Gazeta Do Rio Pardo

Homenagem: Conheça a história de alguns docentes do município

Professores contaram sobre suas trajetórias e mencionaram a importância da educação

No dia 15 de outubro, é comemorado o Dia Nacional dos Professores. A data foi instituída no país em 1963, durante a gestão do presidente João Goulart, para homenagear e dar destaque a esta nobre profissão, que ajuda diretamente na formação ética e cidadã dos alunos, além de ensina-los sobre o mundo e sua sociedade. O professor é um mediador do conhecimento e sabedoria. Cada um deles têm ou já teve um papel fundamental na vida de todos nós.  O professor é capaz de influenciar positivamente seus alunos, pois a maneira como ensina faz toda a diferença para gerar interesse, fazendo com que eles se sintam motivados a buscar conhecimento e a correr atrás de seus sonhos.

A cultura japonesa, por exemplo, respeita tanto os professores que reconhece que sem eles, não é possível criar um Imperador. Assim, mesmo que essa autoridade seja uma das principais do Japão, um professor é mais importante para a manutenção da sociedade e para a propagação de riquezas no mais amplo sentido.

Nessa edição, Gazeta do Rio Pardo homenageia todos os professores e deixa seu profundo agradecimento a cada um deles, que, com amor e dedicação, promovem as melhores versões da sociedade. Abaixo, a trajetória de alguns representantes desta bela profissão, narrada por cada um.

Marilene Scarcella

Professora Marileni Scarcella, 46 anos, formada em Magistério, Letras e Pós-graduada em Educação Infantil. Atua há 27 anos na rede municipal.

“Fiz o concurso de São José do Rio Pardo para o cargo de Professor I em 1995. Passei, e desde então, trabalho na Rede Municipal de Ensino. Já trabalhei com diversas fases da Educação Infantil – desde bebês até cinco anos de idade e também com crianças em idade de alfabetização. Em minha vida familiar, a carreira de professora esteve presente desde cedo: começando com minha irmã Luzia Scarcella, em seguida minha irmã Maria de Lourdes Scarcella e, por fim, também resolvi seguir seus passos, influenciada tanto por elas quanto por duas professoras que marcaram minha trajetória estudantil, na pré-escola – a professora Mirza, e no ginásio – minha professora de Português – Lúcia Penhabel. Essas quatro profissionais maravilhosas foram minha inspiração para escolher o Magistério”.

“Atualmente, há muitas informações sobre dicas de aulas, materiais, uma infinidade de recursos; quando comecei tínhamos que buscar muita literatura e contar com o apoio e orientação das professoras mais experientes, estava começando a surgir a coordenação pedagógica no município. Iniciei minha carreira na Fazenda Guaxupezão, ainda não dirigia, então dependia de carona e ônibus para poder trabalhar. A sala que me foi atribuída tinha apenas oito alunos, com idades entre 3 e 4 anos (sala mista), porém, a minha chefe na ocasião avisou que se  não conseguisse aumentar o número de alunos, a sala iria fechar e eu perderia a oportunidade de permanecer na Rede Municipal.  Com a ajuda da minha irmã Maria de Lourdes Scarcella e do motorista da Secretaria da Educação na época – João Amaro, percorri toda a região rural em torno da fazenda e conseguimos aumentar as matrículas, chegando a dezoito crianças na turma, podendo começar meu trabalho, sem risco de perdê-lo”, lembra.

“Para chegar à Fazenda, ia de carona com a professora Carminha Pires (que, pacientemente, me consolou várias vezes, devido à insegurança do início da carreira) e voltava, às vezes com ela, outras de ônibus de linha (tínhamos que ficar horas na beira da estrada esperando para conseguir voltar pra casa). No início, não tinha uma sala fixa, a cada novo ano fui passando por diversas escolas: Fazenda Guaxupezão, Vila Maria, Tubaca, Santa Helena. Até que, finalmente, houve uma atribuição geral na Rede Municipal e pude me fixar na Creche Maria França Torres. Depois, fui mudando de escolas e fases, conforme as oportunidades apareciam: trabalhei no Pequeno Samuel, São Judas, Ada Parisi, São Francisco, Stella Maris e cheguei à Creche Gilda Zanetti Mansano, onde atuo no Maternal há oito anos e onde pretendo me aposentar, daqui a três anos, se Deus quiser”, comentou.

