Gazeta Do Rio Pardo

Conheça a história de Preciosa, rio-pardense centenária

Preciosa Rodrigues Corrêa Quilice completou 100 anos

Aos 100 anos de idade, ela ainda cozinha e tem uma memória excelente

Por Júlia Sartori

A expectativa de vida dos brasileiros tem melhorado ao longo dos anos. Em 2022, segundo dados do IBGE, os homens do país têm uma média de 72 anos. Para as mulheres, que na maioria dos casos possuem mais cuidado com a saúde, a expectativa de vida é em torno de 79,9 anos. Viver bastante, mas com saúde, é a meta de muitas pessoas. No entanto, a minoria ultrapassa os 85.

Em São José do Rio Pardo, encontramos uma senhora muito simpática, disposta e, me arrisco a dizer, jovial. Preciosa Rodrigues Corrêa Quilice, moradora do bairro Bonsucesso, completou 100 anos de vida na quinta-feira, 22 de setembro.

Querida por muitos, especialmente por sua enorme família, Preciosa tem muita história para contar. Nascida em 1922, é filha de Dozolina Maria Trivelato e Antônio Rodrigues Corrêa. É a quarta irmã de 16 filhos, por parte materna. O falecido pai, que foi casado duas vezes, somava 25 filhos. Ela é a única irmã viva.

Preciosa casou-se aos 54 anos com Santo Quilice e não teve filhos. No entanto, sempre teve um espírito maternal e cuidava de todos os seus sobrinhos e irmãos. Não é à toa que vive cercada de carinho e respeito, principalmente dos sobrinhos, a quem dedicou boa parte da vida.

“Cuidei da minha família, dos meus pais quando ficaram doentes e sempre olhei dos meus sobrinhos. Trabalhei bastante, mas sempre fiz tudo com amor, nada me cansou. Minha infância foi muito boa. Minha mãe tinha um filho a cada ano. Então, desde pequena, já ajudava a olhar meus outros irmãos. Quando eu tinha seis anos meu pai procurou uma escola para mim, mas não tinha na fazenda onde morava. Meu pai foi até a cidade, pediu ao prefeito na época, até que fizeram uma escola na Fazenda Limoeiro. Eu, com sete anos, comecei a ir à escola, mas com oito anos já não pude ir mais. Só que eu tinha inteligência. Com oito anos eu desenhava o mapa de São Paulo sem diagrama na lousa”, contou ela saudosa.

Preciosa conta que apesar de ter frequentado a escola por apenas um ano, adorava matemática, e teria investido na profissão se tivesse continuado com os estudos.

“Eu tinha uma vocação boa. Se eu tivesse estudado, seria matemática. Eu adorava. Minha mãe era uma pessoa muito inteligente, deu aula no quarto ano de uma escola, porque na época não tinha professora. Ela alfabetizou meus irmãos por parte de pai, ele se casou duas vezes. Mas eu e meus irmãos, por parte de mãe, ela não conseguiu alfabetizar porque todo ano tinha filhos. Ela teve 16 filhos”, revelou.

Dona Preciosa trabalhou na roça, foi costureira, fazia vestidos de noiva, e era chamada para fazer costura em cidades vizinhas, como Mococa e Ribeirão Preto. Para ela, trabalhar sempre foi uma dádiva. “Nunca tive preguiça de trabalhar, fazia qualquer coisa. E sempre trabalhei com muito amor”, destacou.

Depois que seus pais adoeceram, ela precisou parar com a costura para cuidar de ambos e da casa, o que incluía o cuidado com os irmãos.

“Recebi o nome de Preciosa em homenagem a uma irmã do meu pai que morava em Portugal. Ele teve uma irmã que viveu 105 anos”, conta.

Sobre completar 100 anos, ela afirma: “O tempo passou e não percebi. O povo que começou a lembrar que eu ia fazer 100 anos, mas eu nem estou me importando”, disse rindo.

Segundo ela, o segredo para chegar a essa idade com saúde e em um bom estado mental, é nunca ter preguiça e buscar sempre estar na ativa, trabalhando. “Eu sempre tinha serviço para passar o tempo. Depois que eu casei ainda fazia costuras, cuidava do meu marido. Viajava para algumas cidades. A primeira cidade que conheci na vida fora de São José, foi Guaxupé. Na época precisei fazer um óculos, e aqui não fazia, aí fui para lá de trem”, contou.

Mesmo com limitações em um dos joelhos, ainda faz doces e comanda a cozinha da casa. “Eu adoro fazer doces, mas como tenho dor no joelho faço sentada. Ainda amasso pão para minha sobrinha, adoro fazer essas coisas”.

Com o dinheiro conquistado pelo seu trabalho de costureira, chegou a comprar um terreno, mas decidiu vende-lo para ajudar um dos irmãos que estava passando por algumas dificuldades na época. “Sempre falo que quem pode ajudar as pessoas, deve fazer isso. Se você faz bem para uma criança hoje, mais tarde você é servido”, comentou.

“Graças a Deus não tenho queixas da minha vida. Só peço a Deus para não ficar doente. Mas graças a Ele minha cabeça ainda está boa”, encerrou grata.

Sobrinhos

Preciosa tem inúmeros sobrinhos e afirma não saber a quantidade exata, já que a família é muito grande. Fabiano Rodrigues Correa e Juliana Rodrigues Correa, sobrinhos presentes no dia da entrevista, deram seus depoimentos sobre a tia.

Da esquerda para a direita, Miguel Corrêa (sobrinho neto), Juliana Corrêa (sobrinha), Valentina Corrêa (sobrinha neta), Fabiano Rodrigues Corrêa (sobrinho), Preciosa, Mariza (cunhada), Juliana Rodrigues Corrêa (sobrinha), Marina Corrêa (sobrinha neta)

“É uma tia maravilhosa, com uma vida de dedicação e trabalho. Crescemos vindo durante as férias para São José do Rio Pardo. Já vimos ela fazendo de tudo aqui na casa: massa, pastéis, costura, bordado. Os sobrinhos são como filhos para ela, que sempre cuidou, ajudou. Aqui sempre foi uma casa de acolhida”, contou.

Juliana falou sobre o lado fraternal e participativo da tia. “Sempre vimos ela trabalhando dentro de casa e cuidando da família. Quando acordávamos aqui nas férias, sempre tinha um pão fresco, bolo, doces. É um exemplo para nós. É muito especial para todos os nossos primos”, destacou, observando que apesar da limitação por conta de problemas no joelho, dona Preciosa segue ativa, está sempre fazendo algo em casa e gosta de participar de tudo.