XV DE NOVEMBRO
Edson Luiz da Silveira – professor da FEUC.
Há 128 anos, desde 1890, o Brasil comemora o aniversário da mudança do nosso arcabouço político da monarquia para a República, e a impressão que fica é que a Proclamação da República, no dia 15 de novembro de 1889, serviu mais como um feriado anual e nacional que como um baluarte do que seria uma metamorfose de dimensões continentais a um país que completou 518 anos. Ao observador minimamente atento, daqueles que não se deixam levar por discursos contundentes, messiânicos ou mesmo catastróficos, a esse observador não faltam razões para que crie desconfianças insolúveis ante ao recente aparelho político-ideológico que tem tomado de assalto os gabinetes e cofres de nossa relativamente atual res publica.
Na última eleição, causa espanto (não a todos os brasileiros, claro) a quantidade de políticos impedidos de concorrer a um cargo eletivo, e a corrupção é a principal causa de tais impedimentos. E o curioso de tudo é que a cara de pau é tamanha que nenhum deles deixa transparecer qualquer tipo de indignação verdadeira, salvo as repisadas reações histriônicas. Afinal de contas, diante de tudo isso, sugere-se a indagação: quem são os políticos brasileiros que, eleição após eleição, não conseguem discernir categoricamente entre o que seria de seu próprio interesse, portanto privado, daquilo que se constitui, inegavelmente, na porção pública, ou seja, o que o bom senso político classificaria como a burra do governo? Esses inimigos do povo agem como se a água do poço estatal nunca encontrasse o fundo; e na verdade nunca esgota, mesmo, pois, enquanto houver braços fortes de brasileiros que sustentam esta nação, a água do poço estatal estará sempre a postos, via canalização de nossos altíssimos impostos.
Que políticos são esses? Até quando tal estirpe canalha se sentirá no direito de me, de nos, de vos representar? Há saída para isso? Isso que é a democracia? Cadê os gregos? Cadê John Locke? Socorro, senhores contratualistas! Hoje sou eu que estou aqui, escrevendo este artigo, com raiva e, ao mesmo tempo, com vontade de rir; amanhã poderá ser meu filho, ou o filho dos senhores, martelando nas teclas as mesmas asneiras que hoje me deixam quase indignado – asneiras que, talvez, ou pior, muito certamente (receio!) ainda estarão sendo cometidas, indiscriminadamente, pelos filhos dos mesmos biltres que hoje, neste momento, surrupiam, descaradamente, os cofres inesgotáveis da nossa tão adorada e amada viúva. Viva a República!