“Problema é seríssimo, com vários pivôs parados por falta de água”, diz Rodrigo de Morais (Casa da Agricultura)
Agricultores de São José do Rio Pardo e região estão se queixando muito do longo período de seca ocorrido de setembro até o início de novembro. Segundo informações que alguns deles transmitiram à Casa de Agricultura, a redução de açudes, minas e córregos de água chegou a 50%, com muitos pivôs parados pela falta da água para captar e irrigar as plantações. As chuvas desses últimos dias podem aliviar um pouco essa situação, mas o quadro ainda é considerado grave.
“O problema está seríssimo. Vários pivôs na região estão parados por falta de água. São culturas de verão irrigadas, como milho e soja principalmente, havendo locais que estão plantando e outros que não, porque falta chuva. Áreas onde não tem irrigação, todas as plantações estão paradas”, confirmou o zootecnista Rodrigo Vieira de Morais, da Casa da Agricultura de São José.
“Pelo comentário dos produtores, a redução das minas de água e córregos de água chega realmente à ordem de 50%. Isso é muito grave. São José do Rio Pardo deveria ser uma região produtora de água por conta de seu relevo e por termos um rio, o rio Pardo, que abastece o município. O pessoal urbano tem que dar graças a Deus por isso porque, se não, estaríamos em desabastecimento”, observou.
Rodrigo Vieira: Experiências na Fundação de Pesquisa podem ajudar os agricultores
As causas
Rodrigo lembra que o volume médio de chuva é o mesmo ano após ano, mas com as queimadas, com as construções e a expansão das cidades, as matas estão sendo reduzidas e o volume de chuvas está se concentrando, cada vez mais, em períodos curtos do ano.
“Este ano é um exemplo típico disso. Tivemos no início do ano muita chuva, depois de abril até o começo de novembro pouca chuva e de agora em diante deve cair muita água. Aí quando pega a média anual, ela será a média histórica dos outros anos”, comparou.
‘Colhendo o que se planta’
Rodrigo confirmou que isso já vem de longa data. E explicou a causa: “Há um ditado popular que diz que a gente colhe o que planta. Se a gente ‘planta’ queimada ou desmatamento, não colheremos água ou um regime ideal de chuva. Então, ao longo desse tempo já havia desmatamento e sem reflorestamento, e agora há muito mais queimadas. Colhemos agora o que já vem ocorrendo desde 20 anos atrás ou mais. Desmatamento e queimada acarretam em mais desmatamento e mais queimada”.
“Quando você faz o incêndio, aquela palhada que é rica em nitrogênio e carbono vai para a atmosfera e perde-se a fertilização do solo. Além disso, o solo nu é propício a erosão. Agora em novembro e dezembro, quando chove, aquela cinza, que é rica em nutrientes também, será levada embora pelas primeiras chuvas que vierem. Então o produtor ficará com um solo em processo de desertificação”.
Uma orientação
Falando através da Difusora FM diretamente ao produtor rural, Rodrigo, em entrevista a Luis Fernando Benedito, deu uma orientação. “Você que fez o CAR (Cadastro Ambiental Rural) e determinou sua mina d´água nele. Do ponto de saída da água, o olho d´água, você tem um raio de 50 metros que não pode mexer ali. Mas você pode ir com a trena lá, do olho d´água meça 50 metros, traça esse raio e cerque essa área. Olhando para a parte mais alta, faça uma faixa e refloreste ela para proteger sua mina d´água, que é o tesouro que você tem em sua propriedade”.
Lavouras de verão
Ele diz que se a seca no inverno era favorável a algumas culturas irrigáveis, agora ela já está atrapalhando as culturas de verão porque em setembro e outubro não choveu e muitas plantações estão com estágio atrasado, no município e na região. “Neste início de mês, em relação ao mesmo período do ano passado, praticamente toda lavoura de verão já estava plantada. Mas mesmo lavouras de irrigação, este ano, agora com a seca prolongada, estão atrasadas”, confirmou.
