Sem turismo e eventos, com escolas fechadas, setor enfrenta incertezas
O ano de 2020 seguia a rota com tranquilidade, mas de repente o mundo estacionou no mês de março. Nos meses que se seguiram à quarentena da pandemia, com a suspensão das aulas, festas e eventos, as viagens das empresas de transportes por fretamento desapareceram. Com vans e ônibus parados, empresários e motoristas ainda se desdobram para superar as dificuldades.
Empreendedora do setor há doze anos, Marisa Cruz da Silva (da empresa Marisatur), mantinha uma intensa rotina com transporte para lojistas, aeroportos, festas, shows, excursões religiosas, excursões para o litoral, parques temáticos e eventos diversos. “Transportava uma média de 350 pessoas todos os meses”, conta.
Com a pandemia, as viagens que estavam contratadas foram suspensas, umas canceladas e algumas adiadas. “Inclusive as atividades rotineiras de levar comerciantes para o Brás, em São Paulo, duas vezes por semana, acabaram tudo”, lamenta.
A retomada desta modalidade só ocorreu quando o Governo do Estado de São Paulo flexibilizou a primeira fase do lockdown, em julho do ano passado. Mas o recomeço exigiu adaptações.
“No início não levava as pessoas. As viagens eram apenas para trazer as mercadorias que os clientes haviam encomendado pela internet”, explica Marisa.
Só depois de adotar protocolos com várias medidas de prevenção é que voltou a organizar as viagens para o Brás, com ônibus maiores e com menos passageiros, garantindo o distanciamento seguro. Mas nem todos os clientes voltaram a viajar, até hoje.
Dispensando motoristas
Colocar as vans na estrada requer motoristas. Em geral as empresas contratam autônomos para as viagens ocasionais ou mesmo para as linhas fixas.
Promovendo viagens durante pelo menos 8 meses do ano (especialmente no período de setembro a abril), Marisa diz que contava com o trabalho de 12 motoristas constantemente. Mas foi necessário dispensá-los. Agora, com a retomada ainda tímida, ela distribui as poucas rotas entre os motoristas parceiros, como forma de ajuda-los a manterem um ganho ainda que pequeno e ocasional.
“Hoje, por motivos de segurança dos meus clientes, levo apenas 38 lojistas, tomando os cuidados necessários para a segurança de todos. Graças a Deus nenhum lojista que viaja conosco teve problemas de Covid-19”, explicou.
Mas para oferecer viagens com mais segurança, ela precisou terceirizar serviços para as empresas STR e LavsCar – do motorista Luiz Augusto Vieira de Souza; isso ajuda no complemento da renda.
Colocou veículos à venda
Antes da pandemia, Rafael Manetta Furlan – da empresa Rafael Vans Transporte e Turismo, mantinha 5 veículos em linhas regulares de transporte de alunos para escolas de Mococa. Havia contrato com 51 estudantes da FATEC, Eletrô e Industrial.
Para atender a demanda, além dele e do pai, José Orlando Furlan, o trabalho empregava outros três motoristas. “Éramos em cinco. Por termos diminuído drasticamente as viagens, no momento estamos sem motoristas”, conta Rafael.
Suspender os serviços subitamente levou ao desequilíbrio nas contas e vieram os prejuízos ao longo do período de restrições. “Só na parte das escolas gira em torno de 130 mil reais de prejuízo, fora o turismo, que era uns 70% do faturamento da empresa”, lamentou.
Ele diz não ter expectativas de uma retomada a curto e médio prazo. “Pelo cenário que estamos vivendo no momento, creio que o turismo vai ser bem mais afetado do que já está sendo. Mas, tomara Deus, que eu esteja enganado e melhore tudo rapidamente”, acrescenta.
Sem muita alternativa para superar o período difícil e continuar com as contas da empresa em dia, a solução foi diminuir o patrimônio. “Para manter está complicado, pois esses veículos geram gastos mesmo sem trabalhar. No momento vendemos um veículo e estamos vendendo um outro”, disse Rafael, que mesmo na pandemia conseguiu negociar um micro-ônibus e agora espera a venda de uma van.
Ele conclui explicando que a renda só não está totalmente comprometida porque, de vez em quando, surgem viagens esporádicas. E, além disso, fechou contrato de uma linha fixa para transportar trabalhadores de uma fábrica da cidade.
Por Gilmar Ishikawa