Em São José do Rio Pardo, de janeiro a julho de 2019, foram registradas 60 ocorrências
De acordo com uma pesquisa feita pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 500 mulheres foram agredidas fisicamente a cada hora, durante o ano de 2018. Ainda, segundo o relatório, 16 milhões de mulheres acima de 16 anos sofreram algum tipo de violência. A pesquisa mostra que em 42% dos casos, a violência ocorre em casa, 29% na rua, 8% na internet, 8% no trabalho e 3% na balada.
Essa semana, em Mococa, aconteceu um caso de feminicídio que chocou os moradores da cidade e região. Lívia da Rocha Ferreira, de 13 anos, foi brutalmente assassinada em sua própria residência por um vizinho da fazenda onde morava, por se recusar a ter relações sexuais com ele.
Em São José do Rio Pardo, de janeiro a julho de 2019, foram registradas 60 ocorrências de violência contra a mulher, além de 12 prisões em flagrante pela lei Maria da Penha. O jornal foi até a Delegacia de Defesa da Mulher conversar com a delegada Paula Casalli Dezzotti sobre o tema.
Como acontecem a maioria dos casos de agressão?
Paula: A maioria dos casos de violência doméstica e agressão contra a mulher, ocorrem no ambiente familiar, entre companheiros, namorados, e alguns casos são de filhos contra mães. Isso tudo geralmente devido ao uso de drogas e bebidas, que motivam a violência do filho para com a mãe, por exemplo. Mas entre os parceiros também existem casos em que as drogas aumentam a agressividade da pessoa.
A maioria das vítimas faz a denúncia no primeiro momento ou só quando a situação piora?
Paula: A maioria das ocorrências que temos aqui na Delegacia de Defesa da Mulher, são referentes a ameaças e injúrias contra a mulher, ofensas verbais, que é um tipo de violência psicológica que elas também sofrem.
Geralmente quando a mulher vem denunciar, ela já foi vítima outras vezes. Elas chegam aqui e contam que já foram agredidas, ameaçadas, ou ofendidas, só que até então nunca haviam registrado uma ocorrência. É quando chega no limite que elas costumam vir fazer a denúncia.
Quais os maiores medos das mulheres que se calam diante das agressões?
Paula: Um dos motivos que levam a mulher a evitar fazer uma denúncia, é a vergonha e constrangimento de virem até a delegacia. Outras dependem financeiramente do parceiro, então sabem que se registrarem a ocorrência, vai acabar acarretando na perda do poder aquisitivo da família, e acabam não tomando uma iniciativa.
As mulheres passam por algum tipo de ajuda psicológica após as ocorrências?
Paula: A maioria das mulheres não passam por ajuda psicológica. Elas vem aqui, registram o crime, mas nós não temos acompanhamento com psicólogo, assistente social. Até sugerimos que elas procurem o serviço municipal para dar uma orientação a elas, mas não sei se elas realmente procuram.
Pode falar um pouco sobre a violência moral contra a mulher?
Paula: É quando o homem, o parceiro, quer denegrir a mulher, menospreza-la, deixa-la sem autoconfiança, quer que ela esteja abaixo dele. Então ele a ofende, a chama de vários palavrões. É uma violência que não tem marcas físicas, mas a mulher às vezes sente até mais do que a própria agressão física. Lembrando que violência moral também é crime.
Hoje em dia as mulheres se sentem mais seguras para fazer uma denúncia em comparação com anos atrás?
Paula: Acredito que sim. A mídia fala bastante do assunto, toda vez que vem a público um caso de denúncia, as mulheres se sentem encorajadas a registrar a ocorrência. Elas se sentem apoiadas. As mulheres são mais estudadas, saem para trabalhar, tem independência. A maioria não aceita mais o comportamento machista.
A partir de que ponto um relacionamento pode se tornar perigoso?
Paula: A partir do momento que o relacionamento perde o respeito, ele é perigoso. Quando tem ciúmes doentio, o homem não respeita o trabalho dela, o espaço dela, começa a ser preocupante.
Quando a mulher faz a denúncia, o que acontece inicialmente com o agressor? Pode explicar um pouco sobre esse processo?
Paula: Se a mulher está sendo agredida e chama a polícia militar, ela chega na casa e os dois estão lá, eles trazem para a delegacia, e fazemos o flagrante. Nesse caso, ele fica detido, sendo violência física ou qualquer outro tipo. Se ela não denunciou na hora, e vem no outro dia registrar a ocorrência, nós pedimos ao juiz uma medida protetiva, caso ela queira. Com a medida, o agressor é afastado do lar. Se ele descumprir essa medida, pedimos a prisão dele. Temos tido apoio do Ministério Público local. Nesse mês de agosto, pedi quatro prisões por descumprimento de medida, e o juiz está concedendo as prisões. É um jeito dos homens saberem que existe lei e que se eles não cumprirem a decisão judicial, serão presos.
Por Júlia Sartori