
A ocupação dos leitos de UTI da rede estadual na Grande São Paulo chegou a 89% e elevou a pressão sobre o sistema na região a um nível que o governo decidiu enviar os pacientes graves para tratamento no interior de São Paulo. Durante a entrevista, a secretária falou sobre a possibilidade de pacientes de São Paulo serem atendidos em São José.
“Temos alguns princípios de organização do próprio SUS, porque nenhum município consegue dar conta da sua saúde por si só. Aqui em São José, por exemplo, recebemos pacientes de determinados municípios para fazer algumas cirurgias e os daqui também vão para outros municípios para fazer outro tipo de cirurgia, para que todos consigam ter o acesso à saúde em si. A partir do momento que não tenha mais esses leitos na Grande São Paulo, podemos ter que receber esses pacientes sim. Porque temos um serviço de regulação, que se chama Cross, ali todos os leitos ficam cadastrados, todo o sistema que o município apresenta de saúde. Se tiver leito vago, pode ser que chegue paciente para nós sim. Vai prejudicar os que moram aqui? Vai depender da situação em que se encontra o município. Hoje nós temos 13 respiradores na Santa Casa. Temos sete leitos de UTI, dentro desses leitos nós já programamos um para que seja de tratamento exclusivo de Covid-19. Temos respiradores no centro cirúrgico, no centro obstétrico e no Pronto Socorro que vamos poder utilizar. Então teríamos esse aporte, tudo vai depender de quantas pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo. Até hoje não precisamos usar os respiradores”, contou.
Todos suspeitos
“Dentro das normas, hoje, no município, nós consideramos todos suspeitos. Temos casos confirmados de pessoas que não tiveram contato direto com ninguém que estava doente, e que não viajaram. Então essas pessoas pegaram aqui dentro, em algum lugar. Por esse motivo consideramos todos suspeitos e estendemos as precauções padrões para todos. Nesse tipo de paciente, é claro que a precaução vai ser triplicada, vamos fazer de tudo para que não ocorra contágio. Mas não temos como garantir”, afirmou.
Comitê
“O Comitê de Crise está atento a todas as orientações, recomendações e dificuldades, desde sempre trabalhamos de forma antecipada. As ações têm sido bastante efetivas. Nesse momento a maior preocupação do Comitê é aporte, que nós precisamos organizar no município caso os casos aumentem muito, para que possamos dar conta, e também a questão do comércio. Estamos fazendo muitas reuniões com a ACI, Sindicatos, para desenvolver medidas seguras para que dentro da legalidade as atividades voltem a funcionar”, encerrou.