Gazeta Do Rio Pardo

População idosa aumenta e Alzheimer é a demência mais comum da terceira idade

Jean Pierre de Alencar, especialista em geriatria

Daqui a 20 anos, a cada quatro pessoas uma será idosa no mundo

Em 1º de outubro é comemorado o Dia Nacional do Idoso e o Dia Internacional da Terceira Idade. No Brasil, a data foi estabelecida junto com criação do Estatuto do Idoso, em 2003, já o Dia da Terceira Idade, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1991. Segundo informações publicadas pela Universidade Federal de Juiz de Fora, o número de brasileiros idosos de 60 anos ou mais, era de 2,6 milhões em 1950, passou para 29,9 milhões em 2020 e deve alcançar 72,4 milhões em 2100. O crescimento absoluto foi de 27,6 vezes. Em termos relativos a população idosa acima de 60 anos representava 4,9% do total de habitantes de 1950, passou para 14% em 2020 e deve atingir a marca de 40,1% em 2100.

Para falar sobre a população idosa, o Jornal do Meio Dia, da rádio Difusora, entrevistou nessa semana, Jean Pierre de Alencar. Especialista em geriatria, membro da Academia Brasileira de Neurologia e vice-presidente da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer), ele falou sobre as doenças mais recorrentes em idosos e mencionou alguns motivos sobre o aumento deste grupo populacional.

“Hoje em dia, temos uma diminuição da fecundidade. As crianças nascem menos do que antigamente, em que nossos avós tinham muitos filhos. Atualmente a população tem menos crianças por várias condições, desde a econômica até a social. Somado a diminuição de nascimentos e a de mortalidade, levando em consideração as melhorias das vacinas, condições econômicas, melhoria na saúde- com o surgimento de novos medicamentos, o aumento no número de profissionais médicos, laboratórios de exames, eram muito menores, agora evoluímos muito. Isso faz com que a população tenha uma condição de vida melhor, as pessoas vivem mais tempo”, comentou o médico, acerca do crescimento da população idosa.

Ele observou ainda que a expectativa de vida dos brasileiros, que na década de 1940 era de aproximadamente 46 anos, saltou para a faixa de 75 anos de idade atualmente. Mas conforme destacou, o país não tem tanto preparo como deveria para lidar com o crescimento da faixa etária.

“A Europa e os EUA tiveram muitos anos para ter esse crescimento. Eles conseguiram melhorar suas leis e seus sistemas de saúde. Já no Brasil esse crescimento foi muito rápido, e não teve tempo hábil para se preparar para isso, para gerar toda uma estrutura. Hoje temos mais idosos do que crianças com 9 anos de idade. Daqui a dez anos, teremos mais idosos do que jovens de até 14 anos. Da mesma forma, daqui a 20 anos, a cada quatro pessoas uma será idosa no mundo. Temos quase 1 bilhão de pessoas idosas hoje, e dentro de cinco anos esse número vai dobrar. O crescimento é muito grande”, destacou.

Geriatria

A especialidade de geriatria tem aproximadamente 50 anos no país, considerada relativamente nova. Segundo Jean Pierre, o Brasil possui 500 mil médicos e apenas 1.800 são geriatras. No país, existe apenas um geriatra para cada 20 mil idosos.

“A própria procura pela especialidade de geriatria é muito baixa. Temos 53 especialidades aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina, e a geriatria é uma das últimas em procura. Isso faz com que tenham poucos especialistas na área, no Estado de São Paulo, são aproximadamente 500”, informou.

Ainda, de acordo com o médico, as pessoas que procuram um geriatra normalmente estão acima dos 60 anos, que é quando chegam na terceira idade. Mas ele alerta que os sinais do envelhecimento acontecem bem antes.

 “O processo de envelhecimento começa aos 35 anos. No caso da mulher, ela tem diminuição de massa de osso, de absorção de cálcio, o músculo começa a diminuir. Temos alterações fisiológicas que faz com que comecemos a envelhecer. Quanto antes você se prevenir, melhor”, disse.

