Gazeta Do Rio Pardo

Aos 84 anos, Carmen Maschietto lembra as conquistas e os desafios no magistério

Professora Carmen Maschietto participou do “ Jornal do Meio Dia” para falar da profissão

“O estudo enriquece a pessoa, deixa mais consciente, mais crítica, conhecedora do que é a vida”, disse a professora

Dia 15 de outubro foi comemorado o Dia do Professor, um dos profissionais mais importantes da sociedade.  Para celebrar a data, a rádio Difusora convidou a professora e ex-diretora da Feuc e Unip, Carmen Maschietto, para uma entrevista ao “Jornal do Meio Dia”. Hoje com 84 anos, ela é formada pela FEUC (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras) em Pedagogia e História, fez mestrado em Memória Social pela Universidade do Rio de Janeiro (Unirio), é especialista em História Econômica Geral pela FAFIG e em História Econômica pela Unesp, em curso promovido na Feuc. Trabalhou durante 25 anos na Feuc como docente, foi coordenadora do curso de História e diretora da faculdade na década de 90. Foi ainda diretora da Unip de São José por 17 anos. Tem no total, 42 anos de trabalho no ensino superior.

Carmen lecionou 25 anos no ensino público municipal na disciplina de história, não apenas em São José do Rio Pardo, mas também em escolas da região.Ela contou sobre sua experiência como docente, falou de suas conquistas e comparou o cenário atual da profissão com o antigo.

“Eu sempre gostei e me imaginei como professora. Na minha geração, a maioria das mulheres se formavam para essa profissão. Fiz o grupo escolar Cândido Rodrigues, e o ginásio e colégio na escola Euclides da Cunha. Quando terminei, meu caminho era ser professora, comecei a dar aula nas escolinhas de zona rural. Depois fiz o curso para professor 1, que é para lecionar em ensino fundamental, e na década de 70 fiz concurso para dar aula de história em várias escolas da rede pública de ensino. Essa era a minha vocação e continua sendo mesmo depois de aposentada. Eu continuo fazendo cursos, escrevo bastante, tenho uma identidade muito grande com a área de humanas, não apenas de história que é minha base, mas gosto muito de filosofia, sociologia e antropologia”, comentou. “Acho que aprendi muito nesses anos, mais até do que ensinei”.

Nunca é tarde para estudar

Carmen aconselhou pessoas que pararam de estudar por algum motivo: “Nunca é tarde para estudar, devemos sempre recomeçar. Primeiro para nos prepararmos para a vida, porque o estudo abre caminhos, oportunidades. Qualquer estudante que tenha parado tem condições de recomeçar, tudo o que ele cursou está valendo, ele não perde”.

“Tenho 84 anos, fui fazer mestrado no Rio de Janeiro com 64, porque eu achava que era um direito que eu tinha. Um sonho que eu queria realizar. Eu estava quase no fim do meu período na faculdade de filosofia. Faltava um ano apenas para eu me aposentar, foi no ano de 2000, eu me candidatei a essa vaga de mestrado e enfrentei o curso. Nunca é tarde para estudar, e hoje as gerações vão viver muito mais, acima dos 100 anos. É hora de recomeçar ou começar. O estudo enriquece a pessoa, deixa mais consciente, mais crítica, conhecedora do que é a vida”, destacou.

“Agora temos o recurso do ensino à distância que é muito bom, tão bom quanto o presencial. Principalmente para as pessoas que trabalham e não têm condições de conciliar trabalho com horário de aula em um ensino presencial”, deixou a dica.

Papel do professor

Para Carmen, o professor significa tudo para a sociedade. “A base é a família, escola e religião, no meu modo de ver. A educação é a base da sociedade. Uma pessoa que tem essas três coisas encontra seu lugar na vida”, disse.

Profissão já foi mais valorizada

“Antigamente os professores eram muito bem reconhecidos na sociedade. Eles tinham um reconhecimento altíssimo. Temos casos de pessoas no passado que entre a carreira de professor e de magistrado, preferiu a de professor. Financeiramente era equivalente e socialmente era bem reconhecida. Isso foi decaindo com o tempo, eu ainda peguei uma fase boa, porque me aposentei na rede de ensino no começo dos anos 90. Então na minha época os professores eram mais valorizados. Hoje, apesar de eu estar fora do magistério, ouço muitas reclamações de colegas que estão nas salas de aula. Enfrentam dificuldades, baixa remuneração, está sendo feito um ato criminoso com os professores”, contou.

“Eles precisam sim ser bem remunerados, porque devem estar em constante renovação. Os professores precisam fazer novos cursos, se atualizar, e para dar conta disso às vezes precisam ter dois, três empregos. Isso é desumano. Eu acho que eles têm o reconhecimento das famílias e sociedade, mas não como antigamente, mas acredito que eles vão se recuperar, é uma classe unida, estão lutando para isso, e tenho certeza que vão conseguir”, disse Carmem.

Qualidade do ensino

“Como em todas as profissões, houve sim uma queda na qualidade do ensino, mas isso é geral. Apesar disso tenho sentido que existem esforços para que essa qualidade melhore. Sou muito positiva, tenho um pensamento de harmonizar as coisas”, comentou.

Pandemia

“De certo modo os alunos acabaram sendo prejudicados, embora eu tenha observado que os professores têm se esforçado para dar o conteúdo online. As famílias têm sentido dificuldade de acompanhar os filhos à distância. Algumas coisas ficarão em falta, no próximo ano isso terá que ser repensado. Se for tudo bem planejado e bem pensado para 2021, pode ser que unir a grade de 2020 com 2021 dê certo. Tem muitos especialistas trabalhando nisso”, disse a professora sobre a nova grade curricular.  

Vocação

“Ser professor é uma vocação. Quem vai para o magistério é quem tem essa vocação, gosta de ser professor e se realiza com a profissão. Eu me realizei, tive o privilégio de trabalhar em São José, nasci aqui, vivi aqui, tive muitas oportunidades e me realizei, me senti feliz como professora. A maioria que permanece no magistério é porque realmente gosta. Quando é feito com amor traz muita alegria, satisfação e felicidade, comigo foi assim”, encerrou a entrevista.