Nesta época, de acordo com o zootecnista, a região tem culturas frutíferas, renovação e plantio de pastagem, milho para grão e para silagem, soja, sorgo, mudas nativas, mandioca. Elas só estão sendo irrigadas pelos proprietários rurais que conseguiram manter açude em nível de água suficiente para funcionar pivôs; os que não conseguiram isso, não plantaram.
Fundação de Pesquisa
Na seca ocorrida em 2014 foi realizado um trabalho na Fundação de Pesquisa do município que deu bons resultados e Rodrigo o recomenda aos agricultores.
“Reformamos as curvas de nível, fizemos cacimbas (poços) ao final delas para que a água não fosse embora e fosse retida o máximo possível. Então a gente tem uma pequena bacia, curvas de nível no pivô em locais aonde a gente planta, e água armazenada no final das curvas de nível, nas cacimbas. Além disso, fizemos três pequenas barragens para segurar a água e tirar a velocidade dela. Isso permite que ela infiltre mais no solo”.
Outra iniciativa na Fundação de Pesquisa que pode ser aplicada em outras propriedades, segundo ele, é manter os locais sempre com vegetação. “A gente não põe fogo. Durante todo esse tempo que estou aqui, que já dura cinco anos, não houve incêndio algum na Fundação. Reformamos as APPs (Áreas de Preservação Permanente) da mina d´água e estamos plantando árvore na APP do açude. Todas essas ações são para segurar água na propriedade rural”.
Sistema de palhada
Dez anos atrás foi feito um experimento com plantio de cebola no sistema de palhada – plantio direto na palha. “Nesse experimento no pivô, a pesquisadora concluiu que ele economiza, para o produtor rural, 30% da irrigação. Então, o plantio direto na palha tem essa ação de economia. O produtor de milho ou de soja em São José e região já tem que adotar essa tecnologia, o plantio direto na palha. O produtor de olerícola tem de adotar isso também e muitos produtores de café já usam essa técnica”.
Dia do Trigo
No dia 10 de novembro, quando Rodrigo deu essa entrevista ao Jornal do Meio Dias, foi comemorado o Dia do Trigo. O zootecnista falou sobre isso: “O trigo aqui em São José do Rio Pardo tem tido um bom resultado, embora a área plantada, cerca de 200 hectares, seja bem pequena. É uma cultura de inverno, sendo plantado de março em diante, e tem uma qualidade muito boa”.
Milho não transgênico
Falando sobre a Casa de Agricultura, Rodrigo disse que ela tem milho não transgênico à disposição dos agricultores. “É um milho para baixa tecnologia mas que compete bem com os milhos de alta tecnologia. Estamos trabalhando na forma home office, mas há um número de telefone fixado na porta da Casa da Agricultura. O produtor interessado nesse milho deve ligar naquele número”.
Reestruturação
Ele explicou ainda que está ocorrendo uma reestruturação no governo do estado de São Paulo para otimizar o atendimento ao público (nas Casas de Agricultura) e, provavelmente, o atendimento presencial será encerrado.
“A gente irá sair desse atendimento localizado e partir para um atendimento mais regional”, previu. “Então essa nossa ação nos conselhos, na Fundação de Pesquisa, junto com a Prefeitura e com o Sindicato, provavelmente se encerre. Atenderemos os produtores de forma regional e essa é a reestruturação que estão fazendo”, justificou.
Sugestão ao próximo prefeito
No final da entrevista, Rodrigo deu uma sugestão ao próximo prefeito municipal que tomar posse em janeiro de 2021, para ajudar os moradores da cidade quanto à arborização urbana. “Que ele dê um desconto no IPTU para o morador que plantar uma árvore em frente a casa na qual reside. Quem tem carro sabe o quanto é difícil, muitas vezes, estacionar ele debaixo de uma árvore”.