Gazeta Do Rio Pardo

Janeiro Roxo: Cidade tem certificado de eliminação da hanseníase

A hanseníase pode acometer, entre outros órgãos, as mãos, levando até à perda de dedos

Doença causa manchas, lesões na pele, insensibilidade, e queda de pelos

Em 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro e consolidou a cor roxa para campanhas educativas sobre a hanseníase. Considerada a enfermidade mais antiga da humanidade, a hanseníase tem cura, mas ainda hoje representa um problema de saúde pública no Brasil. Em São Paulo, o período de 27 a 31 de janeiro de 2020 foi escolhido Semana “H”.

Dr. Hamilton Torres, otorrinolaringologista que atua no Centro de Saúde local, foi entrevistado por Paulo Sérgio Rodrigues e Luis Fernando Benedito durante a programação da Rádio Difusora, no dia 13 de janeiro, e abordou o tema. O médico falou sobre os sintomas, tipos de hanseníase, tratamento, e informou que atualmente São José do Rio Pardo não possui nenhum paciente com a enfermidade.

“A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa, que existe há muitos anos, desde a antiguidade, e era conhecida como lepra. O termo que caiu em desuso desde a descoberta do bacilo de Hansen, com isso, ela ficou conhecida como hanseníase no mundo todo”, contou.

Segundo Dr. Hamilton, a doença provoca danos tanto na pele quanto nos nervos, que são chamamos de periféricos. Os nervos mais superficiais, da face, dos dedos, e membros inferiores são os mais acometidos. “A doença foi estigmatizada por muito tempo, as pessoas que tinham hanseníase eram discriminadas por causa da deformidade que ela causava. Quando alguém era infectado, era afastado totalmente da comunidade. Primeiro eram chamados de leprosários, depois de dispensários. As pessoas eram removidas de seu núcleo familiar e levadas para um local com pessoas que possuíam a mesma doença. As pessoas ficavam lá o resto da vida”, relatou.

“Com o advento do tratamento, isso mudou, a situação começou a ser melhorada”, completou.

Sintomas

“A hanseníase causa manchas na pele, de cor clara, acastanhadas, ou até meio avermelhadas. No local das manchas, caem pelos, ocorre a perda de sensibilidade na pele. Quando afeta os nervos da face, ela se torna mais caída, o nariz pode ser acometido, a pálpebra. As orelhas também podem ficar inchadas. A pessoa às vezes não consegue segurar um papel entre o polegar e o indicador, acaba perdendo a força. Os pés ficam rachados, o que pode causar infecções”, acrescentou.

Tipos

Existem dois tipos de hanseníase. “A paucibacilar, que é quando o exame é realizado e não conseguimos encontrar o bacilos. Costumamos fazer a baciloscopia, que é a pesquisa do bacilo, quando não encontramos muitos, é chamado de paucibacilar. Quando encontramos muitos deles, é a multibacilar”, disse.

“Outra forma de diferenciar, é que as lesões ocorrem mais nas partes frias do corpo. Nádegas, costas, barriga, cotovelo, orelha. Quando encontramos mais de cinco manchas típicas da hanseníase, também classificamos como multibacilar. Ela é mais contagiosa do que a primeira”, destacou.

Diagnóstico

O médico explicou que são utilizados tubinhos com água quente e fria, na pele, para que o paciente tente diferenciar a temperatura. “Quando está com a doença, não sente o frio ou o quente. Podem ser feitos até testes com agulha, que a pessoa não sente”.

“Se tiver manchas na pele, é importante testar para ver a sensibilidade, verificar a existência de pelinhos no local. Se as lesões tiveram as características citadas, insensibilidade, falta de pelos, é importante procurar um médico. De preferência os dermatologistas”, alertou.

Tratamento

Dr. Hamilton Torres: doença causa manchas na pele, claras, acastanhadas ou até meio avermelhadas

São dois tipos de tratamentos, o paucibacilar e o multibacilar.

“No paucibacilar, o tratamento é de seis meses. O paciente recebe a cartela da maneira que ele irá administrar a medicação. Tem medicamentos diários, e comprimidos que ele irá tomar uma vez por mês”, instruiu.

“O multibacilar é tratado durante doze meses, também com cartela de comprimidos. Os pacientes vão uma vez ao mês no médico fazer acompanhamento. Tratamos as pessoas que convivem com o hanseniano aplicando a vacina BCG, a mesma utilizada para a tuberculose. Esse bacilo tem uma semelhança com o que causa a tuberculose. A BCG provoca uma melhoria na resistência dos comunicantes para evitar que eles contraiam a hanseníase”, disse.

Contágio

Tanto os pacientes como os familiares devem ser acompanhados. A transmissão da hanseníase se faz por contato íntimo e prolongado. “A hanseníase é transmitida por via respiratória, tosse, espirros. O bacilo fica na cavidade nasal. Quem tem contato íntimo, que convive com a pessoa que possuí a doença, tem mais probabilidade de pegar”, informou Hamilton.

“Ela tem uma infecciosidade importante, mas a patogenicidade, que é a capacidade de provocar a doença, não é muito grande. Tem pessoas que convivem a vida toda com quem tem a hanseníase e não pegam. Se a pessoa teve ou tem contato com alguém que possui a doença, demora de dois a sete anos para ela se manifestar, na maioria das vezes”, revelou.

Município

“Quando entrei no Centro de Saúde de São José, cuidávamos de mais de 40 casos. O estado de São Paulo sempre se preocupou muito com a tuberculose e a hanseníase. Todos os casos que tínhamos aqui eram bem atendidos, incluindo os familiares. No começo o tratamento era diferente, hoje em dia os medicamentos são melhores, mas as drogas da época também curavam”, garantiu.

Dr. Hamilton contou que São José do Rio Pardo recebeu um certificado em 2015 pela eliminação da hanseníase no município. “Lembrando que eliminação não é o mesmo que erradicação, que é quando acaba com a doença de uma vez. Tínhamos pouquíssimos casos na época, e recebemos esse certificado”.

De 2001, até 2013, a cidade teve 21 casos. Em 2017, apenas dois. “Atualmente não temos ninguém com essa doença. O que tratamos esporadicamente são reações pós cura que alguns pacientes apresentam. São algumas sequelas de pessoas que estão curadas. Apesar de termos eliminado a doença, não podemos descuidar. Os últimos casos que tivemos eram multibacilares, mais contagiosos”, encerrou o médico.