Gazeta Do Rio Pardo

Alunas relatam como são os desafios das aulas virtuais

Flora, 16 anos, aluna do 2º ano do ensino médio, do colégio Santa Inês

“A maioria dos alunos não tem em casa um ambiente adequado e propício para estudos”, diz Maria Clara

O ano letivo para as escolas estaduais retornou no dia 27 de abril, para os 3,5 milhões de alunos da rede. Após o início da pandemia, o governo do estado de São Paulo suspendeu as aulas presenciais, no dia 23 de março, e antecipou o período de férias e recesso escolar. As aulas voltaram, no entanto, estão sendo ministradas por plataforma virtual. Estão sendo feitas em ensino remoto por meio dos aplicativos Centro de Mídias SP e dos canais digitais 2.2 – TV Univesp e 2.3 – TV Educação.

Ao contrário da maioria das escolas estaduais, as ETEC´s retornaram as aulas no dia 22 de abril, utilizando a plataforma online Microsoft Teams.

Maria Clara Santos Manetta, 14 anos, estudante do 1º ano do ensino médio da Etec Rodolpho José Del Guerra contou ao jornal sobre como está sendo sua experiência com as aulas em plataforma digital.

Maria Clara, 14 anos, estudante do 1º ano do ensino médio da Etec

“Por ser algo ainda novo, tenho muitos pontos positivos e negativos para analisar e colocar na balança, mas a experiência que tenho tido até agora tem sido, no mínimo, interessante. Percebi que os meus colegas de sala estão bem mais unidos para ajudarem uns aos outros na compreensão do que nos é exigido diariamente (seja em conteúdos, tarefas ou utilização da ferramenta), levando em conta que o ambiente virtual tem deixado bastante gente confusa. O número de afazeres também aumentou significativamente, mas acredito que seja algo necessário em meio a situação na qual estamos”, relatou.

Rendimento

“Por ser uma ferramenta nova e nem todos terem acesso ou conhecimento total de suas funcionalidades, o rendimento e a compreensão acabam sendo afetados sim. Além disso, a maioria dos alunos não tem em casa um ambiente adequado e propício para estudos, estando sujeitos a interrupções e distrações por diversos fatores, logo, o entendimento geral sobre a matéria dada no momento pode ser facilmente prejudicado”, explicou.

Aulas presenciais e interação social

“A escola acaba promovendo um espaço voltado especificamente para o aprendizado, as vezes, já possuindo ferramentas e as adequações necessárias para a transmissão de conhecimento em uma maneira efetiva e funcional, além de permitir maiores interações com fins didáticos dentro da própria classe. Ainda dentro do tópico interações, a maior parte da nossa socialização nessa fase da vida é realizada dentro do ambiente escolar, onde convivemos com outros seres humanos de verdade, encontramos pessoas com visões parecidas e totalmente opostas da nossa e aprendemos a lidar com isso, nesse sentido, a escola permanece como um importante fator dentro da construção de cada um. Outro fator que levo em consideração quando falamos em aulas presenciais é a possibilidade de fiscalização no momento em que as avaliações estão sendo realizadas, impedindo troca de informações e colas, além de ser o ambiente que todos já conhecem e sabem usufruir da maneira que melhor lhe convém”, comentou Maria.

Aulas online

“Um ponto muito positivo para as aulas online é a possibilidade de grava-las. Essa ferramenta é ótima, pois permite que qualquer aluno tenha acesso as vídeo-chamadas, mesmo que não tenha conseguido estar presente no momento em que foram realizadas ou precise  escutar a explicação do que foi ensinado posteriormente. A possibilidade de atribuir tarefas dentro da própria plataforma utilizada pela escola que frequento, na minha visão, trouxe uma certa evolução na maneira em que são realizadas e entregues as lições e trabalhos. Num futuro onde as aulas presenciais estarão de volta, acho interessante que algumas das ferramentas do aplicativo, como a última explicitada, continuem em uso, pois nos traz algumas facilidades”.

Dificuldades

“Minhas maiores dificuldades perante as aulas online estão sendo o ambiente inadequado para estudos e a internet não ter uma conexão muito estável onde moro. A falta de conhecimento a respeito do aplicativo usado para as vídeo-chamadas e das suas ferramentas também foi um problema no começo, mas acabei adaptando-me bem com o uso. No meu ponto de vista, o principal caminho para se adaptar bem a esse novo método é construir dentro de si a responsabilidade. Correr atrás para entender as matérias, mesmo que os professores não tenham conseguido explicar direito dentro da ferramenta disponível, entregar as tarefas em dia e construir um ambiente adequado para estudar, tentando manter uma rotina que não se afaste muito da antiga dentro das limitações que o momento nos impõe”, completou.

Edna Cristina Santos, dona de casa e mãe de Maria, falou sobre o novo método de ensino imposto devido a pandemia.

