Gazeta Do Rio Pardo

A história de um projeto que transforma vidas

Turmas são divididas por idade

Por Júlia Sartori

Há três anos, dois voluntários dedicam tempo e empenho inserindo jovens no esporte

Não é novidade que nos últimos anos, a situação econômica do país tem enfrentado momentos difíceis, fato que se agravou ainda mais com a chegada da pandemia. Ao contrário do que muitos pensam, São José do Rio Pardo possui muitas famílias em situações precárias, que enfrentam diariamente dificuldades econômicas, muitas vezes sem ter alimento para colocar no prato. Mesmo com todos os problemas complexos enfrentados pela sociedade, há uma luz no fim do túnel. Pessoas dispostas a fazer o bem e a melhorar a vida do outro, estão mais próximas do que pode-se imaginar. É o caso de Ernando César Nicola, bombeiro em São José do Rio Pardo há 11 anos, e de Marcos Piovesan, funcionário de uma multinacional do município.

Ernando e Marcos são faixa preta em jiu-jitsu, e através do amor pelo esporte, decidiram unir forças e formar uma parceria, que fez nascer o “Projeto Transformando Vidas”, dedicado a oferecer aulas gratuitas de jiu-jitsu a crianças e adolescentes de famílias de baixa renda.

Faixa preta em jiu-jitsu, arte marcial que já pratica há 18 anos, Ernando contou ao jornal sobre a iniciativa da criação do projeto, que completa três anos e atende atualmente 40 pessoas, entre crianças e adolescentes.

“Sempre tive o sonho de usar o jiu-jitsu para transformar a vida das pessoas. Conheci o Marcos, que veio treinar comigo e tinha um vasto conhecimento em projeto social, porque ele já trabalhou bastante na área. Ele viu que tínhamos esse interesse em comum e propôs de fazermos uma sociedade para ajudar as pessoas através do jiu-jitsu”, contou.


Ernando Cesar Nicola e Marcos Piovesan se dedicam ao projeto há três anos

Marcos também comentou sobre o início da parceria.  “Eu já tinha um projeto social. Mas surgiu a oportunidade de me juntar ao Ernando para montarmos uma sede para ministrar aulas, já que antes não tínhamos isso, e dependíamos de espaços públicos. Com nossa parceria, conseguimos alugar esse espaço na Avenida dos Lírios”, completou.

Ensinando por amor

 “Vivemos em um mundo muito difícil. Sou cristão e tenho vontade de ajudar pessoas, devido aos meus princípios. Vimos uma oportunidade no jiu-jitsu, de tirarmos essas crianças da rua, traze-las aqui, ensinar a elas o que é hierarquia, o que é disciplina, respeito. Aqui cobramos não apenas que sejam campeões dentro do tatame, o que graças a Deus eles tem mostrado bons frutos nos campeonatos que temos participado, mas queremos que eles sejam campeões para a vida. Queremos que eles se tornem pessoas do bem, que consigam passar por cima das adversidades, que possam se desviar do caminho do mal e que consigam ser alguém na vida. Nosso objetivo é transformar a vida dessas crianças e jovens, e afasta-los do mundo do crime, das drogas e de tudo o que for ruim que o mundo oferece”, declarou Ernando.

Arrecadação

Segundo os idealizadores, o projeto enfrenta certa dificuldade por não receber fundos ou ajuda fixa. Alguns amigos e pessoas do comércio colaboram com pequenas doações, mas não há um valor estabelecido ou garantido para manter o projeto.

Com a frequente procura de alguns pais interessados que seus filhos tivessem aulas com Marcos e Ernando, surgiu uma ideia para ajudar na arrecadação de dinheiro para cobrir alguns gastos do Transformando Vidas.

