São José produz cerca de 40 toneladas de lixo por dia e a responsabilidade é de todos, foi lembrado
Na terça-feira, dia 10 de março, ocorreu o evento “Lixo: Questão de Oportunidade”, no Seu Divino Gastrobar. Mais de 160 pessoas participaram, incluindo prefeitos de alguns munícipios da região, empresários, ambientalistas e várias escolas de São José do Rio Pardo.
Os principais temas abordados no evento foram: Economia Circular, Reciclagem e Geração de Energia através de Resíduos. São José do Rio Pardo produz cerca de 40 toneladas de lixo por dia.
Tecnologias
Henrique Torres, organizador do evento e presidente da ONG Amigos do Rio Pardo, falou sobre os resultados obtidos através das palestras.
“Foi melhor do que eu previa, a adesão do público foi enorme. Trouxemos alguns prefeitos, secretários estaduais, empresários, estudantes de ensino médio e universitários, quase todos os colégios da cidade estiveram aqui, professores participaram, alunos fizeram perguntas, a interação foi ótima. Cumprimos o objetivo de mostrar que a responsabilidade é de todos, não adianta ficar jogando só nas costas do poder público, quem descarta o lixo também é responsável. Trouxemos algumas tecnologias que estão disponíveis, não são caras e são viáveis e financiáveis. Mostramos para vários setores da sociedade, agora o pessoal sabe que tem tecnologia para isso, podem cobrar e realizar as devidas iniciativas”, declara.
“Temos que fazer a economia circular. É algo que consegue gerar dinheiro e poluir menos. Sustentabilidade não é só cuidar da natureza, é cuidar da ação humana. Precisamos ter a consciência que a responsabilidade é de todos. Temos que mudar nossos hábitos”, completa.
Lixo vale dinheiro
“Foi algo extremamente positivo, as soluções se complementaram, conseguimos trazer uma visão bem sistêmica aos participantes, o público foi bem diversificado, e todos participaram de tudo. O lixo é um problema que atinge desde uma cidade de 1.000 habitantes até 20 milhões. É um problema de todas as nações. A cada dia a humanidade está caminhando para que o lixo vire luz, por exemplo. Antigamente ninguém pensava em reciclar, hoje em dia as coisas mudaram. Quanto mais temos educação ambiental, mais consciência temos, e percebemos que não existe lixo, ele tem que voltar para a cadeia (produtiva), ele é um bem e vale dinheiro. É um problema compartilhado que demanda uma solução compartilhada. A discussão foi muito rica, e com isso demos passos à frente”, afirma Anauyla Batista, uma das palestrantes.
Resíduo tem solução
Ivan Mello, assistente da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp e membro do Grupo Gestor do CIRS (Comitê de Integração de Resíduos Sólidos) da SIMA (Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo), também comentou sobre a essência do encontro.
“O evento foi fundamental. A participação das pessoas mostrou a vontade que a comunidade tem de entender essa questão do resíduo. O resíduo tem solução, e ela só depende de nós. Temos que buscar soluções que possam ser aplicadas em todos os municípios do estado. Gera-se praticamente 1 quilo de resíduo por habitante, somados cotidianamente. No aterro temos lixo sobre lixo o tempo todo, então temos que tratar corretamente e parar de levar para o aterro. Precisamos utilizar os artifícios que estavam aqui presentes, o CDR- Combustível Derivado do Resíduo, geração de energia e economia circular. Todas essas ideais estavam no evento porque já estão sendo praticadas. Foi muito importante a presença dos prefeitos no evento, porque quando você junta vários representantes de municípios, você consegue diminuir o custo para cada uma das cidades de maneira direta, ou seja, eles gastarão menos em fazer uma ação, porque terão muitos fazendo o mesmo. A juventude, principalmente, faz toda a diferença, pois serão eles os responsáveis pelo futuro, e educação ambiental deve começar em casa. Temos que disseminar esse conteúdo para o futuro. A presença dos estudantes foi fundamental”.
Processo de amadurecimento
“O Brasil está muito aquém ainda quando olhamos os resultados mundiais. O Brasil recicla apenas 3%, é um índice muito baixo. Se formos comparar com países como os da Escandinávia, por exemplo, que é um povo mais adiantado com relação a isso, estamos muito atrás. Existe um processo de conscientização crescente, que é o que precisamos. Temos boas práticas, conhecimento e tecnologia, acho que o processo de educação precisa ser melhorado, divulgação e fiscalização. Então estamos em um processo de amadurecimento. O processo deve começar com as crianças, é fundamental que comece por elas. O resíduo é uma questão cultural, precisamos contaminar, em um bom sentido, as outras pessoas a agir certo. É uma maratona que começa com um primeiro passo, é um trabalho de formiguinha e precisa evoluir. Os resíduos são parte do processo produtivo. Você produz um alimento, um bem, que vai ser descartado em um certo momento, ele é parte do processo. O resíduo precisa fazer parte da cadeia econômica, quando ele for encarado dessa forma, a solução vai ser diferente”, disse Marcos Kutabe, palestrante.
Separação correta
Rodrigo Oliveira é CEO da “Green Mining” e da “Fral Consultoria” – empresa de engenharia de projetos com mais de 20 anos lidando com soluções ambientais e de resíduos sólidos.
“Achei muito bacana ter escolas, o pessoal interessado em entender como devemos ter um melhor convívio com o meio ambiente, como essa relação homem e meio ambiente pode ter uma harmonia cada vez melhor. Tudo começa em casa. Quando nós falamos em resíduos sólidos, para nós uma coisa muito importante é a segregação na fonte. Ou seja, fazer a separação correta. Primeiramente precisamos entender qual o tipo de material que está naquela embalagem, como você destina aquilo corretamente, então a separação de recicláveis é um grande passo. Se a pessoa tiver a disposição de fazer uma compostagem caseira (reciclar lixo orgânico), permite tirar muito resíduo do meio ambiente. Mais de 50% do resíduo gerado, é orgânico”.
“Desde uma coleta de materiais na casa das pessoas, nos estabelecimentos, de materiais que podem ser reciclados, até a destinação para virar energia, e conseguir aproveitar. Tudo o que as empresas trouxeram ao evento, é a valoração de resíduos, você não mais os transforma em rejeitos, porque agora temos tecnologia para que eles sejam valorados e colocados na forma de energia ou na forma de recursos de volta na cadeia de suprimentos”, encerra.
Entrevistas: Luis Fernando Benedito
Texto: Júlia Sartori