Gazeta Do Rio Pardo

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Educação: a grama tão verde do vizinho

*Norman de Paula Arruda Filho

A Alemanha está nos noticiários por aprovar jornada de trabalho de 28 horas semanais, porém, ao lançar o olhar
para este país outro dado me chama a atenção: o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Dados de 2016 mostram
que o governo federal e os setores econômico e científico alemães investiram 2,94% do Produto Interno Bruto em
pesquisa e desenvolvimento contra 2,03% dos outros países da União Europeia e gerando um abismo quando comparado ao Brasil,
que em 2015, investiu 0,63%, o equivalente a R$ 37,1 bilhões contra os 92,2 bilhões de euros da Alemanha.

Porém, mesmo sofrendo de um problema que nos é familiar: a mobilidade social (um aluno pertencente às classes sociais
mais baixas terá poucas oportunidades para ascender socialmente em relação aos seus pais), o “pulo do gato” dos alemães
atualmente está na atenção dada a transição do aluno ao mercado de trabalho.

Segundo uma pesquisa da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o nível de desemprego entre
adultos que se formaram no ensino secundário em um curso técnico chega a apenas 4,2%. Já para jovens entre 15 e 19 anos que não
estão estudando ou trabalhando chega a 8,6%, um dos menores níveis entre os países-membros da organização. Além disso, eles têm
uma classe média forte, com 58% da população ganhando entre € 2.400 e € 5.000, mesmo profissionais que se formam
somente no ensino secundário têm um poder de compra considerado socialmente satisfatório, o que mantém a economia aquecida.

Investimento em pesquisa e desenvolvimento aliado a programas de aprendizagem que auxiliem na inserção dos jovens no mercado
de trabalho nos distancia ainda mais da realidade alemã. Mas como podemos diminuir essa distância já que a projeção de investimento
nessa área não nos é promissora? Devemos e podemos promover parcerias internacionais e incentivar o investimento da iniciativa privada
para o preparo de nossos jovens para a profissionalização.

Como professor e gestor de uma instituição de ensino, sou inquieto e procuro sempre trazer inovações para a sala de aula. Hoje,
mais do que nunca, é fundamental buscar continuamente a troca de conhecimento entre players internacionais e com as iniciativas
globais, como a Organização das Nações Unidas (ONU). A sala de aula mudou. Nela, temos que incentivar os alunos a serem sedentos
por conteúdos extraclasse, cases de sucesso e, principalmente, experiências reais. Quem não se desprender da teoria, ficará estagnado
em um mercado profissional cada vez mais dinâmico.

A dimensão global do Dia Internacional da Educação, celebrado neste dia 24 de janeiro, serve para refletirmos sobre seu real significado.
Se não podemos investir, devemos não só abrir as fronteiras para a pesquisa científica como incentivar convites para parcerias em prol da
sustentabilidade das nações em todas as suas nuances, sejam elas de primeiro mundo ou não. Quem sabe um dia, com muita criatividade
e inspiração, chegaremos no padrão alemão.

*Norman de Paula Arruda Filho é Presidente do ISAE Escola de Negócios, conveniado à Fundação Getulio Vargas,
professor do Mestrado em Governança e Sustentabilidade do ISAE/FGV, e Coordenador do Comitê de
Sustentabilidade Empresarial da Associação Comercial do Paraná (ACP).

Uvas

A produção de uvas em Andradas nesse início de 2019 deverá ser bem abaixo daquela registrada nos últimos anos.
Depois de duas grandes safras, ano será de safra baixa no município. De acordo com a Embrapa Uva e Vinho e a Emater,
desde a preparação das videiras para esta safra havia o risco de desenvolvimento de doenças, sobretudo se houvesse muitas chuvas.
Como a região apresentou um nível considerável de precipitações, algumas doenças chegaram a ser registradas, contribuindo com
a redução da produtividade. Aliado a isso, a produção abaixo do normal após produzir muito em 2017/18 é considerada normal,
já que 2019 seria um ano de entressafra. Em algumas propriedades a queda pode chegar a 80%. A previsão de novas chuvas também
fizeram com que a colheita fosse antecipada para evitar que a fruta fosse danificada. PREÇO – O valor mínimo que deverá será pago
pelo quilo da uva na safra 2018/2019 foi fixado em R$ 1,03. A definição foi feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
e vale para as regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. – Veja mais em: http://www.jornaldosabado.com.br

