Gazeta Do Rio Pardo

Uma cerveja genuinamente rio-pardense

Breno Franchi, engenheiro mecânico e Bianca Vitto, engenheira química

Gilmar Ishikawa

Com protagonismo feminino e em fase inicial, Cerveja Dela produz 2 mil litros por mês

A bebida genuinamente nacional é a cachaça, mas a cerveja já virou parte da nossa cultura. Levantamentos recentes apontam que o brasileiro consome cerca de 65 litros por ano. Dados do grupo de investimentos Credit Suisse, em parceria com as empresas de mercado Euromonitor e Statista, divulgados no primeiro semestre deste ano, colocam o Brasil na terceira posição do ranking de países onde há maior consumo do produto, atrás dos Estados Unidos e China.

Há alguns anos, nas gôndolas e geladeiras, as marcas da indústria tradicional começaram a ter a companhia das cervejas artesanais, boa parte produzida em pequena escala. Um mercado crescente que ganhou adeptos tanto na fabricação quanto no consumo.

Em São José do Rio Pardo, a cervejaria artesanal já tem alguns representantes, mas da produção ao envase, o primeiro empreendimento está começando a funcionar agora. Fruto da parceria entre a engenheira química Bianca Vitto e seu cunhado, o engenheiro mecânico Breno Franchi, começa a ganhar corpo a Cerveja Dela, instalada no Jardim São Roque.

Protagonismo feminino

Bianca Vitto e seu cunhado, Breno Franchi

Formada em química pela Universidade Federal de Alfenas, Bianca também fez curso técnico de cervejaria, na Escola Superior de Cerveja e Malte de Blumenau, Santa Catarina. Por cerca de três anos, ela conta que fazia cerveja em casa, para amigos e familiares.

Em uma conversa com Breno, houve a ideia de empreender no setor. Assim começaram a produção em escala comercial.

Além de ser a primeira cervejaria genuinamente rio-pardense, a marca tem outra inovação: é uma das primeiras do setor com o protagonismo feminino. Num mercado dominado por homens, ainda são poucas as mulheres à frente da indústria.

A fábrica ainda pequena, produz cerca de 2 mil litros de cervejas por mês. A marca de apresenta em três estilos: lager, weiss (weizenbier) e IPA. Por enquanto a distribuição ocorre em alguns bares locais, mas a expectativa é expandir aos poucos pela região, quando houver aumento da produção.

O empreendimento também pretende organizar eventos no próprio local, possibilitando ampliar a vivência entre os consumidores e o local de fabricação. Pensando nisso, há área coberta onde podem ser instaladas mesas, cadeiras e até churrasqueira.

Apoio da família

Enquanto os lucros não vêm, tudo ainda é investimento. O imóvel é alugado e, por enquanto, não há funcionários. Quem ajuda é a própria família. Em dias de fabricação, os familiares se dedicam ao trabalho. Que não é pouco.

Segundo os cervejeiros, uma das dificuldades para o processamento é a matéria prima. “A maior parte é importada, mas ainda assim compensa mais do que os insumos nacionais, ainda caros e difíceis de serem obtidos, porque as grandes empresas, meio que monopolizam”, comenta Breno. Ele considera que, mantendo a concentração da distribuição de insumos, as grandes marcas dificultam a concorrência.

Bianca e Breno dizem que não estabeleceram metas para o empreendimento. Por enquanto, o foco é na qualidade e divulgação da marca. Depois disso, aumento de produção será consequência”, diz ele.

Segundo Bianca, o momento ainda é de bastante aprendizado. Ela destaca que isso garantirá novos estilos de cerveja, com o passar do tempo. “Algumas novidades já estão sendo pensadas”.

Segundo a engenheira química, a água empregada no processo é sim da própria cidade. Ela diz que há um mito em torno do assunto. “É necessário e é possível fazer todas as correções da água para a produção. Nós, inclusive, encaminhamos para laboratório. Não existe problema em usar a água da cidade, é só adotar os procedimentos corretos”, garante.

Segundo os cervejeiros, uma das dificuldades para o processamento é a matéria prima

Outras produções

Em São José do Rio Pardo, além de cervejeiros informais, há ainda a Braunen Fluss – Rio Marrom (em Alemão), cuja produção é envasada em Araraquara.

Diz a história

As pesquisas indicam o surgimento das cervejas por volta de 8 a 4 mil anos antes de Cristo, na região conhecida por Mesopotâmia, cujo território hoje é parte do Iraque. Incertas são as afirmativas, mas a cerveja teria surgido por uma fermentação acidental da matéria prima.

Desculpa para reunião de amigos e até para discórdias, o produto já foi considerado presente da Deusa Ninkasi – cultuada pelos sumérios (povos que habitavam a região do Kwait e Iraque), nos primórdios da civilização. E, pasmem! Não era proibida para menores. Segundo os escritos da época, a punição era para os que não seguiam, à risca, o modo de fazer: a morte.

Embora seja ainda uma área onde atuam poucas mulheres, atribui-se à freira alemã, Hildegarda de Bingen, o melhoramento das cervejas, com a adição do lúpulo, por conta da propriedade conservante da planta.

No Brasil, conforme o portal Saint Bier, o hábito da cerveja chegou junto com a Família Real, em meados de 1808, mas a produção só teve início por volta de 1836. Entretanto, há registro de que em 1654, holandeses trouxeram algumas amostras da bebida, além de receita e equipamentos para o processamento.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 2019, havia no Brasil 1.209 cervejarias registradas. E, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Cerveja (CervBrasil), o brasileiro bebe, em média, 65 litros de cerveja por ano.