“Acho sim que a minha filha conseguiu se adaptar com as aulas online, pelo fato de que ela nasceu com a internet, com a tecnologia atual nas mãos. Ela é dessa geração. Ela tem todas as ferramentas nas mãos, celular, computador, internet. Então a adaptação foi fácil. O ponto negativo das aulas virtuais, é que na idade que eles estão, precisam se firmar socialmente, com grupos de amigos, para que eles cresçam adultos responsáveis e comecem a determinar suas carreiras. Quanto a pontos positivos, não vi nenhum, porque acho que perdem bastante conteúdo, as aulas presenciais são muito mais didáticas. Eles conseguem emitir opiniões, ouvir a dos colegas, tem o professor ali do lado para tirar qualquer dúvida. Ela sente falta de ir à escola. É uma adolescente e precisa estar em contato com outras pessoas, por isso acho que sente muita falta dos colegas, de conversar com os professores, ela gosta de ter novidades para estudar. Isso faz com que ela sinta saudade das aulas presenciais”, comentou Edna.

‘Nada substituirá a sala de aula, o contato do aluno com os professores’, diz mãe

No colégio Santa Inês, as aulas virtuais começaram no dia 23 de março. Os alunos entraram de férias no dia 27 de abril e retornaram para as aulas online no dia 12 de maio. O aplicativo utilizado para as aulas é o Zoom e o P+ , sistema do Poliedro.

Flora Ferreira Amaral Resende, 16 anos, aluna do colégio, está no 2°ano do ensino médio e também contou sua experiência com o novo sistema de aulas.

“Não está sendo muito fácil. Por mais que eu esteja acostumada com tecnologia, é muito diferente usar pra ter aulas. Pra mim é muito mais difícil me concentrar nas aulas online, fico distraída muito facilmente. E eu sempre tive um pouco de dificuldade com estudar em casa, mesmo quando as aulas eram presenciais. O que mais funcionava pra mim era prestar atenção nas aulas, pra depois conseguir só fazer as tarefas, mas agora é uma necessidade estudar mais pra poder entender tudo, especialmente porque alguns professores enviam a matéria pra gente estudar e durante as aulas eles só tiram dúvidas, então as vezes eu fico meio perdida. Mas é bom por um lado, porque muitas aulas ficam gravadas e eu posso ver de novo depois se tiver dúvida, mas, pelo menos pra mim, tem sido difícil acompanhar todas as matérias. Eu sempre considerei a escola uma coisa importante, mas ainda assim reclamava muito das aulas presenciais por ser cansativo. Agora que tive a experiência de só ter aulas online, acho que minha perspectiva sobre as presenciais mudou muito. Percebi o quão importante é poder estar no mesmo ambiente que os seus colegas e professores, e a forma que é mais fácil prestar atenção em sala de aula”, declarou.

“Acho que enquanto você tenta estudar, seja sozinho ou durante as aulas, o ideal é afastar o máximo de coisas que possam te distrair pra que você possa focar no que está fazendo. E também é muito importante cuidar da saúde mental, relaxar às vezes, porque se não a gente fica muito sobrecarregado e não consegue fazer nada”, encerrou.

Valéria Ferreira, mãe de Flora, é professora no Colégio Santa Inês.

“Como a maioria dos adolescentes, Flora sempre esteve ligada às tecnologias, sabe usar os aplicativos, baixar programas, editar, muito melhor que nós, pais, então nessa parte ela não teve nenhuma dificuldade, mas quanto ao aprendizado em si, à nova rotina de ficar em casa o tempo todo, tendo aulas por vídeo conferências, assistindo vídeo-aulas, fazendo trabalhos e pesquisas o tempo todo sozinha, isso sim foi mais difícil pra ela se adaptar. Veja, além de mãe, sou também professora, e penso que se não fossem as tecnologias de comunicação, se não tivéssemos essa possibilidade de estarmos nos comunicando por via remota, certamente tudo seria bem mais difícil, a solidão seria maior, e os alunos com certeza perderiam o semestre. Além disso, tenho visto que as aulas virtuais estão sendo positivas no sentido de fazer com que os alunos tenham mais autonomia, busquem mais respostas, pesquisem mais, e percebam que as tecnologias de informação possuem inúmeros recursos ao alcance deles, que não se resumem a jogos, vídeos e rede sociais”, destacou.

“Por outro lado, nada, nunca, vai substituir a sala de aula, o contato ao vivo do aluno com os professores, a interação com estes e com os colegas, o trabalho em grupo, o ‘olho no olho’, isso jamais será substituído por nenhuma tecnologia, principalmente para as crianças e adolescentes, que aprendem, na escola, muito além de conteúdos, aprendem a conviver, a lidar com os desafios da vida em sociedade, e isso jamais será substituído”, disse Valéria.