“Alguns pais de crianças pequenas começaram a nos procurar, porque queriam que déssemos aulas para seus filhos menores. Nesses casos, as famílias que percebemos que não tem condições, não cobramos valor algum. Mas como alguns dos pais das crianças pequenas tem condições de pagar, propusemos a eles de montar a turma dos menores, e eles nos ajudariam com um valor que é utilizado para o projeto. Isso têm dado certo, o que tem nos ajudado a pagar o aluguel, é essa turminha dos pequenos. Esses pais confiam na seriedade do nosso trabalho e resolveram ajudar com uma mensalidade”, explicou Ernando.

O projeto social é dedicado para crianças e adolescentes que realmente não possuem condições financeiras. Os professores avaliam os alunos em alguns aspectos para poderem participar das aulas. “Avaliamos a saúde da criança, a disponibilidade também, para ver se o projeto não vai atrapalha-la em outra área. Conversamos com os pais para saber mais sobre o aluno. Se vier uma criança com alguma deficiência física, vai poder participar do mesmo jeito, porque temos aulas adaptadas para crianças com deficiência se for necessário”, completou.

Marcos e Ernando já precisaram tirar dinheiro de suas rendas pessoais para pagar o aluguel por falta de patrocínio. “Ás vezes passamos apertado mas corremos atrás, fazemos rifa para arrecadar dinheiro. Acho até que isso é uma forma das crianças reconhecerem o nosso trabalho, fazemos a rifa e damos para elas venderem, e revertemos o dinheiro para pagar o aluguel do local. Se realmente tiver pessoas interessadas em nos ajudar da forma que for, será muito gratificante. Podem nos procurar, conversar conosco, ou até mesmo com o dono do prédio para ter certeza de como funciona. O nosso interesse é o aluguel estar pago, porque nosso tempo e disponibilidade, fornecemos de coração”, disse Ernando.

Rotina

Para conseguir ministrar as aulas, já que ambos possuem seus empregos e compromissos, Marcos e Ernando revezam os dias de treino.

Alunos durante uma demonstração das aulas

“Fazemos isso de coração, e infelizmente não temos tempo hábil para dar aula o dia inteiro. Adaptamos uma turma para fazer aulas toda noite e também temos a turma da manhã, mas como as escolas mudaram o horário, muitos passaram para o horário noturno”, destacou Ernando.

O projeto funciona de segunda a quinta-feira. De segunda e quarta-feira, as aulas são ministradas para crianças mais velhas, e de terça e quinta, para os menores, para não correrem risco de se machucar pela diferença de idade e tamanho.

Motivação

Para Ernando, o que o motiva a trabalhar é ver o reconhecimento de seus alunos. “Hoje temos atletas muito bons, e até nos surpreende pela idade deles e pelo pouco tempo que possuem de treino”.

Marcos falou sobre a importância do projeto na vida das crianças e também sobre sua satisfação pessoal em poder contribuir com isso. “Quando colaboramos com a formação da criança, estamos colaborando tanto com ela, quanto com os pais, o que é muito legal, porque recebemos o retorno deles. Eles percebem que a criança muda muito. Ás vezes os pais reclamam que ela está com um comportamento problemático, que eles não estão conseguindo ter o controle, e quando entram aqui, mudam, acabam melhorando o comportamento. Isso pra nós é muito gratificante. Financeiramente não ganhamos nada para vir e dar as aulas, mas fazemos isso de coração. Raramente ficamos sem dar uma aula. Ver a formação do aluno não apenas dentro do tatame, mas como um cidadão de bem, é muito importante para nós”.

Endereço

O Projeto Transformando Vidas fica localizado na Avenida dos Lírios, n° 240, na Vila Maschietto (Em cima da Elétrica Independência).

Os interessados em conhecer mais sobre o programa, ou colaborar com qualquer tipo de ajuda, podem entrar em contato pelo telefone (19) 99422-3219 (Ernando) ou (19) 98977-3150 (Marcos).

Além do pagamento do aluguel, toda renda do projeto é revertida em cesta básica, e material escolar para os alunos que necessitam.

O Transformando Vidas atende crianças e adolescentes com idades de 10 a 17 anos.

Professores e alunos do Projeto Transformando Vidas