As tensões na agenda

Por: Gaudêncio Torquato

Passadas três semanas de governo, não é possível apontar se as linhas anunciadas na economia ganharão eficácia, mas os primeiros
passos permitem tirar conclusões: a guinada do Brasil à direita remarcará, externamente, sua posição no concerto das Nações e,
internamente, acentuará os níveis de tensão entre os exércitos sob o comando de Jair Bolsonaro e movimentos que até então lideravam
a mobilização social. Na área política, por enquanto reinará a distensão até o momento em que as oposições retomarem o fôlego.

Na moldura mundial, o Brasil se distanciará do campo da socialdemocracia, particularmente junto aos países europeus, onde o sistema é
forte, para se aproximar das Nações que desfraldam a bandeira da direita, sob a égide do unilateralismo. O reposicionamento do país foi
claramente exposto pelo chanceler Ernesto Araújo: caminharemos sozinhos em algumas estradas, significando afastamento do
multilateralismo que tem guiado nossa política externa desde tempos remotos.

Seu argumento: cada Nação pode e deve trilhar o caminho que julgar mais adequado para atender ao escopo da soberania, sem seguir
regras estabelecidas por outras plagas. Mais: a cultura ocidental enfrenta um ataque do “globalismo”, que carrega em seu bojo o
“marxismo cultural”. O pensamento é próximo ao que defende o presidente norte-americano Donald Trump, para quem o controle da
imigração (e a defesa contra a invasão de fronteiras) é vital para defender o ideário nacional, proteger valores e as identidades dos países.

A remarcação dos eixos nas nossas relações exteriores é um grande risco, a partir da reação negativa de países árabes e da esfera asiática,
a partir da China, que, segundo Bolsonaro, “quer comprar o Brasil”. Essa nova ordem certamente implicará novas decisões junto aos
organismos internacionais que abrigam interesses das Nações, como ONU, UNESCO, OMC, OEA, MERCOSUL, entre outras.

Voltemos ao plano interno. O perfil do presidente e a maneira direta como se expressa, sem usar intermediários, sinalizam uma linha de
tensão elevada. As frentes de animosidade estarão na imprensa, em movimentos sociais e em parcela da academia. A imprensa acompanha
a vida política do presidente desde o passado, registrando casos em que se envolveu (por exemplo, discussão áspera com a deputada
Maria do Rosário (PT-RS), e quase sempre abordando de maneira negativa seu posicionamento de viés militar. A imprensa é considerada inimiga.

Os movimentos sociais, como o MST, núcleos ligados a arte (principalmente artistas da Globo) e grupos de intelectuais,  particularmente
os alinhados com o lulismo, vão continuar a atirar bombas em Bolsonaro. Que revidará com a espada do comandante-em-chefe do país.
Portanto, esses setores entrarão com ímpeto no ringue. E a pauta será longa: ideologia de gêneros, armamento, demarcação de terras indígenas,
direitos humanos, inserção militar na estrutura governamental etc.

No Congresso, a tensão poderá subir mais adiante. A força do mandatário-mor nos primeiros momentos abafará questionamentos. O oposicionismo será arrefecido por enquanto. Partidos e lideranças entrarão na arena de lutas quando o governo se mostrar por inteiro.
Ao PT interessa que o presidente entre na guerra expressiva que ele inventou: Nós e Eles. O apartheid social sempre foi o oxigênio petista.

Se a economia responder de forma positiva aos planos concebidos, as querelas serão arrefecidas.  E que fique claro: o Brasil será reapresentado na paisagem dos direitos e deveres, que terão seu discurso defendido pela esquerda e pela direita. A linha divisória será transparente. Quem aguarda tempos de paz e harmonia vai se decepcionar. Os ânimos sociais não serão apaziguados.

Uma chama de esperança: o aumento do Produto Nacional Bruto da Felicidade (PNBF). Se chegar à casa 7 numa escala de 10, é
possível abrirmos um ciclo de harmonia. No mais, Bolsonaro precisa se guiar pela régua do bom senso e evitar a barbárie. Terá condições?

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato