Gazeta Do Rio Pardo

Microbiologista diz que eventual vacina contra o Covid-19 pode ser ineficaz

Imagem ilustrativa da Internet

Edilson defende que o isolamento social deveria priorizar somente os grupos de risco, para o país não parar

Edilson José Guerra, microbiologista, biólogo molecular, professor da FEUC e funcionário da Secretaria da Saúde de Leme, cidade que teve duas confirmações de óbitos causados pela doença, respondeu algumas perguntas ao jornal e falou sobre a mutação genética do coronavírus, fato que dificulta até mesmo o desenvolvimento de vacinas.

Edilson José Guerra é microbiologista, biólogo molecular e professor da FEUC

Existe algum medicamento eficaz para combater a doença?

Edilson: Ainda não existem medicamentos nem mesmo uma vacina para combater o Covid-19. É um vírus novo, e ainda estamos aprendendo a biologia dele. Você só consegue produzir uma vacina, ou um medicamento quando você conhece o ciclo, a biologia do vírus. Precisamos aprender em tempo recorde, mas por enquanto o que temos, são especulações.

A hidroxicloroquina que a mídia vem propagando, e dizendo que é um remédio eficaz contra o coronavírus, ainda está em fase de teste. Na verdade esse é um medicamento usado contra a malária. A malária é um protozoário, e o Covid-19 é um vírus. As notícias de que a hidroxicloroquina é um medicamento eficaz no tratamento do coronavírus, fez muita gente de maneira irresponsável buscar o medicamento nas drogarias, o que terminou em desabastecimento das farmácias. Faço o alerta para os efeitos colaterais que são muito severos. Portanto, além de ainda não ser comprovada sua eficácia, é preciso muito cuidado na sua administração. O uso deve ser sempre acompanhado por um médico.

Outros remédios que são usados contra o HIV, ebola e hepatite C, entre outras doenças, também estão sendo estudados para um possível tratamento contra o Covid-19. Mas assim como a hidroxicloroquina, são apenas suposições. Não temos nada consagrado ainda.

O isolamento social, no seu ponto de vista, deve seguir por mais algum tempo? Há perigo de aumentarem os casos?

Edilson: Na minha opinião, no Brasil ainda é cedo para falar no relaxamento do isolamento social. Pois ainda não atingimos o pico dessa infecção. Segundo a previsão do Ministério da Saúde, a previsão é que o pico dispare no mês de abril e continue até junho, quando a curva deve começar a desacelerar. No entanto, eu penso que apenas os idosos, pessoas portadoras de doenças crônicas, com comorbidades, é que realmente deveriam ficar isoladas, se não, o país para. O restante das pessoas que não fazem parte desse grupo de risco, na minha opinião, deveriam voltar à normalidade, sempre respeitando a principal regra do Ministério da Saúde, que é o distanciamento, evitar aglomerações. Então na minha opinião quem não faz parte do grupo de risco deveria voltar a trabalhar, mas sempre evitando ao máximo as aglomerações.

A produção de vacinas em grande qualidade deve demorar muito tempo?

Edilson: O planeta inteiro no momento está empenhado em desenvolver essa vacina. Porém, acredito que em menos de oito meses ainda não teremos essa vacina circulando no mundo. Falar em oito meses ainda assim, é uma opinião muito otimista, porque as vacinas demoram décadas para ficarem prontas. Mas como há um empenho mundial, isso ocorrerá antes. No entanto, acredito que em menos de oito meses ainda não teremos essa vacina. Está circulando na mídia que os cientistas israelenses estão bem avançados nessa pesquisa. Eles prometem entregar a vacina em tempo recorde, como nunca foi visto antes na história da imunologia. Mas não devemos nos esquecer que a capacidade de mutação desse vírus é muito grande, portanto o tempo de eficácia dessa vacina é muito contestado. Por maior que sejam os avanços da biotecnologia, como desenvolvimentos de vacinas ou outros fármacos contra um vírus com um grande potencial mutagênico como é o coronavírus, as inevitáveis mutações genéticas que esse vírus tem e que não dá para você controlar, é o que ditará as expectativas do sucesso vacinal. Mesmo que essa vacina seja desenvolvida, lançada para imunizar as pessoas, nada garante a sua eficiência porque estamos falando de um vírus que sofre muita mutação genética.

Algo novo sobre esse vírus foi recentemente descoberto?

Edilson: Os vírus podem ter apenas um material genético, ou o RNA, ou DNA. O vírus que tem DNA é tranquilo, você constrói para ele uma vacina com grande eficiência, tanto é que tomamos a vacina uma vez na vida, porque temos memória genética imunológica que nos deixa livre desses vírus. Porém, o vírus que tem o material genético RNA, assim como o coronavírus, é propenso a erro genético durante sua replicação, e isso não dá para ser controlado. O que se sabe, é que o genoma do Covid-19 que está circulando no Brasil, é diferente do genoma daquele que circula na Ásia e na Europa. Ele está até sendo chamado pelos geneticistas que mapearam o genoma desse vírus no Brasil, de coronavírus brasileiro. Porque ele é diferente do ponto de vista genético, do vírus que está circulando no resto do mundo.

Deixo aqui, uma dúvida. O mundo inteiro está empenhado em produzir uma vacina, mas para qual genoma viral? O asiático, europeu, brasileiro? Qual deles? Será que quando ela estiver pronta ela será eficaz contra todos esses tipos virais que sofreram mutações? Eu acho que é uma utopia pensarmos que vai ter uma vacina que vai ser o fim do problema. Uma vez que o vírus sofre mutação, teremos muitos problemas com ele ainda, e não acho que seja uma vacina que irá resolver esse tipo de problema.