Há no Brasil de 80 a 120 mil pessoas que são portadoras do vírus mas desconhecem a doença
Ao longo do mês, os serviços de saúde promoveram mais uma campanha “Dezembro Vermelho”, medida instituída no Brasil como forma de chamar a atenção da sociedade para a luta contra o vírus HIV, a Aids e outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), com foco na prevenção, assistência e proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV.
Segundo dados oficias, atualmente, existem 920 mil pessoas com HIV no Brasil. Desde 1980, foram 360 mil mortes acumuladas em decorrência da doença. Com o passar dos anos, novos tratamentos de grande eficácia surgiram, e o número e pessoas que possuem um status de carga viral indetectável é grande. No entanto, a sociedade ainda possuí muitos desafios a serem resolvidos quando se fala em HIV.
Um dos criadores do programa de atendimento aos infectados por Aids no município, o infectologista Marcelo Galotti, falou nesta semana sobre o tema, durante entrevista à Rádio Difusora.
Segundo ele, atualmente há 126 pacientes em tratamento contra a Aids no município. Desse total, 56 são da própria cidade, enquanto que outros 70 são de municípios vizinhos. “Todas elas estão muito controladas evoluindo muito bem”, disse o médico.
No final da década de 1980 e meados dos anos de 1990, num período em que o tratamento ainda era algo incerto as ações visavam apenas melhorar a qualidade de vida dos pacientes, até que viessem a óbito, o que durava em média 7 anos.
Foi neste cenário que um grupo de profissionais da saúde local arregaçou as mangas para criar em São José o Gripo DST/Aids.
O programa pioneiro contou com o Dr. Marcelo, ao lado da enfermeira Denise Rondinelli Cossi Salvadori, do enfermeiro Celso Ferreira, da Psicóloga Mirian Dias Camargo, do médico Hamilton Torres.
O foco era a prevenção, por meio de orientação e, também, amparar as pessoas acometidas pela doença. Com o passar do tempo, veio a distribuição de medicamentos – os chamados coquetéis.
O cenário no país
De acordo com o infectologista, há no Brasil de 80 a 120 mil pessoas que são portadoras do vírus mas desconhecem a doença. Ele apresenta dados ainda de que muitas das pessoas que fazem tratamento contra a doença têm carga viral indetectável – ou seja, tem havido eficácia no tratamento.
“Nos últimos anos, houve uma diminuição importante de casos de maneira geral. Uma queda em torno de 19% de novos casos. Em relação aos óbitos, houve um decréscimo de 17%”, explica.
“Em relação a transmissão vertical de mãe para filho, houve uma queda importante, e com isso automaticamente uma queda de casos e crianças com menos de 5 anos com HIV”, completou.
Marcelo Galotti explica que, assim como ocorreu no início da doença, os jovens ainda são as principais vítimas. “Na faixa etária entre 15 a 25 anos, houve um aumento de 70% dos casos novos. Essa recorrência tem duas explicações: os jovens têm os hormônios a flor da pele, e entre 20 a 25 anos, é quando as mulheres gostam de engravidar. O que gera um aumento de 27% de HIV na gestação”.
O médico lembra que embora o tratamento não traga cura radical, ele reverte o quadro de quem tem HIV, ser for adotado logo no início da doença.
Mas de acordo com o Dr. Marcelo, a Lei Orçamentária para o próximo ano, elaborado pela gestão Jair Bolsonaro prevê um corte de R$ 407 milhões na verba de prevenção, controle e tratamento de HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), o que pode afetar o os pacientes do SUS.
“A verba é para uma cesta que eles fizeram, que inclui Aids, doenças sexualmente transmissíveis, hepatite, tuberculose e hanseníase. Para essas cinco patologias, designaram uma verba de R$ 1,9 bilhão. Só com o tratamento de pacientes com HIV, vai R$ 1,7 bilhão. Só com preservativos, R$ 67 milhões de reais. É impossível. Não sobra nada para fazer prevenção medicamentosa de Aids, nem para campanhas ou propagandas. Agora esse valor será dividido para o tratamento de todas as doenças citadas acima, é um absurdo, sabemos que não vai dar”, alerta.