Gazeta Do Rio Pardo

Brasil poderá enfrentar 4ª onda de Covid-19 em 2022

Marcelo Galotti, infectologista

Infectologista comenta sobre a importância de vacinar crianças contra a doença

Na terça-feira, 28 de dezembro, o mundo registrou pela primeira vez mais de 1 milhão de casos de Covid-19 em um único dia: foram 1,4 milhão de novas infecções. Os dados são da plataforma “Our World in Data”, ligada à Universidade de Oxford. Especilistas afirmam que os casos da doença tem aumentado em grande velocidade no mundo. Em contra partida, de acordo com o Our World in Data, a média móvel de mortes de sete dias verificada na segunda-feira (27)  foi de 6,4 mil mortes. Os números são os mais baixos desde o fim de outubro do ano passado. Além do registro de mais de 1 milhão de casos de coronavírus em um único dia, outro assunto que segue ganhando destaque na imprensa mundial, é sobre o aumento de registros da variante Ômicron, descoberta na África do Sul em novembro. 

O infectologista Marcelo Galotti falou sobre o aumento exorbitante de casos de Covid-19 no mundo.

“Isso é a quarta onda. O grande problema das variantes, e parece que a Ômicron vai no mesmo sentido, é que a vacina em duas doses, está conseguindo manter proteção para hospitalização e morte, mas a proteção sobre contrair a doença, o imunizante não está conseguindo oferecer, e essa consequência ocorre principalmente em cima dos não vacinados. O grande contingente de pessoas que estão pegando a doença, está na turma dos não vacinados, tanto de países pobres que não tem dinheiro para a vacina, quanto dos negacionistas. O Reino Unido está com 100 mil casos, assim como a Alemanha e os EUA. Mesmo nos países ricos que fizeram as duas, e até três doses, a incidência de casos é muito alta, e isso preocupa”, revelou.

Ômicron

Segundo pesquisadores, a Ômicron é 4.7 vezes mais transmissível que a Delta, que é 6 vezes mais que a Alfa-  variante 2 vezes mais transmissível que a Sars- CoV-2, a cepa original.  “No entanto, a Ômicron tem a vantagem de não transferir esses números em morte, quando a pessoa já é vacinada. Em breve, como consequência, os hospitais de campanha terão que reabrir, não terá outra saída”, disse.

Brasil poderá ter 4ª onda

De acordo com Marcelo, o Brasil corre um risco real de enfrentar uma quarta onda, assim como está acontecendo em outros países. “Os números aqui já começaram a aumentar. Nos outros países, aumentou porque eles tem festas, Natal, férias coletivas, turismo e variante Delta. No Brasil temos tudo isso. A única diferença é que lá eles já tem inverno e nós ainda não. No entanto, daqui alguns meses também teremos, e além disso, temos o Carnaval. Não podemos nos iludir e achar que isso não irá acontecer também no Brasil”, alertou.

Vacinação em crianças

Estados Unidos e boa parte dos países da Europa Ocidental estão entre as 42 nações que já aprovaram a vacinação de crianças de 5 a 11 anos para prevenir a Covid-19. No Brasil, embora a Anvisa já tenha autorizado o uso do imunizante da Pfizer nessa faixa etária, a decisão sobre a imunização das crianças foi adiada para janeiro. O governo federal alega a necessidade de realizar previamente consulta e audiência pública, antes de começar a vacinar. O infectologista comentou o caso.

“É preciso vacinar 82% da população rapidamente. Em um país como o Brasil que 25% é formado por jovens e crianças, se tirarmos esse seguimento da vacinação, não chegaremos a 82%. A vacinação foi aberta para os adolescentes, mas as crianças no Brasil são mais de 10 milhões. Vacinar as crianças é muito bom para elas e também para a coletividade. Embora as crianças não peguem com frequência a doença e nem em sua forma grave, ela é uma importante transmissora. A vacinação delas é fundamental”, destacou.

“Além disso, as crianças já perderam dois anos de ensino. Esses dois anos de escolas fechadas, não tem apenas a consequência na área da educação, mas também muitas crianças estão passando fome. Muitas delas só fazem refeições na escola. Se essa atitude de não vacinar crianças repercutir na interrupção das escolas, teremos mais essa consequência, que é coletiva. Fome também é doença, as crianças ficam predispostas a adoecer se não comerem”, comentou.

Marcelo ainda citou que entre os mais de 600 mil óbitos brasileiros por Covid, 3.500 mortes foram de crianças. “Também devemos proteger as crianças. Muitas pessoas apresentam aquele argumento oportunista que diz que a vacina dá miocardite. Acontece que a Covid causa 50 vezes mais esse problema do que a vacina. A Anvisa já emitiu a autorização para vacinar crianças, pois a vacina é necessária e segura. Mas o ministro da Saúde abriu uma consulta pública de 15 dias, só para burocratizar o processo e atrasar”, concluiu.