Gazeta Do Rio Pardo

Competições Paralímpicas retornam e atletas da cidade se preparam

Professor Sérgio Brás e Carlos Henrique Caveagna

Município oferece esportes paralímpicos em várias modalidades

Terminaram nesse domingo (5) os Jogos Paralímpicos de Tóquio. O Brasil fechou o evento na 7ª posição, com excelentes resultados na maioria dos esportes. Ao todo, foram 72 medalhas, sendo 22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze. Além de comemorar o destaque nas Paralimpíadas, com a chegada do novo mês, o Brasil promove a campanha ‘Setembro Verde’, dedicada à inclusão social de pessoas com deficiência. Para falar sobre os esportes paralímpicos, que trabalham diariamente a inclusão, o professor de educação física e técnico da equipe Arepid (Associação Rio-pardense Esportiva e Paradesportiva do Idoso e do Deficiente), Sérgio Henrique Brás e o atleta paralímpico Carlos Henrique Caveagna, o Kaíque, concederam uma entrevista na sexta-feira, para abordar o tema.

Não é superação, é dedicação

“A Paralimpíada é um fruto da inclusão. Acredito que esses bons resultados sejam exatamente graças a inclusão. Mas ao mesmo tempo fico um pouco preocupado com a visão que as pessoas têm do esporte paralímpico. Por exemplo, as pessoas relacionam deficientes com superação. Não é isso, eles estão lá porque fazem dias e dias de treino intenso. Quando vão avaliar um atleta olímpico falam que ele é forte, que treinou muito para isso, e quando falam de um paralímpico dizem que é superação. É treino, é ciência, dedicação, várias coisas envolvidas. Temos que olha-los de igual para igual. Os atletas da Paralimpíadas são profissionais, eles trabalham, são atletas. Eles podem sim ser inspiração, mas essa história de superação me incomoda um pouco”, disse Sérgio, explicando como a maioria das pessoas enxergam o esporte paralímpico.

Paralimpíadas

Carlos Henrique, conhecido como Kaique, 48, é um atleta de grande destaque, não apenas na região e no país, mas já venceu competições internacionais. Devido a sua experiência, ele comentou sobre as modalidades que tiveram melhor desempenho nas Paralimpíadas de Tóquio.

“O Brasil têm várias modalidades em destaque. O goalball, a natação que está fantástica e o atletismo, que está com um desempenho excelente. São vários, e acredito que esse desempenho estava previsto, eles tinham colocado no cronograma que o desempenho do Brasil seria melhor do que na Rio 2016”, revelou.

Kaíque foi questionado por não ter participado dos Jogos. “Para eu participar falta um pouquinho de desempenho meu, exclusivamente meu, mas vou trabalhar para isso, e daqui três anos conversaremos de novo”, disse sorrindo.  

Modalidades

“Dentro das pessoas com deficiência, algumas modalidades esportivas são paralímpicas. Mas o futsal, por exemplo, não é uma modalidade olímpica. Temos modalidades que os deficientes podem praticar, mas que não são paralímpicas. Hoje, são 22 que estão dentro do evento, e acabamos de incluir duas, o parabadminton e parataekwondo. Dentro das Paralimpíadas temos três tipos de deficiências – motora, intelectual e a visual. Ainda, dentro delas, temos as classes, assim como temos no judô, também temos essas classes funcionais nas Paralimpíadas”, explicou Sérgio.

Em cada um dos grupos, denominados classe, competem pessoas que possuem a mesma funcionalidade. O atleta Kaíque, por exemplo, é da F34, deficiência motora. Ele tem paralisia cerebral e compete com pessoas dentro de sua classe. Algumas modalidades, como goalball, é destinada apenas para pessoas com deficiência visual. “Temos outras que não têm deficiente visual, mas tem físico e intelectual. Isso tudo é uma distribuição por conta de regras e regimentos”, pontuou.

Adaptado x paralímpico

Kaíque explicou que esporte adaptado e paralímpico são coisas distintas. “Temos o vôlei adaptado para idosos, por exemplo. Ele não tem salto, é mais lento, o saque é de forma diferente. Já o vôlei paralímpico, que é sentado, tem o saque, mas a pessoa não pode levantar o glúteo do chão, tem várias regras. São diferentes. No adaptado, você faz uma adaptação para o idoso poder competir”, declarou.

Esporte no município

Durante a pandemia, assim como todos os setores, as atividades paralímpicas também ficaram suspensas. “Conversávamos com os atletas em alguns momentos, fazíamos algumas reuniões, mas nós ficamos parados. Esperamos para voltar quando todos tivessem tomado pelo menos a primeira dose da vacina, e nós retornamos agora com nossos treinamentos”, disse Sérgio.

“São 22 modalidades paralímpicas, gostaríamos de trabalhar com todas. Hoje temos a natação, com o professor Iury, e trabalhamos com o atletismo, que talvez seja a modalidade mais desenvolvida de toda a região, aqui em Rio Pardo. Agora estamos tendo Esporte Paralímpico Escolar. O Centro Paula Souza faz todo o processo de inclusão e nós temos uma deficiente visual total, que irá representar a cidade nos Jogos Escolares do Estado de SP”, disse o professor.

O profissional relembrou que recentemente, para capacitar os profissionais de educação física das escolas, foi trazido para o município o Paradens (Programa de Desenvolvimento Paralímpico), que está sendo desenvolvido no Estado. “Temos todo o apoio necessário para realizar esse trabalho. A Etec, o Dec e a Prefeitura estão sempre nos ajudando. Também temos os Jogos Universitários Paralímpicos, em que acompanharei os alunos da Unip. Além disso, temos esporte paralímpico no Dec, disponível para toda a população. Essa questão é muito importante aqui na cidade, e todo mundo pode praticar, mesmo dentro da escola, na universidade e no cotidiano”, informou.

O atletismo em São José é para deficiência motora, visual e intelectual.

“Estamos implementando o bocha agora, já vamos começar as aulas”, garantiu Sérgio.

Os esportes paralímpicos não tem custo algum, e qualquer pessoa pode procurar o Dec para praticar. “Hoje temos aproximadamente 20 atletas. Lembrando que não são todos os deficientes que conseguem se tornar atletas. Eles podem fazer atividade para melhorar a qualidade de vida, mas atletas são alguns. O Kaíque, é um atleta nato. Gosta de competir, de treinar”, disse o técnico. 

Rotina de treinos

Kaíque treina musculação de segunda a sexta-feira, e duas vezes por semana vai na pista de atletismo para treinar arremesso. “Faço de uma hora e meia, a duas horas de treino”, declarou.

“Temos uma competição no dia 27 de novembro em Sertãozinho, o Meeting de Atletismo, organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro, então já estamos fazendo uma contagem regressiva para essa competição. Vou fazer duas provas: disco e peso. Estou treinando com um peso de 7 kg que é um treinamento preparatório, não é o peso que vou arremessar lá. Vou fazer com o de 4 kg. A intenção é ficar mais forte e mais rápido, para quando chegar na competição, ter um melhor desempenho. Quero melhorar a marca de 2019, faz dois anos que não vamos para competições, então a intenção da equipe é ter o melhor desempenho, não importa se vamos vencer ou perder, mas queremos ter essa melhora no desempenho”, concluiu.