Gazeta Do Rio Pardo

Município não teve casos confirmados de dengue em 2022

Dr. Marcelo Galotti, infectologista.

Vacina contra a doença está em fase 3 de testes  

O município de Araraquara têm enfrentado um surto de dengue nos últimos dois meses. A cidade já atingiu a marca de 1.721 casos confirmados da doença. Seis pessoas já faleceram no município por terem contraído dengue. Assim como Araraquara, outras cidades da região também têm enfrentado um aumento no surgimento dos casos.

Em contrapartida, São José do Rio Pardo não teve casos da doença confirmados desde o início do ano.  Seis notificações foram feitas, mas o resultado negativo foi unânime. O infectologista Marcelo Galotti falou sobre a doença essa semana durante uma entrevista para a Rádio Difusora. Gazeta reproduz abaixo os principais trechos.

“O que está acontecendo em Araraquara, é provavelmente um comportamento endêmico. Que é uma situação geograficamente limitada, com número de casos e de óbitos previsíveis e eventualmente surtos. Um exemplo disso é a gripe, em que existe o ano todo, mas no inverno temos um pico. Não tem a potência de uma epidemia isso que está acontecendo em Araraquara. Foram três mortos e mais de mil casos”, disse.

Dengue e Covid

Dr. Marcelo ressaltou que é completamente possível que uma pessoa contraia Covid-19 e dengue no mesmo período. Em Curitiba, por exemplo, já foi registrado um caso de dengue associado ao coronavírus.

“A Covid é uma doença respiratória, os sintomas são parecidos com a gripe. Mas é um quadro diferente da dengue, onde a pessoa apresenta exantema (lesões que aparecem como erupções eritematosas mosqueadas na face, pescoço e tórax) e eventualmente petéquia (pequenas manchas marrom-arroxeadas causadas pelo sangramento sob a pele)  no começo, que são sinais hemorrágicos, coisa que a Covid não têm”, informou.

Segundo o infectologista, há grande possibilidade dos indivíduos que adquirirem o quadro das doenças associadas, tenham sintomas respiratórios e lesões na pele.

Tipos

Segundo o médico, cerca de 60% a 70% das pessoas que pegam dengue são sintomáticas. Já 35% das pessoas, se encaixam no tipo assintomático.

Dengue Clássica: A primeira manifestação é febre alta (39° a 40°C) de início abrupto, normalmente seguido de cefaleia ou dor nos olhos, fadiga ou dores musculares e ósseas, falta de apetite, náuseas, tonturas, vômitos e erupções na pele. A enfermidade tem duração de cinco a sete dias. O período de convalescença pode ser acompanhado de grande debilidade física, estendendo-se por semanas;

Dengue Hemorrágica: A forma mais grave da doença, pois pode levar ao óbito. Nesse caso, o tratamento é realizado em um hospital e deve ser acompanhado de perto pelo médico. Vale lembrar que os sintomas são muito parecidos com o da Dengue Clássica, só que por volta do terceiro dia, o paciente passa a ter sangramentos, principalmente nas gengivas e na pele, além de vômitos persistentes e dor abdominal intensa e contínua;

Febre Hemorrágica da Dengue ou Síndrome do Choque da Dengue: a manifestação mais grave e rara da dengue hemorrágica. Apresenta sintomas como palidez, hipotermia, alterações no nível de consciência, alterações circulatórias, pressão arterial baixa e taquicardia, podendo levar ao óbito.

Vacina para dengue

Poucas pessoas sabem, mas já existe uma vacina contra a dengue circulando no mercado. No entanto, é uma vacina completamente restrita.

“A Denguevaxia já é comercializada. No entanto, é uma vacina complicada. Possui os quatro sorotipos de dengue, e é subcutânea. O primeiro problema dela, é que é muito cara. São três doses, e cada uma custa R$150,00. Ela tem 66% de cobertura geral, 80% de cobertura em hospitalização e mais de 90% em morte. No entanto, essa vacina não pode ser usada se a pessoa nunca teve dengue. Quando a pessoa tem um episódio de dengue, e pega pela segunda vez, o quadro fica mais grave, porque o sistema imunológico é estimulado, mas ele não é usado na primeira vez, porque a doença é rápida. Antes do sistema agir a doença já acabou. Quando a pessoa pega pela segunda vez, o sistema imunológico reage a todo vapor, causa uma reação inflamatória mais grave. Com a vacina, pode ter esse problema. Ela cobre 66%, mas os 34% que ela deixa de cobrir, pode estimular uma resposta semelhante ao segundo caso de dengue”, explicou.

Por esse motivo, para que o indivíduo receba a vacina, ele necessariamente precisa já ter contraído a dengue. Além disso, a vacina não pode ser usada em crianças, nem em idosos, ou em pessoas com comorbidades.

“No entanto, há uma vacina em fase 3 no Butantan, com resultados preliminares fantásticos. Ela será gratuita, porque está sendo feita para o SUS, não tem limitações, porque pode ser feita em qualquer idade, e em pessoas com comorbidades, e não precisa ter tido dengue anteriormente para usa-la. Ela está em fase final”, revela o infectologista.

Medicamentos

O tratamento sintomático da dengue deve ser feito apenas com dipirona ou paracetamol. Segundo Marcelo, todos os outros medicamentos funcionam a favor do vírus e podem ser prejudiciais.

“Eles acabam causando um quadro hemorrágico. O Ibuprofeno até pouco tempo era indicado para dar suporte nos casos de dengue, mas recentemente começaram a perceber que ele tem como efeito colateral o sangramento. Por este motivo, há pouco tempo ele foi retirado do tratamento da dengue”, concluiu.