Gazeta Do Rio Pardo

Com quase 200 alunos, Cáritas tem lista de espera

Ao centro, Edna Biló, professora de Educação Especial do Cáritas na companhia de seus alunos

Metodologia de inclusão garante colocação de ex-alunos no mercado de trabalho

A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, é comemorada do dia 21 a 27 de agosto. A data foi instituída pela Lei nº 13.585/2.017, mas existe desde o ano de 1964, época em que era chamada de “Semana Nacional da Criança Excepcional”. A data tem o objetivo de desenvolver conteúdos para conscientizar a sociedade sobre as necessidades específicas de organização social e de políticas públicas para promover a inclusão social de pessoas com deficiência e para combater o preconceito e a discriminação. O termo “deficiência múltipla” tem sido utilizado para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social.

Desde 1983, crianças e jovens especiais de São José do Rio Pardo contam com o apoio e assistência da Escola de Educação Especial “Cáritas”, que trabalha para desenvolver as habilidades, autonomia e qualificar seus estudantes, para que sejam capazes de fazer parte do mercado de trabalho, e principalmente para que saibam que são parte da sociedade, e que possuem potencial para contribuir com ela. A professora de educação especial Edna Biló, membro do corpo docente do Cáritas, falou sobre o trabalho desenvolvido pela unidade, em entrevista à Rádio Difusora nesta semana.

Atualmente, o Cáritas atende 196 alunos da cidade e região. São portadores das mais diferentes deficiências como TEA (Transtorno do Espectro Autista), Paralisia Cerebral, Síndrome de Down, e crianças que possuem grande dificuldade na aprendizagem pedagógica.

“Para ser inserido na escola de Educação Especial, quando as crianças são menores de quatro anos, devem apresentar um laudo médico que os pais geralmente já procuram. Além disso, eles passam por uma avaliação com a equipe multidisciplinar do Cáritas. Quanto a crianças maiores, às vezes a rede municipal nos envia esses estudantes, junto com um relatório da escola e um laudo médico. Todos eles passam por uma avaliação diagnóstica com nossa equipe”, explica a professora, que é responsável pelo desenvolvimento da área socioeducacional.

A procura pelo Cáritas tem sido alta, tanto por famílias rio-pardenses quanto de outras cidades da região. Segundo Edna, a escola precisou organizar uma lista de espera.

Atividades e profissionais  

Alunos aprendem a desenvolver artesanatos para comercializar. (Na imagem, Camila e Lucas)

A escola oferece Educação Infantil e o Ensino Fundamental com professores especializados. “Os profissionais são todos capacitados e habilitados para trabalhar com Educação Especial. A escola possui uma estrutura física adaptada. Trabalhamos com atividades estruturadas, que o professor monta individualmente para cada aluno, de acordo com a necessidade de cada um. Temos o PEI (Plano de Ensino Individual), a partir desse plano, as atividades são direcionadas aos alunos”, explicou a professora.

“Temos também as atividades manuais, que são confecções de tapetes, artesanatos, trabalhamos com reciclagem para sensibilizar a importância do cuidado com o meio ambiente. No socioeducacional, ministro aulas de trabalhos manuais para os alunos que não conseguiram aprender a leitura ou escrita. Eles produzem artesanatos, pinturas. Para eles, que não conseguiram a alfabetização, é algo muito importante, porque pode ser um trabalho que eles fazem no dia a dia para comercializar. Já temos vários alunos que fazem isso, que aprenderam a fazer pano de prato, por exemplo, e fazem isso em casa para vender”, contou Edna.

O Cáritas possui uma equipe técnica especializada para atender as necessidades de todos os alunos. Psicóloga, Terapeuta Ocupacional, Fisioterapeuta, Fonoaudióloga e Assistente Social são profissionais que atuam na unidade.

As atividades fornecidas são: equoterapia, hidroterapia, biblioteca,  cuidados com horta, música, informática, Educação Física, recreação, natação, excursões culturais, iniciação profissional e reciclagem.

