Gazeta Do Rio Pardo

Nem todo tremor é Parkinson, diz neurologista

Dr. João Carlos Pizani

Dr. João Pizani, neurologista clínico, atende cerca de 50 pacientes rio-pardenses que sofrem com a doença

Dia 11 de abril, foi o “Dia Mundial do Parkinson”, data estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1998, com o propósito de explicar a doença e mostrar as possibilidades de tratamento para os pacientes e seus familiares. O Mal de Parkinson  afeta milhares de pessoas no mundo – apenas no Brasil, são diagnosticados mais de 200 mil casos por ano da doença e estudos internacionais estimam que o número de pacientes com a doença no país dobrará até 2030.

João Carlos Pizani, neurologista clínico, que atende na Saúde Mental, no Ambulatório da Santa Casa e no AME em Casa Branca, participou do ‘Jornal do Meio Dia’, na rádio Difusora, e esclareceu algumas dúvidas sobre a doença, explicou sobre os tratamentos cabíveis, diagnóstico e sintomas.

O que é o Mal de Parkinson? Como a doença é desencadeada e o que ocorre no organismo?

João: A doença de Parkinson é neurológica, chamamos de doença neurodegenerativa, ela é semelhante ao Alzheimer. Nas doenças degenerativas, por alguma razão, as células do cérebro, vão morrendo aos poucos. Essa morte dos neurônios vai causando os sintomas da doença de Parkinson. Nessa doença, especificamente, ocorre uma morte da área do cérebro chamada ‘substância nigra’, que é responsável pela produção da dopamina, que é um neurotransmissor cerebral. A dopamina tem a responsabilidade de controlar movimentos, de dar fineza a eles. Progressivamente, o paciente começa a apresentar vários sintomas, que chamamos de parkinsonismo.

Não sabemos até hoje porque as células cerebrais começam a morrer. Existe a diminuição dessas células em todas as pessoas acima de 60 anos. Mas não sabe-se o motivo dessa morte ser acelerada com a doença de Parkinson.

Quais os sintomas da doença?

João: Nem sempre quem tem Parkinson treme. Na verdade, 40% dos pacientes não têm tremor. Os principais sintomas da doença de Parkinson, são a rigidez e lentidão. A pessoa fica travada, com movimentos lentos. Além disso, surge a dificuldade em andar, o paciente começa a cambalear para frente, ele têm uma marcha de pequenos passos, e vai se curvando para frente. O tremor que acompanha o Parkinson normalmente surge quando a pessoa está em repouso. Quando a mão está parada, começa a tremer mais. Quando vai realizar um movimento, esse tremor costuma diminuir. Mas nem todo tremor é Parkinson. Ás vezes vemos alguns diagnósticos errados, o paciente têm tremores e recebe a receita de um remédio para Parkinson, mas existem outros tipos de tremores que são confundidos com a doença.  Existe a perda de olfato, que pode aparecer uns cinco anos antes da manifestação da doença. Alguns pacientes têm alterações de humor, ficam mais ansiosos, apáticos. Alguns também tem alterações no sono, se mexem muito, ou falam durante o sono. Também é comum problemas de memória após anos de evolução da doença.

Qualquer pessoa pode desenvolver o Mal de Parkinson? Existe uma faixa etária mais propensa? É hereditário?

João: Existem casos de Parkinson precoce, que acontece às vezes com pessoas abaixo de 60, 50 anos. Tenho pacientes que começaram a doença abaixo dessa idade. Mas como toda doença neurodegenerativa, ela é mais comum à partir dos 70 anos. Quanto a questão genética, existem sim casos familiares em que várias pessoas da mesma família tem a doença, mas esses casos são minoria. A maioria das pessoas desenvolvem a doença de forma esporádica.

Existe cura para o Parkinson?

João: Infelizmente as doenças neurodegenerativas não tem cura. Temos tratamentos que retardam a doença, mas elas continuam a progredir. Comparando com o Alzheimer, a evolução do Parkinson é mais lenta. Então os pacientes sobrevivem 10, 15 anos com os sintomas, se o tratamento for feito de uma forma correta.

