Investir nas novas vocações, melhorar espaços para oficinas estão entre os desafios a serem superados
O pároco Paulo Celso Demartini foi novamente escolhido como abade, da Abadia Nossa Senhora de São Bernardo de São José do Rio Pardo. É a segunda vez que atuará nesta missão à frente da entidade, responsável pela formação não apenas dos iniciantes na vida monástica, mas que já tem no portfólio também o cardeal do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, e Dom Edmilson Amador Caetano, atual bispo de Guarulhos.
Nascido em São José do Rio Pardo em 15 de agosto de 1964, Dom Paulo Celso Demartini sempre esteve ligado à Paróquia de São Roque. Entrou no Mosteiro Nossa Senhora de São Bernardo no dia 31 outubro de 1982. Estudou Filosofia e Teologia no Mosteiro de São Bento, Rio de Janeiro; foi ordenado diácono em 1989, sendo que, em 15 de dezembro daquele ano foi ordenado e presbítero. Na primeira vez que foi eleito Abado, ele havia acabado de retornar do Chile, onde passou 1 ano (2007-2008), no Monastério Santa Maria de Chada, atuando nos trabalhos de formação monástica.
Dom Paulo Celso Demartini falou à Gazeta sobre as expectativas em relação a esse novo desafio na comunidade Cisterciense.
Qual é a missão do Abade? Quais são suas atribuições e a quem o senhor responde nesse, digamos, organograma da igreja?
Abade é o pai da comunidade dos monges de um mosteiro. Ter um abade é um sinal de maturidade e estabilidade de uma comunidade. O normal em um mosteiro é ter figura de um abade, responsável pela parte espiritual e organizativa. Mas a parte financeira não é aconselhável ficar com o abade, mas com um ecônomo, chamado nos mosteiros de celeireiro. Temos ainda o Abade Presidente da Congregação, que é o Abade de um mosteiro fundado por São Bernardo de Claraval, em 1135. Também temos o Abade Geral, que dinamiza as doze Congregações que formam a Ordem Cisterciense.
Quantos são os monges/ padres/ diáconos atualmente vinculados à Abadia?
Somos 19 atualmente, mas contando com o Cardeal Dom Orani e o bispo Dom Edmilson somos 21. Eles continuam monges do nosso mosteiro mas a serviço das respectivas dioceses: Rio de Janeiro e Guarulhos. Estamos com 4 postulantes e um noviço, todos com Filosofia e outros cursos como Enfermagem, Arquitetura ou Teologia. Um inclusive, um é padre diocesano há 13 anos, e quer ser monge aqui.
Além da questão religiosa há também uma função administrativa da Abadia? Assim como na gestão de uma grande empresa, existe um orçamento sobre o qual o senhor é o responsável?
É o celeireiro quem cuida desta parte, sempre em unidade com o Superior e o seu Conselho. Os cheques têm que ter a assinatura de ambos. Nenhum monge pode ter nada de próprio, nem cartão, pix, conta bancária. Não temos salário. É gratificante ver a experiência de viver da Providência de Deus.
Não fazemos orçamento no sentido de planejar antecipadamente. As coisas vão acontecendo conforme a necessidade. Agora, por exemplo, sonhamos em conseguir um elevador que acesse cinco pavimentos, da garagem no subsolo a um terraço acima do andar dos quartos.
Qual é o tempo de seu mandato à frente da Abadia, e quais são os trabalhos que o senhor pretende realizar neste período?
Da outra vez que fui abade, o mandato era por seis anos. Com as mudanças das Construções da Congregação, agora pode ser até os 75 anos, sendo que a cada nove anos tem um referendo para ver se convém proceder a uma nova eleição. Assim, digamos, tenho ainda uns 17 anos como abade, se chegar lá… Os projetos são investir nas novas vocações, terminar as oficinas para que os monges tenham espaços adequados para seus trabalhos: fazer pães, licor, doces, sorvetes, restauração de imagens etc.
Contamos com as orações de todos e saibam que podem contar com a oração dos monges da abadia rio-pardense.
HISTÓRIA
A fundação do mosteiro em São José do Rio Pardo remonta ao ano de 1939, na ascensão da Segunda Guerra Mundial, quando na Europa as comunidades religiosas estavam sendo perseguidas e até dizimadas. Na Alemanha, para não ter o mesmo fim, a Comunidade da Abadia de Hardehausen se dispersou.
O Abade Dom Afonso Heun, sabedor do Instituto Beatíssima Virgem Maria, em São José do Rio Pardo, por carta, fez contato com a Madre Augusta Von der Kettenburg, superiora da instituição, se oferecendo para o ofício de Capelão. A proposta foi aceita e ele veio para o Brasil, chegando ao Porto de Santos em 15 de março de 1939. Já em 19 de março de 1939, chegou a São José do Rio Pardo.
Constam dos registros históricos que a população do município tinha, à época, cerca de 40 mil habitantes, residentes na área urbana e grandes propriedades rurais, movimentando uma intensa vida econômica focada na agricultura. Havia apenas 2 padres e a Paróquia São José.
Como Capelão, Dom Afonso auxiliou na Paróquia São José, atuando junto à comunidade para que houvesse a construção de um santuário dedicado a São Roque, dando sequência a um movimento de devoção, iniciado ainda nos anos de 1892.
A construção da igreja de São Roque, entregue à Comunidade Cisterciense com as obras inacabadas, ocorrera somente em 1942, marcando, entretanto a fixação dos Monges da Ordem Cisterciense na cidade. O que se consolidou ao longo do tempo, com a instalação do mosteiro, a partir de 1943, ainda sem prédio, mas já com atividades formativas.