“Acredito que cada profissional tenha o perfil ideal para trabalhar com determinadas fases e idades; hoje, com a experiência que tenho, descobri que o meu perfil é para o Maternal – crianças de três anos. Sinto-me realizada em vê-las desenvolvendo-se em sua socialização, comunicação, seus conhecimentos; observar o quanto evoluem em um ano e, além disso, o vínculo que conseguimos criar permite uma alegria e satisfação que não se compara a nada. Amo o que faço!”

“Durante esses 27 anos, tive vários momentos marcantes de conquistas, alegrias, desafios, entre eles, guardo na memória uma criança que, com apenas seis anos, já havia sido expulsa de duas escolas e chegou até a minha turma de alfabetização. No início, foi muito difícil, pois ela não se socializava e desencadeava muitos conflitos na turma. Com muita paciência, parceria das famílias e dos próprios coleguinhas, fomos ajudando essa criança – mudanças positivas foram ocorrendo e ela conseguiu aprender e tornar-se a melhor da turma em fazer contas; passou a ajudar os colegas e sua autoestima foi recuperada. Foi extremamente gratificante ver essa criança e sua família conquistarem essa transformação através da Educação. No final do ano, era uma criança totalmente diferente da que recebi no início; vê-la se formar com seus colegas e ir para o Ensino Fundamental, naquele tempo, foi uma das maiores realizações e alegrias que tive”.

“Diante dessa memória, encerro com essa citação: “Educação não transforma o mundo, Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo” (Paulo Freire)

Luís Alexandre Chiconello

Professor Luís Alexandre Chiconello, 53 anos, atua na área há 30 anos. Trabalha na ETEC Prof. Rodolpho José Del Guerra, UNIP, Poliedro Poços de Caldas e Colégio Bora Passar, em Guaxupé.

“Desde a adolescência já gostava de Matemática. Peguei gosto em ensinar colegas de sala e também alguns alunos de turmas anteriores. Já dava aulas particulares de Matemática na época do Ensino Médio e posteriormente, continuei trabalhando na época da graduação. Como quase todo início de profissão, há sempre uma adaptação. Pensa-se uma coisa, mas a realidade, se apresenta de forma diferente. Não tive grandes problemas, mas nada como alguns poucos anos de experiência para se trabalhar de modo mais confortável. No início, comecei numa Escola Pública noturna. Gostei bastante. Na época, fui muito bem recebido pelos alunos e até fui paraninfo de uma das turmas, 3 anos depois da minha estreia. No meu primeiro dia de aula, estava nervoso, tomei um litro de chá de erva cidreira. O nervosismo só durou nos 5 primeiros minutos.  O que eu havia preparado para o primeiro dia, demorei um mês para dar o conteúdo. A realidade das turmas era diferente do que eu imaginava”, contou.

“O que mais me deixa realizado como professor é ver os ex–alunos encaminhados e felizes com suas escolhas. É muito gratificante ouvir deles que nós fomos importantes para eles. Além disso, depois de muitos anos sempre tem alguém que te aborda e diz: professor lembra de mim? Fui seu aluno. É muito emocionante”.

“Foram muitos momento marcantes durante a carreira. Um deles, foi quando eu entrei na sala e os alunos começaram a me criticar. Falaram que minhas aulas não eram de qualidade, que não entendiam nada e por aí vai. Era um grande trote, na verdade, fizeram a brincadeira para me convidar para ser paraninfo da formatura deles. Nesse dia, cai direitinho na pegadinha deles e fiquei muito nervoso”.

