“É um momento muito grave, o mais grave pós segunda guerra mundial”, afirmou
Dia 29 de abril, o ex-governador e médico anestesiologista, Geraldo Alckmin (PSDB), concedeu uma entrevista aos locutores Ênio Fly e Paulo Sérgio Rodrigues, na companhia do ex-deputado federal, Silvio Torres. A programação foi transmitida em cadeia na Difusora e na rádio Cidade Livre.
Alckmin falou sobre a pandemia e as perspectivas políticas e econômicas do país.
Covid-19
“É um fato grave, porque não tem tratamento para vírus. Tem hoje uma boa possibilidade para zerar a viremia, reduzir a carga de vírus, o uso de hidroxicloroquina, com um antibiótico chamado azitromicina e sulfato de zinco. Hoje, esses medicamentos estão sendo recomendados até no início do tratamento. Depois que está instalado o processo inflamatório no pulmão, não adianta. Você vai zerar a viremia mas o processo inflamatório continua. Estão usando coagulantes tipo heparina para reduzir esses micro coágulos. O caminho é buscar a vacina, mas geralmente demora um ano, porque você precisa ter segurança para injetar um produto em uma pessoa. Segurança de que ela terá eficácia e de que não vai causar problemas. A vacina deve ocorrer no fim do ano”, explicou.
“As epidemias de coronavírus são frequentes. Em 2002 tivemos a SARS ( Síndromes Respiratórias Agudas), que foi um coronavírus, mas foi muito limitada a Ásia. Em 2012 nós tivemos outro coronavírus, que foi a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), limitada ao Oriente Médio. Agora o novo coronavírus, causou uma pandemia, tem uma alta transmissibilidade. O caminho é correr para o tratamento, hoje já existem vários protocolos de tratamento. Devemos também achatar a curva, evitar o contágio, evitar aglomerações. Quem puder deve ficar em casa, lavar as mãos, usar álcool em gel e máscara. Precisamos incorporar tudo isso em nossa cultura. O Covid-19 vai acabar, mas as pessoas que pegarem gripes e resfriados, devem usar máscaras, principalmente quem trabalha com saúde”, disse.
Consequências
“Por um lado temos a questão da saúde pública, que pegou o mundo todo, e de outro temos consequências sociais, pelo desemprego e perda de renda, além de consequências econômicas. A economia mundial estava crescendo 4% ao ano, e dever cair este ano em 4%. Teremos uma retração econômica. É um momento muito grave, o mais grave pós segunda guerra mundial e comparado a crise econômica de 1930”, contou.
Medidas restritivas
Segundo Alckmin, as medidas de restrição foram corretas, pois é preciso achatar a curva de contágio da doença. “Se todo mundo pegar a doença ao mesmo tempo, 40% não vai sentir nada, nem vai saber que pegou, 40% tem sintomas leves, moderados, de gripe, 20% pode ter um quadro mais grave e 5% precisar de UTI. Não podemos deixar todo mundo pegar ao mesmo tempo. Então as medidas de restrição foram corretas. O tempo de flexibilização não deve ser igual para o Brasil inteiro. Temos regiões com muita infestação, e outras com pouquíssimas, por isso não é igual. Eu defendo muito teste em massa, porque quando você faz bastante teste, você não anda no escuro, você tem uma informação importante para poder ir gradualmente liberando. Na Noruega por exemplo, eles começaram a liberar. As escolas voltaram, mas só para crianças pequenas, o resto está estudando em casa”, exemplificou.
“Nós devemos seguir a ciência, a orientação do ponto de vista epidemiológico”, ressaltou.
Crises
“Eu não vejo um antagonismo: ou é saúde ou economia. Acredito que há uma sinergia, elas se somam. Porque enquanto não resolver o problema da saúde pública, a economia não vai se recuperar. Precisamos resolver o problema da saúde pública o mais rápido possível e com menor número de mortes, salvando vidas, esse é o caminho”.
“Você tem três crises. Uma de saúde, uma social e outra econômica. A de saúde, precisamos seguir o isolamento, aqueles que precisarem sair, devem usar máscara, álcool em gel e criar distância, usar as janelas abertas, os procedimentos já indicados. Na parte social, foi importante esse auxílio de R$600,00, e para mães chefes de família, R$1.200,00. Isso vai ajudar muita gente. O que precisa acontecer é esse dinheiro sair rápido para poder atender as famílias. Do ponto de vista da economia, é crédito. Os EUA por exemplo, está investindo quase dois trilhões para crédito”, contou.
Agronegócio
“Nós temos uma vantagem que é o agronegócio. O Brasil é o grande celeiro do mundo, o grande produtor de café, de soja, milho, cana de açúcar, laranja, proteína animal, e o mundo precisa disso. Com o dólar a mais de R$5,00, as exportações disparam. Então teremos recorde de produção agrícola, o setor do agronegócio está em plena atividade, foi inaugurada uma grande indústria de processamento de carnes em Santa Catarina. O agronegócio vai ajudar, porque ele gera emprego não só na zona rural, mas também nas cidades”, informou.
“Tem um setor que preocupa muito, que é o do álcool. Temos a cana de açúcar, São Paulo é o maior produtor de cana de açúcar do mundo, só nessa área tem dois milhões de empregos. Isso preocupa muito porque tem duas crises, a do consumo, que caiu 50% do consumo de combustível, e a crise do petróleo, que desabou o preço do petróleo. É um setor que precisa ter uma ação rápida dos governos, para preservar esses dois milhões de empregos”.
Crise política
“Estamos enfrentando uma crise política muito grave, de difícil solução em um momento que não poderíamos ter. Acho que foi um desserviço a substituição do Mandetta, embora o Nelson Teich, que não conheço pessoalmente, seja muito elogiado tanto do ponto de vista médico, como de gestão. A substituição de ministros fez gerar uma crise política. Acho que deveríamos pensar menos na questão política e nos concentrarmos na crise, que não será rápida. Mesmo que passe, vai demorar para nos recuperarmos. As pessoas estão traumatizadas, quando passar o isolamento, o consumo não vai voltar em 24 horas, as pessoas estão com medo de perder o emprego”, destacou.