Thiago Factor também elogia a Fundação de Pesquisa de São José do Rio Pardo, que considera “uma joia rara”
Thiago Leandro Factor, engenheiro agrônomo e pesquisador na Unidade de Pesquisa de Mococa, vinculada ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), mas com atuação também nos experimentos de cebola que vêm sendo realizados na Fundação de Pesquisa de São José do Rio Pardo, falou à Difusora FM sobre a importância de a cidade ter um espaço para tais experimentos, fato raro entre as Prefeituras. Ao falar também da situação atual das hortaliças no mercado nacional, disse que o tomate, a batata e a cebola são hoje, as hortaliças de maior importância econômica no mercado nacional, com tendência a terem o consumo aumentado nos próximos anos.
Ele lembra que a Fundação de Pesquisa de São José “é uma grande parceira nossa, sendo muito bem conduzida pelo Rodrigo de Morais nesses últimos anos, apesar de tantas limitações existentes”. Diz que a parceria envolve pesquisas sobre variedades de cebola mais adaptáveis ao plantio precoce, já tendo sido identificadas duas ou três espécies apropriadas para cultivo, através de mudas, a partir de janeiro.
“Essa questão de que não existia variedade para se plantar cedo ou fora de época é um equívoco. Nós já constatamos, com mais de 5 anos de pesquisa, que é possível sim colocar essa cebola no chão mais cedo”, assegurou.
Ele explicou que a rentabilidade dessas espécies depende muito das regiões produtoras. Citou a região de Cristalina, no Triângulo Mineiro, cujos produtores vêm plantando cebola por semeadura direta entre o final de janeiro e início de fevereiro, mas com dificuldades decorrentes do clima e das chuvas, quer em excesso, quer em escassez.
Produtores ainda resistem
Indagado pelo apresentador Luis Fernando Benedito sobre o futuro dessa cebola em São José do Rio Pardo, Thiago afirma que o município ainda tem muitos produtores resistentes a esse plantio mais cedo, pelo problema do excesso de chuvas em janeiro e fevereiro. Acha que isso ocorre porque eles não têm mais dinheiro para arriscar em um plantio de resultado ainda incerto, preferindo fazer o convencional, que pode ou não lhes dar lucro.
“Mas se você faz o plantio dessas variedades, mais adaptadas a essa época do calor por mudas, sejam elas de viveiros comerciais ou mudas produzidas em sementeiras, como bulbinho, a possibilidade de perda é menor. Existe também a semeadura direta e o plantio direto, que ocorre com palha em cima do canteiro. Acho que é uma questão de tempo para o produtor se adaptar a essas técnicas”, opinou.
‘Fundação é joia rara’
Voltando a falar sobre a Fundação de Pesquisa, que classificou de “joia rara de São José do Rio Pardo, porque poucos municípios têm essa estrutura disponível para pesquisa”, ele lembrou que, apesar dos recursos escassos da Prefeitura para aquela área de terra, ela trabalha hoje com novas variedades de batata doce, de mandioca, de batata (convencional e batatinha), além de uma área experimental de integração lavoura/pecuária e cultivo agroecológico. “Há ainda uma área de experimentação com frutíferas como laranja e tangerina”, completou, explicando que tudo isso representa novas culturas com valor agregado.
O pesquisador do IAC defendeu o plantio de hortaliças diante das commodities (soja, café etc), afirmando que aquelas oferecem uma lucratividade maior que estas por área plantada. “Isso é fato. É fato também o risco que essas culturas oferecem, podendo dar dinheiro num ano e no outro, não. Isso é conhecido dos produtores, não estou contando nada novo pra ninguém. Mas, você cultivar uma determinada espécie hortícula mais vezes ao ano ou um pouco por mês ou por época de plantio, poderá pegar um pico de preço, assim como poderá pegar um preço baixo. Na média, você poderá planejar sua atividade para ter uma rentabilidade que dê para manter o seu negócio”.
“Acho que todas as atividades hoje no mercado agrícola têm passado por isso. Você diminui riscos à medida em que planeja suas atividades e as coloca mais vezes no campo ao longo do ano. Ou diversifica as culturas, plantando uma de maior risco numa época que pode dar mais dinheiro, outra de menor risco numa época convencional. Planejando assim as hortaliças, elas irão remunerar melhor o produtor”, prosseguiu.
Custo de hortaliças cresceu
Thiago diz que em Mococa, aonde mora, o forte da agricultura e pecuária é a cana, a laranja e o frango, mas com menos produtores rurais de hortaliças que em São José do Rio Pardo e com uma renda per capta menor também. Ele ressalvou, porém, que o custo das hortaliças aumentou demais nos últimos anos e exemplificou com a cebola: “O custo dela hoje está próximo dos 40 mil reais por hectare na semeadura direta. Batata também. A beterraba tem custo menor, mas não fica muito atrás. Foi por isso que eu disse que o planejamento é tão crucial, o uso de uma variedade melhor adaptada para plantio fora da época é importante, podendo dar uma rentabilidade melhor”.
Ele destacou o fato de São José e região estarem próximos ao maior mercado consumidor do país, São Paulo, em contraposição ao produtor da Bahia ou outros estados longínquos. “A nossa vantagem competitiva em relação a preço e logística é muito melhor. Depende então de um planejamento pra gente ter uma rentabilidade melhor, apesar dos custos realmente muito altos”.
Hortaliças de maior potencial
Como mencionado no início da matéria, o tomate, a batata e a cebola são hoje, segundo ele, as hortaliças de maior importância econômica no mercado nacional. “Elas têm um custo maior, mas também podem ter uma rentabilidade maior, sendo as mais consumidas em termos de consumo per capta/ano”, garantiu. “Estamos num momento em que as pessoas estão mais em casa, procurando fazer refeições mais saudáveis e conscientes. Muitos acabam engordando por ficarem muito parados ou mudando seus hábitos de trabalho. Como as hortaliças já vinham num contexto muito importante de melhoria da saúde, indicadas para evitar diabetes, triglicérides, junto com a atividade física, atualmente mais ainda porque as pessoas buscam alimentação mais saudável”.
Ele entende que esse é um mercado que só tende a crescer porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo de 400 gramas/dia per capta de hortaliças, mas o brasileiro consume atualmente apenas 140 em média. “Num futuro próximo, as saladas pré-prontas, minimamente processadas, as batatas pré-fritas e congeladas, tenderão a ter seu consumo aumentado mesmo quando a pandemia acabar. E há também o produto orgânico, que tem um custo de produção maior, inclusive com mão de obra mais difícil, mas com tendência a crescer no mercado”, concluiu.