Elaine Cristina Freire Zanatta

Professora Elaine Cristina Freire Zanatta, 48 anos. Trabalha há 22 anos na escola estadual Profª Stella Couvert Ribeiro, de Ensino Fundamental a Médio. Atuou durante 21 anos como professora de Língua Portuguesa e, este ano, está no cargo de Coordenadora de Gestão Pedagógica.

“O desejo de ser professora já se manifestava em mim desde criança. Por volta dos 7 anos, minha brincadeira era espalhar algumas bonecas que tinha nos degraus de um terraço de casa e eu era a ‘professorinha’ delas. Na adolescência, tive um professor muito querido na escola Cândido Rodrigues, o saudoso Sr. Fernando Torres, sua postura e a maneira de ensinar Português, contribuíram para que eu me apaixonasse por nossa Língua. O que veio a confirmar minha vocação. Mais tarde, já cursando o Magistério na Fundação Educacional, tive mais um grande docente, o Sr. Benedito Eusébio, que me dava aulas de Inglês. Eles foram os mestres que influenciaram minha escolha pelo curso de Letras, em que também conheci o professor Elizeu Monteiro, de Casa Branca, que ministrava aulas de Latim e Língua Portuguesa, a quem admirava muito”.

“Me formei em 1995, fiz o concurso público de 1998 e trabalhei em 1999 na Escola Francisco Thomaz de Carvalho, em Casa Branca. Iniciei substituindo uma licença-gestante e a partir daí foram surgindo mais e mais aulas durante o ano naquela mesma escola. Era um pouco difícil pela inexperiência e desafiador também, mas fui muito bem acolhida por muitos professores experientes que me davam dicas preciosas. Em 2000, finalmente fui chamada através do concurso e escolhi minha atual sede. E a partir daí fui me aprimorando e somando aprendizado a cada ano. Mas ainda há o que caminhar, estudar e aprender para me manter atualizada em minha área”.

“O que me realiza, e acredito que seja o mesmo para qualquer outro professor, é reencontrar um ex-aluno bem-sucedido no que faz, como exemplo, a jornalista Júlia Sartori que me convidou para participar desta edição. Não importa como eles tenham atingido sua realização: através de uma formação acadêmica, de um concurso público, como empreendedor de seu próprio negócio, enfim, trabalhando com aquilo que escolheu, que gosta de fazer, e saber que há um pouco de mim naquela conquista. Não há dúvida – o sucesso do aluno é o sucesso do seu professor também”.

“Há uma infinidade de momentos, são milhares de vidas que estiveram sob a responsabilidade de um professor ao longo de 20 anos. Os melhores são aqueles em que faço um aluno se sentir importante pela atenção que dedico a ele, fazer isso é uma das atribuições do professor, mas ouvir anos depois o quanto o fiz sentir-se especial, é o que me comove, por isso vou citar algo que aconteceu há 3 anos. Em 2019 um ex-aluno chamado Guilherme Paleari me procurou numa rede social para dizer que estava fazendo faculdade e gostaria de me agradecer por ter acreditado nele, que apesar de ser bagunceiro e eu ficar brava, eu também era paciente quando o ensinava.  Disse que se lembrava de um momento como uma cena de filme, em que eu parei a aula e fui até sua carteira explicar detalhadamente sobre Orações Subordinadas, porque ele estava disposto a aprender. Contou-me que a partir daí tomou gosto pela Língua Portuguesa, que se lembrava de mim com muito carinho por isso. Estava cursando Marketing em São Paulo e achava importante eu saber que ajudei a mudar sua vida. Isso foi marcante pra mim. Tive turmas e alunos maravilhosos, alguns especiais que até durante a pandemia, anos após ter-lhes dado aulas, vieram em grupo me trazer presente em casa no meu aniversário. Por tudo isso, acredito que tenho cumprido bem a missão de educadora que Deus me confiou. Nossa vida só faz sentido assim, quando marcamos a vida de outra pessoa. Por isso, gostaria de finalizar com esta frase de Carl Jung: Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

Diego Figueiredo

Professor Diego Figueiredo, 31 anos. Ministra aulas na Etec Profº Rodolpho José Del Guerra para o Ensino Médio e Técnico. Coordenador do Ensino Médio. Dez anos de profissão.