Como diagnosticar o Mal de Parkinson?

João: O Parkinson tem um diagnóstico clínico, é baseado na consulta médica. Quando o paciente relata que está tremulo, lento, que está perdendo a agilidade para fazer coisas cotidianas e básicas, que possui dores musculares, já são sintomas para um diagnóstico. Mas é feito um exame físico, que é o mandatário para ter o diagnóstico. Fazemos alguns testes, como o pinçamento com a mão, e o paciente apresenta o movimento que chamamos de roda denteada, porque a movimentação parece uma engrenagem, ele realiza em soquinhos, vagarosamente.

Pedimos exames complementares como tomografia e ressonância, apenas para excluir a possibilidade de outras doenças, que mimetizam o Parkinson. Por exemplo, existe parkinsonismo vascular, que são sintomas da doença de Parkinson causados por AVC. Temos também o parkinsonismo traumático, causado por traumas no cérebro, então a pessoa apresenta os mesmos sintomas. Tem alguns medicamentos para labirintite, que às vezes os pacientes  tomam sem controle, que também causam sintomas de Parkinson, mas quando o paciente para de tomar o remédio por um tempo, eles desaparecem. Além disso, alguns antipsicóticos também causam esses sintomas, nesse caso, é necessário que os remédios sejam ajustados para que o paciente melhore.

Quais os tratamentos para a doença?

João: O tratamento é feito com base nos sintomas que o paciente apresenta. O principal tratamento medicamentoso, é a Levodopa, mas existem outros tipos de remédios, pelo menos uns cinco ou seis tipos de medicamentos que diminuem a evolução da doença e melhoram os sintomas. Primeiro tentamos a terapia medicamentosa, e em casos específicos, existe a cirurgia de estimulação cerebral. Ela é feita com o paciente acordado, o neurocirurgião especialista em Parkinson faz um furinho na calota craniana, às vezes apenas com anestesia local e insere um fiozinho que envia um choque para uma área do cérebro. Esse choque diminuiu os sintomas do Parkinson. Pacientes com muito tremor, por exemplo, que tomam remédio mas ele não faz mais efeito como fazia antes, podem fazer essa cirurgia para melhorar os sintomas. Lembrando que a cirurgia não cura os sintomas, ela é feita apenas para que o paciente possa ter uma melhora na qualidade de vida.

Mas existem critérios para exclusão da cirurgia, não são todas as pessoas que podem fazer. Se o paciente não melhora com a Levodopa, já é excluído. Pacientes que apresentam perda de memória com um grau de instalação de quadro demencial, também não são candidatos a cirurgia. No entanto, essa terapia é algo importante, que foi introduzida no meio médico nos últimos anos e tem uma boa resposta.

É possível prevenir o Parkinson?

João: Do ponto de vista médico, infelizmente não temos uma prevenção definitiva. Mas o que sabemos hoje em dia, que já foi comprovado, é que as pessoas mais ativas, que fazem atividade física, que tem um grau maior de leitura, é como se existisse um efeito protetor na doença de Parkinson, assim como em doenças crônicas. 

O senhor atende muitos pacientes que sofrem dessa doença aqui em São José do Rio Pardo? Têm uma estimativa?

João: Aqui no município, em tratamento comigo, são mais ou menos 50 casos de Parkinson, que eu considero um número alto. Doenças neurodegenerativas não são boas, são terminais, a pessoa vai evoluindo com aquela doença, não tem uma qualidade de vida boa, apesar de hoje em dia no início do tratamento a pessoa conseguir ter uma vida ativa, e cada caso tem sua particularidade, mas acho um número alto da doença.

Quando o cidadão deve recorrer ao neurologista?

João: Com apresentação de tremor, o paciente deve procurar ajuda médica. Se a pessoa ficar trêmula, perceber que isso está atrapalhando sua atividade diária, que incomoda, deve procurar ajuda médica. Assim como pessoas com alterações de movimento, que às vezes são confundidas com labirintite, devem procurar ajuda médica.