Prevalente em adolescentes e mulheres jovens, o transtorno alimentar afeta quase 5% dos brasileiros
Por Júlia Sartori
Nas últimas décadas, em que as redes sociais estão disponíveis e são acessadas todos os dias por pessoas de todos os lugares do mundo, padrões estéticos exaltados pela mídia e a cultura da magreza têm prevalecido. Milhares de pessoas sofrem com a auto cobrança todos os dias, tentando muitas vezes atingir o inatingível, em busca de um corpo “perfeito”, o que aliás, é inexistente.
Filtros, cirurgias plásticas e programas como Photoshop dão a falsa sensação de perfeição. Mas por trás de todos esses fatores, são apenas seres humanos tentando convencer um ao outro de que corpos perfeitos existem e podem ser alcançados. A ânsia de querer atingir padrões, tem deteriorado cada vez mais a saúde mental das pessoas.
A depressão e ansiedade são dois dos transtornos mentais que podem ser desencadeados pelo excesso de auto cobrança (claro que existem outros fatores). No entanto, existem outros riscos: os transtornos alimentares – conjunto de doenças psiquiátricas de origem genética, hereditária, psicológicas e/ou sociais, caracterizados por perturbação persistente na alimentação, como a bulimia e a anorexia, por exemplo.
A anorexia é conhecida superficialmente por muitas pessoas, e bastante divulgada na mídia em geral. O foco desta matéria, é falar sobre a bulimia. Para explicar sobre essa doença, o jornal entrevistou a psicóloga clínica Alessandra Torres, que explicou algumas características deste transtorno alimentar e explicou a diferença entre ele e a anorexia.
Afinal, o que é bulimia? Qual a diferença entre essa doença e a anorexia?
Alessandra: A bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado pelo consumo rápido e repetido de grandes quantidades de alimentos (episódios de compulsão alimentar) seguido por tentativas de eliminação do excesso de alimentos consumido, como por exemplo vômitos, jejum e exercícios físicos exagerados, além de laxantes.
Diferentemente da anorexia, na bulimia nervosa o paciente não fica desnutrido ou excessivamente magro, o que pode tornar difícil para seus amigos e familiares notarem esse transtorno. Nessa condição, o emagrecimento não é tão aparente e os episódios de eliminação daquilo que foi consumido costumam ser encarados em segredo.
A organização Mundial da Saúde (OMS) indica que esse transtorno atinge 4,7% da população brasileira, sendo que os transtornos alimentares podem afetar qualquer pessoa, mas adolescentes e mulheres jovens estão mais predispostos a desenvolvê-las.
Quais fatores psicológicos podem desencadear a bulimia?
Alessandra: Os motivos para o desenvolvimento de bulimia nervosa diferem de pessoa para pessoa. As causas conhecidas incluem predisposição genética e uma combinação de fatores ambientais, sociais e culturais.
Em tempos de rede social, cultura da magreza e modismo de dieta, muitas pessoas ficam mais vulneráveis a desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. O estresse emocional muitas vezes desencadeia os episódios de compulsão alimentar, que geralmente são praticados em segredo. Evidências demonstram que a mídia estimula distúrbios da imagem corporal, favorecidos constantemente pela crescente exposição de artistas, atrizes, apresentadores e modelos magros que fazem e ensinam dietas e métodos de emagrecimento que acabam dando uma sensação de que um padrão físico magro constitui beleza e traz consequentemente sucesso, aceitação, autoestima, felicidade e saúde.
Quais os sintomas desse problema?
Alessandra: A pessoa com bulimia nervosa tem episódios repetidos de compulsão alimentar, ou seja, ela ingere uma quantidade de alimentos muito maior que a maioria das pessoas consumiria em um período semelhante e em circunstâncias semelhantes. A compulsão alimentar, que é acompanhada de uma sensação de perda de controle, normalmente consiste em comer sem ter fome e comer a ponto de ter desconforto físico, na maior parte das vezes, às escondidas. Depois, são tomadas por sentimentos de remorso ou culpa e usam esses métodos para se livrar dos excessos :
• Praticar a purgação (induzir vômito, tomar laxantes)
• Seguir regimes ou jejuns rigorosos
• Praticar exercícios em excesso
• Algumas pessoas também tomam diuréticos para tratar um suposto inchaço.
Ao contrário da anorexia nervosa, o peso corporal das pessoas com bulimia nervosa tende a variar em torno do normal. Apenas algumas pessoas têm sobrepeso ou são obesas.
Quais os tratamentos para essa doença? Como é feito o tratamento psicológico?
Alessandra: Como não existe uma causa específica para o surgimento de um quadro de transtorno alimentar, o problema geralmente surge por meio de uma combinação de fatores de risco. Por esse motivo, o tratamento precisa ser individualizado e multiprofissional, necessitando no mínimo o tratamento com médico psiquiatra, psicólogo e nutricionista.
O tratamento psicológico consiste em terapia individual, familiar, “psicoreeducação” alimentar e tratamento de questões emocionais desse indivíduo.
Descobri que uma pessoa próxima a mim tem esse problema, o que devo fazer?
Alessandra: Quando uma pessoa é descoberta com bulimia o sentimento geralmente é de vergonha, culpa e negação. O importante é acolher, ouvir e não julgar esse comportamento. Isso ajuda muito a criar um vínculo e um laço de confiança que poderá permitir, orientar e ajudar essa pessoa que sofre com o transtorno a procurar ajuda.
Quais as consequências da bulimia na vida das pessoas?
Alessandra: As consequências são psicológicas, sociais e físicas:
• A pessoa com bulimia nervosa tende a sentir muito remorso ou culpa pelo seu comportamento;
• Isolamento social em períodos mais críticos;
• Tentativas de suicídio;
A pessoa com bulimia nervosa também pode ter cicatrizes nas articulações dos dedos, além disso, pode apresentar outros sintomas, em decorrência dos episódios onde se esforçou para perder peso. É o caso de sinais como:
• Dentes em mau estado;
• Dentes que perdem o esmalte;
• Boca seca;
• Mau hálito;
• Arritmia cardíaca;
• Inflamação na garganta;
• Desidratação de tanto auto induzir o vômito.
A Bulimia tem cura?
Alessandra: A bulimia é uma doença séria no âmbito da saúde mental, mas se tratada, a boa notícia é que tem cura sim! Tudo depende do acompanhamento com um especialista que o ajude a vencer esse desafio e da aceitação do paciente. Não há uma regra para o tratamento, afinal, as causas da bulimia nervosa têm origem diferente, que varia de pessoa para pessoa.