“A escolha por ser professor se deu a partir de uma decisão de ser socialmente útil para a comunidade, sempre pensei em uma profissão onde meus esforços fossem para desenvolver uma sociedade mais crítica e cidadã, dessa forma, a educação acabou sendo a escolha mais sensata”.

“Ser professor em início de carreira foi algo bastante complicado e com alguns obstáculos. Por opção sempre desejei trabalhar com ensino médio e na escola pública, isso porque como aluno já vivenciava as dificuldades de não ter alguns privilégios que os estudantes das escolas particulares tinham. Por isso, convivi muitas vezes com discentes que não tinham uma confiança na educação, daí a necessidade de ser um modelo e dialogar no momento das aulas com as diversas realidades dos meus alunos e de alguma forma ser impactante para aqueles estudantes, necessitando ser inovador a cada aula e a cada momento”.

“Ser professor é ser um cultivador de sonhos, a gente se realiza a partir do olhar do estudante que com as nossas aulas aprende e ensina a cada dia, quando nossos alunos conquistam seus sonhos, conseguimos de alguma maneira estar realizados com a nossa profissão. Percebo que na instituição onde trabalho, a Etec Prof. Rodolpho José Del Guerra, conseguimos cumprir esse papel, sendo uma escola pública que permite os estudantes a ter um conhecimento profissional e de qualidade”.

“Parafraseando o rapper brasileiro Emicida, a educação salva. Isso porque a escola muitas vezes se transforma na primeira instituição onde o indivíduo consegue ver uma realidade que muitas vezes é limitada pelas dificuldades da sua comunidade, do conjunto familiar ou da própria sociedade. Uma experiência que me marcou muito e me formou como docente foi quando lecionei em cursinho popular em Mococa, chamado Cursinho Popular Paulo Freire, onde o público-alvo eram alunos de baixa renda com objetivo de entrar nas universidades públicas. Nessa instituição conseguimos auxiliar estudantes a atingir profissões que seus familiares e gerações anteriores se limitavam a conhecer pela televisão. Assim conseguimos auxiliar a inverter uma herança social que muitas vezes não seria possível, estudantes que não tinham perspectiva de vida se tornaram profissionais de sucesso, e o mais importante, felizes”.

Julia Ferraz Silva

Julia Ferraz Silva, 26 anos, professora do 3º ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual Jorge Luiz Abichabki. Trabalha na área há 3 anos.

“Escolhi ser professora porque acredito que para todas as profissões é necessário alguém para ensinar, não só sobre os conteúdos educacionais, mas também sobre os pequenos e grandes passos que serão dados na vida de nossos estudantes, e fazer parte desse aprendizado das crianças fez com que me encantasse por essa profissão maravilhosa que é a pedagogia”.

“Eu ainda estou no início, mas sempre digo que aprendo um pouquinho mais a cada dia com meus alunos, comecei a dar aulas na cidade de Vargem Grande do Sul, posteriormente comecei em São José do Rio Pardo, pelo estado. Dei aulas também no município de Mococa, e posso dizer que cada lugar e cada turma me trouxe um grande aprendizado”.

“O que mais me realiza, é conseguir ver em meus alunos o que ensinei em sala de aula, quando eles se expressam e demonstram seu aprendizado não só de conteúdos escolares, mas de significados e ações que podem levar para suas vidas depois da escola. Um momento marcante em minha profissão foi em um dia que estava ensinando meus alunos e um deles veio bem pertinho de mim e disse: ‘Professora, eu queria te falar que em todo esse tempo que estou na escola você foi a professora que mais me ensinou’. Foram simples palavras e claro que sei que ele teve ótimas pessoas que o ajudaram a crescer e chegar onde está hoje, mas foi muito gratificante ouvir isso dele, consegui perceber que estava fazendo a diferença na vida daquelas crianças”.