Pandemia

“Mesmo durante a pandemia, todos os alunos foram atendidos pela nossa escola. Nesse caso, cada professor elaborou um kit pedagógico com atividades para determinados períodos. Uma vez por mês ou a cada 15 dias, elaborávamos os planos e confeccionávamos as atividades, cada professor dentro de sua área e de acordo com as habilidades de cada aluno. Nós gravávamos as aulas e depois enviávamos via WhatsApp o passo a passo da confecção da atividade. Todos eles receberam e a maioria concluiu as atividades”, contou a professora.

No início do retorno presencial, as aulas no Cáritas retornaram com 30% dos alunos em sala. Mas segundo Edna, a escola não chegou a ter 30%, devido a insegurança com relação a pandemia por parte de alguns pais. “Aos poucos esses 30% foram retornando, e agora estamos atendendo com 50% da capacidade. Dividimos entre grupo A e B, cada semana vai um. Ainda estamos trabalhando com o ensino híbrido”, destacou.

Edna explicou que assim como os professores, a equipe técnica também trabalhou com os alunos de forma remota, gravando material e vídeos motivacionais. “Cada semana um profissional da equipe multidisciplinar elaborava os materiais que chegavam até os pais e alunos. Eles não ficaram sem atendimento. Nossa assistente social, seguindo todas as restrições, também acompanhava os casos mais necessários e fazia a entrega dos kits para alunos que não tinham condições de ir buscar na escola”, revelou.

Prejuízo

A professora foi questionada sobre como a pandemia afetou a aprendizagem dos alunos, durante o período em que as aulas foram apenas remotas. “Acreditamos que houve um prejuízo na educação especial por conta da pandemia. Fazemos um trabalho com a dificuldade que os alunos apresentam, e é uma conquista diminuta, é devagar para conseguirmos a evolução deles. De repente, com a pandemia tudo parou de uma vez, ficamos um ano e meio sem aulas presenciais. Na área nutricional, teremos que rever todos os alunos por conta da obesidade, e a maioria ficou sedentária nesse período. Eles perderam a rotina do dia a dia. Teremos que fazer um trabalho com os alunos para que eles voltem ao máximo. Para a aprendizagem com certeza é uma perda. Mas como educadora eu acredito que conseguiremos sim repor, refazer e reestruturar todo nosso setor de educação”, disse Edna.

Autonomia

A professora observa que todas as atividades oferecidas no Cáritas, têm como principal objetivo ensinar as crianças a terem autonomia. “Nosso maior desafio é fazer com que nossos alunos se desenvolvam plenamente, principalmente em suas atividades diárias e práticas. Eles precisam adquirir habilidades de autocuidado, como o banho, higiene em geral, alimentação, precisam aprender a se vestir. Queremos dar autonomia e independência eles”, explicou.

Mercado de trabalho  

Segundo os últimos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), no ano de 2018, havia cerca de 486 mil pessoas com deficiência com empregos formais, correspondendo a cerca de 1% das ocupações no mercado formal, um número baixo. Mas em São José do Rio Pardo, segundo Edna, os alunos do Cáritas possuem oportunidades para inserção no mercado de trabalho.

“Trabalhamos para que eles evoluam em todos os sentidos da aprendizagem e que sejam inseridos no mercado de trabalho. Nosso maior sonho é que eles se desenvolvam plenamente”, destacou.

“Temos um grande número de ex-alunos que estão trabalhando. O Supermercado Fonseca, por exemplo, é um aliado da nossa escola, sempre recebe alunos nossos. Eles fazem o setor que trabalho, que é o socioeducacional, aqueles que não conseguiram ter uma aprendizagem total do pedagógico. Mas eles adquiriram habilidades, conhecem o dinheiro e o valor da moeda, sabem se comunicar bem, tem um comportamento adequado para estarem inseridos na sociedade”, contou.