De acordo com o especialista, o geriatra não trabalha apenas com os problemas de saúde, mas também com a prevenção. “Analisamos os fatores de risco, genéticos, peso, alimentação, exames preventivos, traçamos as atividades físicas que podem ser feitas. Fazemos uma consulta bem mais extensa, demora entre uma a duas horas. Nós preparamos um plano de envelhecimento para a pessoa, de acordo com aquilo que ela precisa, com a situação da saúde dela naquele momento. O geriatra faz um elo entre as especialidades e trabalha muito com a equipe multidisciplinar, fisioterapeuta, nutricionista, fonoaudiólogo”, revelou.

Mortalidade

Hoje em dia, 50% da mortalidade no mundo em pessoas idosas está ligada a doenças cardiovasculares. As doenças crônicas são responsáveis por 75% das mortes. Ainda de acordo com o médico, doenças crônicas não degenerativas como hipertensão, diabetes, obesidade, sedentarismo, esclerose, demência, osteoporose, insuficiência cardíaca, bronquite, asma, insuficiência renal, são comuns na faixa etária.

“Nos anos 1930 as pessoas morriam por doenças infecciosas, como dengue, pneumonia, tuberculose, hoje morrem mais por doença cardiovascular, que está ligada ao estilo de vida. Se a pessoa tem o colesterol alto, é obesa, sedentária, essas doenças surgem”, relatou.

Andropausa

Corriqueiramente fala-se sobre a menopausa. No entanto, muitas vezes por tabu, o assunto ‘andropausa’ é deixado de lado pelos homens. O profissional comentou o assunto.

“A andropausa é algo muito ruim no homem, pois diminui a libido, eles sentem cansaço com mais facilidade, ocorre perda de massa muscular. As atividades do dia a dia ficam menos prazerosas para eles. Mas a andropausa tem tratamento, a própria atividade física contribui com isso, e também a pessoa deve procurar um profissional para fazer reposição hormonal”, observa.

“No entanto, é preciso tomar cuidado com essa reposição porque existem alguns critérios de risco. Para o homem, existe testosterona de várias maneiras, gel, adesivo, injetável. Mas se o paciente tiver uma pré-disposição para ter câncer de próstata, por exemplo, pode aumentar o risco”, alerta.

O tratamento de reposição hormonal precisa ser prescrito por um médico. Antes de inicia-lo, é preciso fazer uma avaliação junto com um urologista.

Mal de Alzheimer x Demência por idade

Apenas no Brasil, onde atualmente há mais de 29 milhões de pessoas acima dos 60 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acredita-se que quase 2 milhões de pessoas têm demências, sendo que cerca de 40 a 60% delas são do tipo Alzheimer. 

“Quando envelhecemos, esquecer faz parte do ser humano. Precisamos esquecer coisas antigas para aprender coisas novas. Mas é preciso avaliar quando o esquecimento começa a interferir no dia a dia. Quando a pessoa acabou de ouvir uma informação, fica repetindo várias vezes, repete frases, perde objetos em casa, se perde, tem dificuldade na linguagem, alterações de datas, começa a esquecer coisas que ela já fazia, como a receita de um bolo, por exemplo, deve ser investigado”, ressaltou o geriatra.

A demência é uma doença neurodegenerativa que vai deteriorando as células nervosas, que são os neurônios – ela pode ser reversível ou irreversível.

“O problema ocorre acima dos 60 anos, a taxa de demência é em torno de 4% a 6%. Nos casos reversíveis – ansiedade e depressão, por exemplo, podem deixar a pessoa esquecida, e não necessariamente é uma demência de Alzheimer ou degenerativa. Se a pessoa tem uma anemia, que é causada por deficiência de vitamina, problemas na tireoide, tudo isso pode causar esquecimento e são alterações reversíveis”, disse.

Quanto as demências não reversíveis – A doença de Alzheimer é a principal, que mais atinge os idosos. “A demência vascular, pode ser causada por AVC. Tem outras demências como a Corpos de Lewy – demência causada pelo Parkinson, por exemplo. Mas a de Alzheimer representa de 50% a 70% delas”, completou. O médico alertou para que todas as pessoas que possuem esquecimento recorrente, tem mais de 60 anos e tem as dificuldades mencionadas, devem procurar um profissional.