428 pessoas morrem por dia no Brasil pelo uso do tabaco, alerta Instituto do Câncer
Nesta sexta-feira, 31 de maio, foi comemorado o Dia Mundial Sem Tabaco, evento que foi criado em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para alertar sobre os riscos, doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 428 pessoas morrem por dia no Brasil pelo uso do tabaco.
Segundo informações do Inca, 12,6% de todas as mortes registradas no país são atribuíveis ao cigarro. Ao todo, cerca de 156.216 mortes poderiam ser evitadas todos os anos se o vício em tabaco fosse eliminado.
Para ajudar a conscientizar a população rio-pardense sobre os malefícios do tabagismo, Gazeta do Rio Pardo entrou em contato com o médico cardiologista José Roberto Merli, que respondeu algumas perguntas relacionadas ao tema.
Quais os malefícios do cigarro? São apenas a longo prazo?
“O cigarro é a forma mais comum de administração do tabaco, que tem em sua composição a nicotina, droga que causa a pior dependência química conhecida pela medicina, o que ocorre em muito curto prazo, e também é uma das drogas que mais causa crises de abstinência.
O tabagismo é a maior causa de morte prevenível no mundo, sendo responsável a longo prazo por diversos tipos de cânceres, além de ser um fator de risco para doenças cardiovasculares e pulmonares”.
Qual a atenção necessária ao uso dos cigarros eletrônicos e narguilés?
“São dois outros dispositivos que têm como finalidade a administração da nicotina, portanto ambos podem causar dependência da droga. Nos cigarros eletrônicos existe a vantagem em relação ao cigarro comum, uma vez que na queima do cigarro também são inalados os produtos de sua combustão, que são nocivos para brônquios e causam irritação nos pulmões. Os cigarros eletrônicos fazem uma nebulização de nicotina e alguns compostos. Ou seja, é um pouco menos nocivo que o cigarro, mas não é, de forma alguma, livre de riscos. Já com o narguilé, a nicotina é administrada e inalada juntamente com produtos de combustão do carvão. A quantidade de monóxido de carbono inalada é bem maior que a do cigarro comum, uma vez que não possui filtro. Diferente do que a maioria das pessoas pensa, a água usada no narguilé serve para resfriar a fumaça queimada do tabaco e não para filtrar substâncias tóxicas”.
Essas formas de fumo são tão ruins quanto o cigarro normal?
“Na verdade, mesmo possuindo suas diferentes formas de administrar a nicotina, as três podem causar os mesmos efeitos de dependência e as doenças associadas ao tabagismo”.
Quanto tempo em média o pulmão leva para se recuperar após o paciente parar de fumar?
“Ao cessar o tabagismo, o paciente começa a sentir a diferença em minutos: a pressão volta ao normal, caem os níveis de monóxido de carbono e nicotina na circulação. Em dias é sentida melhora no olfato e paladar, em meses começa a melhorar a função pulmonar, diminuindo as tosses e risco de infecções pulmonares. Porém, para que o risco de tumores caia para níveis similares aos de um paciente não tabagista são necessários 20 anos”.
Como é feito o tratamento para ajudar o paciente a abandonar o vício?
“O tratamento é individualizado para cada paciente, levando em conta o nível de dependência, nível de motivação e tentativas anteriores de cessação do tabagismo. O que há em comum no tratamento de qualquer paciente é que a terapia cognitivo-comportamental está sempre presente, devido as altas taxas de recaída, mesmo com uso de remédios.
Além disso, existe a terapia medicamentosa, como os famosos adesivos e gomas de nicotina, que permitem que as pequenas doses administradas da droga evitem crises de abstinência e sejam reduzidas progressivamente.
Também existem outras classes de medicamentos, como antidepressivos e agonistas de receptores da nicotina”.
Algum caso marcante de paciente que conseguiu superar o vício? Ou algum caso que possa servir de exemplo para as pessoas deixarem de fumar?
“Neste vício são poucos os que abandonaram o tabagismo por vontade própria, antes das complicações. O hábito de fumar é muito prazeroso para os que fumam, além de proporcionar um bem estar muito grande. Para-lo é difícil e exige grande força de vontade, sendo poucos os que abandonam antes de surgir alguma complicação ou doença secundária. A maioria, e também não são todos, param seu uso quando começam a aparecer os sintomas graves do seu vício ou quando sua vida é ameaçada pelas complicações decorrentes do tabagismo, como enfisema pulmonar, derrame cerebral, infarto de miocárdio, bronquite crônica, cânceres, perda de membros, pneumonias de repetição e outros tantos. Infelizmente existem muito mais casos marcantes de evolução ruim e fatal do que bons”.