Gazeta Do Rio Pardo

São José e cidades próximas têm 139 pessoas em tratamento contra a Aids

Dr. Marcel Uchiama e Gisele Flausino

Dr. Marcel Uchiama e Gisele Flausino dão mais informações sobre a doença e sobre a sífilis

O médico Marcel Uchiama, ginecologista, e a enfermeira Gisele Flausino, responsável pela Vigilância Epidemiológica no município, falaram no dia 1º de dezembro, em entrevista ao Jornal do Meio Dia (Difusora), sobre o Dia Mundial de Luta contra a Aids. São José do Rio Pardo e cidades próximas cujos pacientes fazem tratamento médico aqui têm atualmente 139 pessoas contaminadas pela doença.

Dezembro também é considerado o mês em que se divulga com mais intensidade as medidas de prevenção, assistência e proteção, e promoção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV. E ainda em dezembro o governo estadual desenvolve a campanha “Fique Sabendo”, que procura conscientizar todos sobre a importância da prevenção às doenças sexualmente transmissíveis.

Gisele lembrou que o HIV “é uma epidemia mundial que ainda não acabou”, estimando-se que no Brasil, hoje, haja pelo menos 140 mil brasileiros que não sabem que estão com a doença. O Brasil é considerado referência mundial no tratamento da doença porque o SUS custeia desde o diagnóstico inicial ao cuidado posterior de cada paciente.

Sobre a campanha “Fique Sabendo”, a enfermeira explicou que São José do Rio Pardo já trabalha há anos em parceria com o governo estadual e o Ministério da Saúde.

“Temos aqui um grupo Pan, que é referência para mais 5 municípios e funciona na Vigilância Epidemiológica, no Centro de Saúde. A gente faz diagnóstico, consulta médica, tratamento e distribuição de medicamentos há 28 anos e para esses 5 municípios. O símbolo da Fique Sabendo é o laço vermelho, que traz um alerta ou ideia do sangue, com a principal transmissão sendo pela relação sexual, pelo aleitamento materno ou parto. É preciso um diagnóstico para poder tratar e conseguir estabilizar o quadro de saúde o quanto antes”, mencionou Gisele.

HIV surgiu na década de 80

Dr. Marcel recordou que desde os primeiros casos confirmados de HIV no final da década de 1980, quando a doença surgiu entre homossexuais, o problema foi muito estudado. “O HIV é um vírus que passa entre as pessoas principalmente via sexual e por contato com fluidos corporais. Naquela época usava-se muito drogas como LSD e injetáveis, que também tinham contágio, além da relação sexual. Esse vírus, ao longo das décadas, no corpo da pessoa e sem tratamento, vai causando uma espécie de enfraquecimento de todo o sistema imune. Existe umas células de defesa que todos nós temos chamadas de linfócitos, responsáveis por eliminar vírus e germes patogênicos do nosso organismo, e o HIV combate e elimina essas células. Dificilmente, porém, alguém morreria do HIV exclusivamente, mas ao longo dos anos de contágio as células de defesa vão diminuindo a ponto que infecções que antes não causariam mal algum, matarem”, explicou.

“Os primeiros tratamentos eram compostos por coquetéis, usando muito o AZT antigamente. Eram drogas injetáveis, tinham várias medicações que eram tomadas ao longo do dia, mas a sobrevida era muito menor do que hoje e os efeitos colaterais eram muito maiores. Parecia uma quimioterapia, embora não fosse. Hoje continuamos com um coquetel também, mas as tomadas são muito menores, existindo coquetéis com dois comprimidos, que podem ser tomados duas vezes ao dia. E existe também o três em um, comprimido com as três drogas do coquetel que tem uma única tomada diária. Eles aumentam a sobrevida do paciente e hoje, quem toma isso certinho, muito provavelmente viverá longos anos”.

Carga viral

O médico citou o exame chamado “carga viral”, para ver a quantidade de vírus do HIV que o paciente tem no sangue. Com os novos tratamentos, na maioria dos casos o resultado é indetectável, ou seja, é como se a pessoa não tivesse o HIV (embora ela ainda possa transmitir a doença a outra pessoa). De qualquer forma, o paciente terá que tomar o coquetel o resto da vida.

