Gazeta Do Rio Pardo

90% dos profissionais de enfermagem são mulheres

Juliana Marcela Flausino, enfermeira e diretora municipal da saúde

Afirmação é de Juliana Flausino, que contou a história de sua carreira na área da saúde

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, e reconhecendo a importância das profissionais da saúde diante de uma situação complexa e inusitada como a pandemia do novo coronavíurus, a Rádio Difusora fez uma entrevista especial com a enfermeira Juliana Marcela Flausino, diretora municipal da saúde, e ex-secretária da saúde de São José do Rio Pardo.

No ano passado, Juliana ganhou destaque por assumir a gestão da saúde municipal no início da epidemia na cidade, onde realizou um trabalho considerado por muitos como elogiável.

Enfermeira formada pela USP de Ribeirão Preto e professora dos cursos técnicos da área de saúde da Fundação Educacional, nascida e criada em São José do Rio Pardo, Juliana contou sua história com a enfermagem.

“Antes mesmo de me formar em enfermagem recebi um convite da Eliana Merli Giantomassi para trabalhar no município na área da vacinação. Naquele momento estava sendo organizado o setor de vacinas da cidade e precisavam de uma enfermeira. Ela aproveitou que eu estava terminando a faculdade e tinha a disponibilidade para assumir o serviço. Voltei para São José e permaneci aqui. Só sai da cidade para estudar”, relatou.

“Depois disso, assumi a Vigilância Epidemiológica e trabalhei cerca de um ano lá. A convite da Eliana, que é minha maior inspiração na área da saúde, que é formada pela mesma faculdade que eu, comecei a trabalhar no programa ESF do município. Fui uma das primeiras enfermeiras a assumir a Saúde da Família. Em 2020 recebi o convite para assumir a gestão da saúde municipal e fiquei até dezembro, depois disso fui convidada para ser diretora de saúde do município”, disse.

Formada em 2001, Juliana se dedica à área da saúde há 20 anos. “Junto com o início da minha carreira profissional como enfermeira no município, comecei também como professora na Fundação Educacional”, completou.

Enfermagem

A enfermagem para a mulher é uma porta que está sempre aberta, nunca tive dificuldade em me inserir no mercado profissional, em desenvolver minha profissão aqui no município. Estou envolvida em duas profissões que são exercidas na maioria das vezes por mulheres, a enfermagem e a educação”, prosseguiu Juliana.

A enfermeira contou que escolheu a área da saúde por aptidão. “Gostava das matérias, do cuidado, gosto muito de estar próxima de outras pessoas, de auxilia-las, e isso foi me direcionando. Lembro que no cursinho, nunca pensei em fazer algo na área de humanas ou exatas, sempre soube que gostaria de fazer um curso na área da saúde”.

Desafio na Secretaria

Juliana assumiu a Secretaria de Saúde em maio de 2020. “Era um momento em que a doença ainda era desconhecida, não sabíamos com o que estávamos lidando. Minha maior dificuldade foi essa, me preparar para enfrentar o que não conhecia. Ainda não conhecemos bem a doença, mas com a experiência do ano passado, já conseguimos nos direcionar de uma forma muito melhor. Antes eu já estava envolvida com a gestão, mas quando você assume como gestora, a responsabilidade toda é voltada para você, e isso pesa muito”, confessou.

“A insuficiência de recursos humanos dificultou também, porque foi uma época de afastamentos e precisávamos contar com mais pessoas. A questão da integração entre os serviços também foi um desafio, porque tivemos que reorganizar desde a ESF até o hospital. Foram muitos os desafios, mas também temos que pensar nas oportunidades. De fevereiro de 2020 até os dias atuais, não se fala de outra coisa. Todos os holofotes estão voltados para a saúde, é o momento que temos para agarrar a oportunidade e mostrar quem somos, para o que viemos, mostrar que temos suporte, políticas de saúde, que envolvem o social, a educação, não é nada isolado”, comentou.

Para Juliana, a profissão é algo difícil e desafiador, mas ao mesmo tempo gratificante.

90% mulheres

“A nível brasileiro, 70% da força de trabalho na saúde é feminina. Acredito que só a medicina possa estar descaracterizando isso. Mas enfermagem, nutrição, fisioterapia, a grande maioria é mulher. Na enfermagem cerca de 90% da mão de obra é feminina”, revelou.

“Acredito que isso seja pela própria essência do cuidado. A mulher muitas vezes assume a responsabilidade de cuidar do próximo, também pela questão da maternidade, isso se expande para outras profissões. O mercado nessa área acaba sendo mais favorável para a mulher pelo perfil que ela têm de assumir o cuidado”, destacou.

51 mulheres contaminadas

Até terça-feira, 84 profissionais da saúde foram contaminados desde o início da pandemia na cidade, e segundo Juliana, 51 são mulheres. “Isso porque temos mais mulheres trabalhando na linha de frente do que homens”.  

Mercado favorável

A entrevistada foi questionada sobre dificuldades no mercado de trabalho relacionadas a enfermagem. “A área da saúde é um mercado muito favorável para o público feminino, então acredito que a maioria das mulheres não enfrentem dificuldades para ingressar na área, é muito voltada para este público. A mulher na área da saúde tem um destaque diferenciado. Temos os direitos trabalhistas mais assegurados. É mais difícil a mulher ter direitos negados, têm benefícios que podem ser recebidos. Acredito que o grande avanço é termos os direitos garantidos dentro do mercado de trabalho e a valorização profissional, por ser a maior mão de obra dentro da classe feminina”, relatou.

Baixa remuneração

Segundo Juliana, a remuneração para enfermeiros não é alta. “Muitas pessoas precisam trabalhar em mais de um emprego para conseguir um salário satisfatório. Em contrapartida, temos uma recompensa pessoal. Na enfermagem não consegue ficar trabalhando quem não tem dom, é preciso gostar do que se faz. Somos valorizadas pelas pessoas que cuidamos, recebemos gratidão. Mas infelizmente ainda somos uma classe desunida, fraca politicamente, não temos um piso a nível nacional. A enfermagem ainda tem muito o que lutar quanto a isso”, encerrou.