‘Fique Sabendo’

A já tradicional Corrida Fique Sabendo, em que os participantes partem do DEC e depois voltam a ele, tem este ano uma parte virtual. Gisele explica que os interessados se inscrevem no site da Prefeitura, percorrem os 5 quilômetros, postam uma fotografia com hashtag para provar que cumpriram esse desafio.

Neste domingo, dia 6 de dezembro, ao lado da Feira do Produtor, haverá uma equipe responsável pela organização do evento fazendo a entrega de kits para quem cumpriu o desafio e fazendo testagens a todos os que quiserem.

Além disso, um trabalho diferenciado começou a ser feito esta semana em vários bairros e em períodos que vão das 17h às 19h, para oferecer testes contra o HIV/Sífilis. E neste sábado também haverá uma equipe na Feira de Artesanato, no Mercado Cultural, para realizar esses mesmos testes.

Sífilis: 4 formas de manifestação

Dr. Marcel explica que a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada por uma bactéria chamada treponema pallidum, com quatro formas de manifestação: a primária, a secundária, a latente e a terciária.

“A partir do contágio, 20 ou 30 dias após a pessoa adquire a forma primária. São lesões ulceradas, como se fossem feridas, na região genital, pênis ou vulva. Não dói, não coça e não costuma sangrar, sumindo normalmente em um mês ou um mês e meio após. Mas essa é a fase primária da doença, que, tempos depois, tem a fase secundária, que apresenta uma inflamação na pele, fica vermelha, podendo gerar lesões nas palmas das mãos e dos pés. Em alguns casos aparece vermelhidão nos olhos, parecido com conjuntivite, mas que também some sozinho. Porém, isso engana muita gente e por isso é importante ir ao médico para um exame completo ao menos uma vez ao ano”, recomendou.

A fase latente da doença vem em seguida e é descrita pela medicina como assintomática, podendo durar até 20 ou 30 anos. A única forma de se descobrir a doença nessa fase é mediante sorologia, cujos testes atualmente são mais baratos e acessíveis à população.

“Mas a fase terciária da sífilis pode se manifestar dentro de dois anos ou em até 40 anos após a infecção, porém já com sintomas neurológicos, podendo dar demência, lesões ósseas ou pulmonares. E essa fase, sim, leva à morte”, advertiu dr. Marcel.

O tratamento

O médico ressaltou que o tratamento para uma doença tão séria como a sífilis é muito simples. “Começa com os testes em qualquer unidade de saúde e o tratamento se faz com a penicilina benzatina, que é a benzetacil. O número de doses dependerá se é gestante, se é alérgico, havendo neste caso outros medicamentos também”.

Em 2019 o Ministério da Saúde divulgou que o Brasil teve mais de 150 mil casos notificados de sífilis, dos quais mais de 60 mil foram em gestantes e 25 mil congênitas (bebês que nascem com a doença). O principal meio de evitar a sífilis, segundo o médico, é a camisinha, masculina ou feminina.

139 pessoas com HIV

Gisele conta que, com relação ao HIV, São José do Rio Pardo e cidades próximas cujos pacientes fazem tratamento médico aqui, há 139 pessoas atualmente.

Neste ano de pandemia houve uma queda de 50% na testagem, mas a média dos contaminados rio-pardenses está na faixa etária dos 30 a 40 anos, com grau de instrução de ensino médio a superior.

Quanto a sífilis, Gisele diz que São José tem um número expressivo de mulheres gestantes com a doença, o que impactará diretamente nos bebês que elas gerarem.

“Mas São José do Rio Pardo hoje oferece tanto os testes quanto o tratamento para todos os casos de sífilis no município. O teste é uma picadinha no dedo e leva 15 minutos para o resultado sair. Se positivo, a pessoa já sai, na hora, com a receita médica para iniciar a medicação. Então é um ganho para a população porque amplia o acesso, já que todas as unidades oferecem o teste rápido para diagnóstico de todas as doenças sexualmente transmissíveis”, concluiu.